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Agricultura familiar luta contra os custos e um mercado dominado pela grande produção

Agricultura familiar luta contra os custos e um mercado dominado pela grande produção

Produtor de Benfica do Ribatejo explora os pequenos bocados de terra que herdou dos pais
Aos 61 anos, Manuel Correia Marques não esconde a desilusão. Agricultor desde que se lembra, explora os pequenos bocados de terra que herdou dos pais e as parcelas que arrenda, nos campos de Benfica do Ribatejo (Almeirim), para produzir brócolos, pimentos, curgetes e algum melão. “Faço à volta de três hectares de terra e vou andando com isto, só com a prata da casa e a família, que às vezes vem dar uma ajuda”, disse à agência Lusa. Parte da produção está garantida nos contratos que faz com agro-indústrias da região, como a Bonduelle (Santarém) ou a Monliz (Alpiarça). Outra parte vai na sua carrinha até ao Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), onde paga cerca de 25 euros/dia pela banca e um “imposto” de cerca de 350 euros de seis em seis meses. Mas este mercado enorme “está às moscas”, porque o pequeno comércio retalhista sucumbiu às grandes superfícies.“Há mais pessoas a vender que a comprar”, disse, confessando que procura levar, à partida, o produto já vendido para clientes certos, que procuram nele a garantia de qualidade de quem vende o que produz. Assegura que já há lá “muito produto estrangeiro”, que “fecham os olhos” porque o mercado tem que estar ocupado.Manuel Marques faz as contas para a Lusa: a seara de curgete, com um hectare, custa-lhe, à partida, à volta de 3.000 euros, “só em mão de obra” e, no final, se der 50 toneladas vai render 1.500 a 2.000 euros, e há ainda o adubo, a água, o arrendamento e, sublinha, a Segurança Social. “250 euros por mês pelo casal? Não digo que não se pagasse, mas para a agricultura familiar é dinheiro de mais”, desabafou.Num ano como este “as despesas estão feitas e o ano a correr mal, malíssimo”, disse, apontando a parcela que não tem conseguido lavrar por estar alagada em água. “Penso que vai ser um ano de 88, ruim mesmo”. 1988 foi o “ano da calamidade”, em que muitos agricultores “ficaram arrasados” e “este ano não será melhor”.Manuel Marques chegou a fazer 20 hectares de tomate, cultura que abandonou quando deixou de ser apoiada (voltou depois a ter apoios, que terminam em 2012). “Se não fossem os subsídios, estava também arrasada”, disse.“Os Governos, todos eles, nunca se preocuparam muito com a agricultura. Tem sido uma actividade desprezada. Não tem sido vista com olhos de ver, uma vez que o que a gente produz não chega para aquilo que a gente consome e nenhum Governo tem olhado para isso”, rematou.Porque continua então? “Tenho 61 anos, ninguém me vai dar trabalho. Senão já tinha largado porque a despesa é muito grande e os lucros são poucos. Não há opção senão chegar até ao fim”. É por isso que não se importa que a filha mais nova não lhe tenha seguido os passos. “Trabalha numa creche. Fugiu à agricultura e fez bem”.
Agricultura familiar luta contra os custos e um mercado dominado pela grande produção

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