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“O executivo da Junta de Freguesia de Alverca não pode ser autista”

“O executivo da Junta de Freguesia de Alverca não pode ser autista”

Maria do Carmo Dias, professora, eleita pelo Bloco de Esquerda na assembleia de freguesia da cidade

Maria do Carmo Dias, professora, é eleita pelo Bloco de Esquerda na Assembleia de Freguesia de Alverca, onde reside, e tem um olhar crítico sobre a governação do PS na cidade. Considera que a população e as outras forças políticas não são ouvidas. O executivo da junta não pode, na sua opinião, ser subserviente à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Depois de muita luta conseguiu implementar o orçamento participativo na freguesia. Tem pena que os munícipes não participem tanto na vida da cidade. Defende que se coloque um travão no betão e no alcatrão. A petição que defende a construção da variante em Alverca não conta com a sua assinatura. Não gostou da forma como o processo foi gerido e acha que esta não é a solução para os problemas de trânsito na cidade.

Eduarda SousaEm muitas sessões da Assembleia de Freguesia de Alverca tem chamado a atenção para os problemas das zonas mais afastadas do centro da cidade. Esses locais estão a ser desprezados?Basta ter os olhos bem abertos para reparar no que se passa em redor. Em A-dos-Melros ou no Casal das Areias os passeios estão cobertos de ervas há imenso tempo. Já levei o problema a uma assembleia de freguesia e a resposta do presidente da junta foi a de que tivemos um Inverno muito atípico. Se assim foi, então a manutenção teria de ser mais frequente. Também recebemos a indicação de que a recolha de lixo é feita mais espaçadamente. As pessoas que vivem afastadas do centro de Alverca podem valer menos votos, mas não deixam de ser munícipes como os restantes e merecem ser tratados da mesma maneira. O orçamento participativo foi uma proposta do Bloco de Esquerda que recebeu na altura os votos negativos do PS. Este ano o presidente da junta não se cansou de dizer que era a única freguesia do concelho a implementar o orçamento participativo. Os louros estão a ser colhidos por quem não deveria?O executivo da junta nunca disse que tinha sido o autor da iniciativa, mas também deixou que as pessoas pensassem que a proposta tinha partido deles. A proposta foi aprovada em 2009 com os votos a favor do BE, da CDU e da Coligação Novo Rumo. A bancada do PS votou contra porque considerava que o orçamento era tão pequeno que não se justificava esta medida. Hoje gabam-se de ser a única freguesia do concelho e uma das poucas do país a ter orçamento participativo. Mesmo assim a batalha não ficou por aqui e tive de continuar a fazer pressão para que o orçamento de 2011 contemplasse a verba para o projecto. Numa cidade de quase 30 mil habitantes receber 28 propostas não soube a pouco?Eu até só considero que recebemos 17 propostas. Tudo me leva a crer que as restantes foram entregues fora do prazo definido sem qualquer consentimento por parte dos elementos da comissão criada. Também não concordei com a escolha das propostas vencedoras. Deveríamos escolher projectos que por regra não são da competência da junta. Arranjar um passeio é algo que já compete ao executivo. Tínhamos as propostas de criar uma loja social ou uma universidade sénior que gostaria de desenvolver. Não achei a participação má para o primeiro ano porque acabámos por realizar tudo a correr.Mesmo com os prazos dilatados acha que iria receber mais participações? Basta reparar nas assembleias de freguesia que contam com intervenções de poucos munícipes. A fraca afluência dos Alverquenses tem muito que ver com o dia e o horário. Marcam assembleias para uma quinta à noite quando as pessoas têm de ir trabalhar no dia seguinte. A divulgação também é escassa, muitos munícipes não sabem quando vai acontecer uma assembleia. As pessoas não se sentem muito participantes porque também não são solicitadas. Se acharem que os problemas que apresentam caem em saco roto vão-se demitindo de participar. O presidente da junta não está disponível para ouvir?Existem sempre desculpas dos planos prévios, dos orçamentos limitados ou mesmo do extravasar das competências da junta. É da competência e da responsabilidade do executivo municipal fazer pressão sobre os responsáveis para ajudar a resolver os problemas dos munícipes. E também tem que ouvir a população e as outras forças partidárias. O executivo da junta não pode ser autista.Há quem diga que o Afonso Costa está acomodado.Eu também acho que é verdade. O presidente tem de perder a atitude de achar que as pessoas que têm opiniões diferentes o querem acusar. Sempre que chamo a atenção para certos problemas não faço qualquer acusação pessoal ou mesmo partidária, estou concentrada nos problemas dos Alverquenses. Quando as pessoas sentem uma crítica como uma ofensa então é porque têm pouca segurança em relação ao que estão a fazer. Infelizmente existem poucas coisas de que se consiga dizer bem. Não quero chamar de modo nenhum “incompetentes” aos membros do executivo porque acredito que existe boa vontade, mas só isso não chega. É preciso mais tenacidade, garra e recusar a subserviência à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, mesmo sendo da mesma cor partidária.O que fazer para não deixar que Alverca continue a ser um dormitório?Parece ser aquilo a que a cidade está destinada. Não existem empregos e o comércio tradicional é pouco apoiado. Precisávamos de ter um espaço cultural, onde se projectassem filmes e se promovessem encontros com escritores. Já deveríamos ter uma Loja do Cidadão porque o número actual de habitantes o justifica. Não nos podemos comportar como uma freguesia pequena. O comportamento de uma Junta de Freguesia de Alverca tem quase de ser equiparado ao comportamento de uma câmara. Tem de lutar por serviços que não levem as pessoas a deslocarem-se a Vila Franca ou a Lisboa e perderem um dia de trabalho.Mas tudo isso custa dinheiro…Eu sei que o dinheiro não cai do céu, mas chegou a altura de invertermos as prioridades. Temos de parar com o alcatrão e o betão e passar a investir noutras áreas. A participação das pessoas virá por acréscimo. Maria da Luz Rosinha está quase de saída. Quem é que acha que vai ser o próximo presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira?Era bom que a tendência virasse mais à esquerda, não com maioria porque eu acho que são perigosas. Não estou a ver ninguém do PS que possa vir a ser um substituto da Maria da Luz Rosinha. Do lado direito também não estou a ver um futuro presidente da câmara, felizmente (risos). A minha escolha recairia no Carlos Patrão ou na Maria José Vitorino [Bloco de Esquerda]. As pessoas não se sentem muito participantes porque também não são solicitadas. Se acharem que os problemas que apresentam caem em saco roto vão-se demitindo de participar“A variante de Alverca não resolveria o problema do trânsito”O presidente da Assembleia de Freguesia de Alverca, António Vargas [Coligação Novo Rumo], disse numa entrevista recente que as forças políticas de Alverca não têm mostrado interesse pela recolha de assinaturas para a construção da variante de Alverca. O Bloco de Esquerda assume as suas culpas? Eu própria não assinei a petição por isso também não vou mobilizar ninguém. Mesmo antes da proposta da petição ser apresentada na assembleia e posta à votação já estava a circular. Não é a primeira vez que o executivo da junta apresenta uma proposta como um facto já consumado. Mesmo ultrapassando estas questões acho que a variante não vem resolver o problema de trânsito em Alverca. A circular vai desembocar na estrada nacional e o problema manter-se-á. Depois teria de passar por terrenos da Força Aérea Portuguesa e já lá existe uma pista para aterragem de aviões. É preciso garantir a segurança.Qual é então a solução para o problema de trânsito?A auto-estrada é um meio excelente de variante. Poderia ser desafectada como auto-estrada até Vila Franca para que pudesse ser atravessada por veículos que não se destinam a Alverca. Deveriam ser criados nós nos Caniços e no Sobralinho. Depois deveria ser proibido o trânsito a veículos pesados na Estrada Nacional 10, excepto para os que se dirigissem a armazéns em Alverca. E depois temos de apostar nos transportes públicos de qualidade. Os autocarros e os comboios precisam de ter horários sintonizados.Vai de transporte público para o trabalho?Não, precisamente porque não tenho muitos autocarros com frequência a ir para Arcena. Costumo partilhar o carro com uma colega de trabalho. Sempre que vou para fora de Alverca tento usar o comboio.A minhota que chegou à política através da rádioMaria do Carmo Dias nasceu no dia 23 de Novembro de 1962. Os pais, de Vieira do Minho, mudaram-se para o Gerês, onde viveu durante os primeiros quatro anos de vida com os nove irmãos. Por ser a mais nova era a menina dos mimos. Tantos que chegava a ficar saturada e tinha de fugir dos irmãos. Foi no meio da natureza, entre muitas brincadeiras ao ar livre, que cresceu. O pai concorreu a um novo emprego na Direcção Geral dos Serviços Florestais de Lisboa e mudou-se com a família para Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira. Tinha seis anos quando teve de voltar a fazer as malas para regressar ao Norte, a Ponte de Lima, onde permaneceu até aos 17 anos. Seguiu-se o curso do magistério primário em Braga. Mais tarde tirou um curso especializado em educação especial na Universidade do Minho para ter equivalência a uma licenciatura. Depois de dar aulas como professora em Braga e Vieira do Minho resolveu mudar-se para Alverca em 2002, onde já tem família a morar há mais de 30 anos. Neste momento dá aulas no primeiro ciclo do ensino básico na EB1 de Arcena. Da experiência profissional destaca o período em que leccionou na Escola Portuguesa de São Tomé em São Tomé e Príncipe. “Só me vim embora porque estive quase a morrer com malária senão tinha lá continuado mais uns anos”.Em 1986 um amigo chamou-a para uma rádio local de Vieira do Minho e Maria do Carmo Dias aceitou o desafio. Foi radialista até 2002, com algumas interrupções pelo meio, e foram as entrevistas que realizou com políticos que despertaram o bichinho pela política. Em 2002 foi convidada para candidata como cabeça de lista à Assembleia Municipal de Vieira do Minho pelo Bloco de Esquerda. Não ganhou, mas a experiência marcou-a. Hoje divide o tempo entre o cargo de eleita do Bloco de Esquerda em Alverca, o ensino e o doutoramento que está a tirar em Évora em psicologia da educação. O tempo livre é muito pouco, mas quando aparece é para ler, ouvir música ou andar a pé. Tem outras duas grandes paixões, o bailado e o teatro.
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