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Os homens a cavalo e os trajes com tradição que desfilam na Festa da Amizade

No dia 25 de Junho pode integrar o cortejo quem aparecer trajado a rigor em Benavente

Seja com colete encarnado ou com abotoaduras douradas de família, campinos e cavaleiros vão voltar a perfilar-se em Benavente para seguir em direcção ao Largo do Calvário, no dia 25 de Junho. Na Festa da Amizade integra o desfile quem vier por bem e, já agora, quem estiver trajado a rigor.

Ricardo Oliveira já perdeu a conta às vezes que envergou o colete encarnado, ligeiramente desbotado pelo sol, no tradicional desfile da Festa da Amizade/ Sardinha Assada de Benavente. O tractorista, que trabalha para a Associação dos Beneficiários da Lezíria Grande, veste o traje de campino desde os dez anos, altura em que começou a guardar gado para ajudar a mãe, trabalhadora do campo, a criar os dois irmãos.Trajou-se pela primeira vez de campino quando trabalhava na Quinta da Foz em Benavente. Também passou pela Herdade da Adema. Desfila, imponente, trajado de campino, na égua “Maria” cedida pela Casa Prudêncio Silva Santos, no Porto Alto, onde agora colabora. Sente-se a perpetuar as tradições dos homens de colete encarnado. Mais do que isso: sente-se um deles. O traje - camisa branca, colete, jaqueta, barrete, meia branca e sapatos - foi comprado em Vila Franca de Xira na Casa Sónia. Tudo por 400 euros. Um investimento para alimentar a alma. Já teve três ou quatro ao longo da vida. Tem 29 anos e só por duas vezes integrou o desfile como cavaleiro. Não se vestiu à campino porque andou desligado das lides de vacas e toiros e quis ser fiel às suas convicções. O fato à portuguesa, camisa branca, colete e a jaqueta, calça de cós alto e chapéu de aba larga, comprou-o numa loja de Elvas e custou-lhe 500 euros. Vestiu-o os dois anos seguidos com ligeiros arranjos. Também há quem compre fato de cavaleiro e peça um cavalo emprestado para desfilar uma vez por ano e o capricho fica dispendioso.A paixão pelos toiros e cavalos leva regularmente Ricardo Oliveira à Casa Prudêncio onde está por influência do amigo e maioral Lúcio Perinhas. Chega a ajudar a transportar cabrestos em altura de corridas de toiros. Não recebe dinheiro pelo trabalho que faz. O mesmo acontece com cada participação na festa de Benavente. “Assim se vê quem corre por gosto sem precisar de ter nada em troca”, desabafa. Mesmo assim o desfile chega a juntar 200 cavaleiros, campinos e outros elementos trajados e à procura de convívio.É esse ingrediente que leva todos os anos Diogo Serrão, 56 anos, criador de cavalos, a Benavente. Percorre outras festas do Ribatejo com as montadas da Quinta da Charnequinha, na Torre do Bispo (São Vicente do Paúl - Santarém), onde reside, mas a participação na Festa da Amizade tem um gosto especial.A vila ribatejana abre as portas no desfile de sábado, 25 de Junho, em direcção ao Largo do Calvário, a quem vier devidamente trajado. Diogo Serrão assim fará, tal como manda a tradição. “Ou se vai bem trajado ou mais vale aparecer à civil”, desvenda. Esta é uma regra de ouro para o cavaleiro. Aparecerá por isso na sua jaleca clara, para afastar o calor, se o tempo estiver de feição. O colarinho da camisa, que já vai para 20 anos, será unido com quatro abotoaduras douradas (mais duas em baixo) que herdou do pai, professor de equitação. As calças, também com duas décadas, estarão perfeitamente engomadas. Se o tempo torcer o nariz, o cavaleiro amador, amante das tradições ligadas à festa, vestirá a jaleca de abafo azul apesar de avisado pela esposa de que a peça de roupa, de tão gasta, não resistirá a outra limpeza. É uma relíquia que usa desde os 16 anos. O tempo passou mas não pelo físico do criador de cavalos que mantém o corpo dos seus tempos de juventude. As botas serão as velhinhas castanhas mas mesmo assim de se lhe tirar o chapéu. Os cavalos e éguas, como a “Uva”, que trouxe à feira da agricultura, levantam poeira a que não conseguem escapar os cavaleiros mais rápidos. Ainda assim as piores nódoas costumam cair nas alvas meias dos campinos, a que se seguem as pragas rogadas pelas mulheres dos homens de colete encarnado, a quem cabe normalmente a árdua tarefa de as lavar a tempo do próximo desfile.

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