Ganhar a vida a vender o que os outros já não querem
Carla Custódio começou a fazer negócio nas feiras e hoje tem uma loja em Vila Franca
Em Vila Franca de Xira há uma loja que vende produtos e artigos que outras pessoas já não querem ter em casa. Carla Custódio começou a fazer fotocomposição na empresa de artes gráficas da família, mas cedo descobriu que é a vender que se sente bem.
De vendedora na feira da ladra em Lisboa a técnica de fotocomposição na empresa de artes gráficas da família, Carla Custódio fez de tudo um pouco na sua vida profissional. Esta mulher, natural de Lisboa, decidiu assentar arraiais em Vila Franca de Xira e abrir uma loja a vender artigos em segunda mão.Com 37 anos confessa que gostava de ter sido veterinária, para poder tratar de animais, especialmente cães, gatos e pássaros. Mas a vida pregou-lhe uma partida e foi nas vendas que acabou por encontrar o seu ganha-pão.“A minha mãe sempre vendeu em feiras, especialmente na feira da ladra e eu desde muito nova, há uns 12 ou 13 anos, comecei a ir com ela para vender qualquer coisita. A partir dessa altura comecei a entrar no negócio, a vender livros que comprava usados a pessoas que já não os queriam”, conta Carla Custódio a O MIRANTE.A juventude passou depressa “mas passou bem”, ressalva. Guarda boas memórias da passagem pela Escola Secundária Gil Vicente em Lisboa, próxima do local onde a mãe era vendedora na feira. Com quase 20 anos abandonou os estudos porque não tinha tempo disponível. “Fartei-me da escola porque tinha muita coisa para fazer ao mesmo tempo, estudava, trabalhava, estava a tirar a carta de condução, tinha aulas de danças de salão e a dada altura chegou a um ponto em que estava saturada, passei a dedicar-me só ao trabalho”, recorda. Carla começou a trabalhar na empresa do pai na área das artes gráficas. Começou com fotocomposição e apaixonou-se pela informática, “que na altura era uma tecnologia bombástica”. O acabamento gráfico dos livros é algo que ainda hoje a fascina. “O trabalhar com o livro levou-me a vender livros usados, feitos à moda antiga, foi um gosto e um fascínio que nunca mais acabou”, conta.Há cerca de um ano problemas de saúde ligados ao stress da profissão levaram-na a desistir para abrandar o ritmo. “Foi-me aconselhado uma vida mais calma, com menos stress, porque na firma eu era responsável por quase tudo, era chefe, afinadora de máquinas e de tudo um pouco. Como sempre estive ligada à venda de feira, acabei por pensar em abrir uma loja a vender artigos usados”, explica.O seu primeiro grande negócio nos artigos usados surgiu há cerca de quatro anos. Comprou - sem ver - o recheio de um quarto de criança que mais tarde acabaria por vender. “Arrisquei e fechei o negócio. Foi o início. Desde essa altura que tenho comprado muitos brinquedos e miniaturas para vender. Mas também colecciono muitas”, confessa. A venda na feira tornou-se um part-time para Carla Custódio e quando a saúde falou mais alto lembrou-se de parar e começar a fazer a tempo inteiro aquilo que lhe dava mais gozo: vender.“Como moro aqui no concelho de Vila Franca e a cidade fica perto da minha casa, como o meu filho também anda na escola aqui no concelho decidi abrir a loja aqui em Vila Franca”, explica. “Não é que seja um grande negócio neste momento”, adverte. A maioria dos seus clientes não mora no concelho. “As tecnologias são uma grande ajuda, é pela internet que trago a maioria dos meus clientes. Aqui em Vila Franca nota-se que o comércio está muito fraco. Já se nota em muito lado mas aqui nota-se bastante”, lamenta.Carla Custódio lamenta que a compra de artigos em segunda mão não seja ainda uma compra popular. “As pessoas preferem comprar novo”, avança. Contudo, com o agravar da crise, Carla garante que o cenário se vai inverter. “As pessoas vão ter de voltar a comprar usado, não se trata de não querer, vai ser uma obrigação. Muita gente vai perder a vergonha. Há uma diferença entre um artigo usado, uma velharia e um pedaço de lixo”, explica.Carla garante que chegou a pensar abrir uma loja de produtos para animais no concelho mas que a burocracia envolvida a demoveu. “Os tempos que correm são muito complicados e as pessoas têm de se empenhar para aproveitar o que lhes aparece à frente. As pessoas só não têm trabalho se não quiserem, porque há muita oferta de emprego, muitas vezes quem está desempregado é que não se quer sujeitar a trabalhar aos fim-de-semana, por exemplo. Eu trabalho de segunda a domingo e não me preocupo com isso”, critica.
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