O café central teve o seu tempo. Hoje o café central de qualquer terra já não tem nada que ver com o café central que possa ter existido antes do 25 de Abril. E é preciso ter atenção à sempre abusiva generalização. Houve cafés centrais que funcionaram como locais de reunião de pessoas que discutiam assuntos importantes. Pessoas que, aproveitando um tempo em que não havia televisão, trocavam ideias sobre os mais variados assuntos, fossem literários, políticos ou outros. Houve cafés centrais onde apenas se tratava de assuntos de má-língua e de alcova. Essa ideia romântica dos cafés centrais como locais de conspiração contra o regime deve ser desmistificada. Quem queria conspirar “a sério” contra o regime não escolhia locais públicos. Basta ter bom senso para perceber isso.Não sou nostálgico nem gosto de efabular sobre o antes e o depois do 25 de Abril. Cada tempo é um tempo e o outro tempo, o tempo das tertúlias que tantos exaltam, não me entusiasma. Não basta desligar a televisão para começarem a fluir belas e originais ideias. A intelectualidade portuguesa foi sempre pobre. Os melhores sempre foram apagados pelos menores ou tiveram que emigrar. Nos cafés centrais discutia-se mais a maneira de lixar quem poderia fazer sombra a alguém. Locais machistas onde muitas vezes as ideias eram parcas e porcas. Mesmo em Lisboa, Porto e Coimbra onde surgiram novas correntes artísticas e políticas nem sempre as conversas eram elevadas. Basta ver que os grandes movimentos que aí germinaram se contam pelos dedos de uma mão apesar do tempo real ser de décadas. Foi no Café Central de Santarém que o capitão Salgueiro Maia discutiu o golpe do 25 de Abril? Foi no Café Central de Vila Franca de Xira que Alves Redol criou o neo-realismo ou António Dias Lourenço organizou a classe operária da região? Francisco Manuel Lopes Carriço