Revisitar a poesia de José do Carmo Francisco em “Mansões Abandonadas”
Está um peixe de barbicha na capa de “Mansões Abandonadas”, dois outros da mesma família nadam na contracapa. O livro reúne poemas de José do Carmo Francisco e atravessou o Atlântico. Veio do Brasil, editado pela editora “Escrituras”, de S. Paulo. Dentro tem poemas de muitos livros do autor, publicados em tempos diferentes. Chegou à redacção de O MIRANTE pela mão do próprio que aqui foi jornalista e ainda é amigo. Fala-se das ilustrações de Sérgio Lucena, porque a imagem que já valeu mais que mil palavras, valorizou-se muito mais, como reconhece o poeta numa entrevista de 1999, que é reeditada depois dos poemas, feita por Ruy Ventura. “A nossa vida está perigosamente muito voltada para o virtual, não para as coisas mas para as imagens das coisas. Basta dizer-se, por exemplo, que ainda há pouco tempo uma noiva se recusava a casar porque o fotógrafo tinha faltado. Para ela o importante não era casar, era ter fotografias do casamento. Isto é verdade, aconteceu”José do Carmo Francisco nasceu em 1951 nas Caldas da Rainha. Aí viveu, em Santa Catarina, até aos 5 anos. Depois esteve cinco anos no Montijo e mais cinco em Vila Franca de Xira. Aos 15 anos chegou a Lisboa com um sabor a campo enraizado para sempre na sua memória. “Ninguém pode viver sem uma aldeia/Todos nós temos que ter uma avó”, escreve no poema “Fala de um sábio chinês a um homem triste”.No prólogo de Mansões Abandonadas”, escreve Nicolau Saião: “Nostalgia, amor ao pequeno facto que, todavia, tem a força de um universo próprio, um humor magoado que se transfigura e que nos dá, por extenso ainda que sobriamente, uma grande e bela indignação ante as injustiças da sociedade, fidelidade à infância e aos seres que a preencheram. Ligação ao sinal próprio do homem, patente em retratos de figuras tutelares e, finalmente, a discrição e a serena mágoa que são frequentemente o prólogo da mais justa alegria não conspurcada por valores discriminatórios. Eis o que consigo ver na poesia tão simples, tão bela e simultaneamente tão arrojada de José do Carmo Francisco”.
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