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Dar seguimento à tradição atrás do balcão da Casa Brincheiro

Dar seguimento à tradição atrás do balcão da Casa Brincheiro

Paulo Lambéria começou a trabalhar aos 11 anos na loja que o pai geria com uma sócia para ocupar o tempo das férias grandes da escola

No estabelecimento faz um pouco de tudo. Procura e vende todo o tipo de artigos, faz as contas, recebe e vai buscar encomendas e até serve de modelo das peças que vende.

Dez e meia da manhã e os clientes vão entrando com bastante frequência na Casa Brincheiro, situada ao fundo da rua Batalhoz, no Cartaxo, no local de maior movimento comercial da cidade, à beira dos Paços do Concelho. Os clientes não, as clientes, já que das cerca de 15 pessoas que entraram na loja no espaço de 45 minutos, só um era homem e para tratar de outros assuntos que não comprar botões ou carrinhos de linhas. Apesar de haver à venda calças, camisas, casacos e blusões e roupa interior para homem. A Casa Brincheiro é uma das referências do comércio tradicional da cidade e não esconde a sua aparência de retrosaria e de venda de tecidos e fazendas. O interior da loja não engana. Em cerca de 20 metros quadrados está amontoada uma imensidão de objectos e artigos.Quem entra vê à esquerda os emblemas para trajes académicos de estudantes e algumas amostras de trajes de folclore, uma inovação que se tornou um sucesso na loja. Duas bancadas de madeira colocadas em forma de “L” servem para atender os clientes, enquanto debaixo há caixas com camisas. As paredes da loja estão forradas com prateleiras até ao tecto. De um lado têm mais tecidos variados, do outro novelos de linha e lã, caixas com roupas diversas. Um varão acompanha no alto a curva da parede com dezenas de calças e blusões pendurados em cabides que se retiram com uma vara bifurcada na ponta. Não faltam ainda almofadas, chapéus, carrinhos de linhas, botões, um sem número de artigos que se repetem aos milhares nas traseiras da loja.Paulo Lambéria é sócio-gerente da loja em conjunto com o pai, Joaquim Lambéria, mais conhecido como Joaquim Brincheiro. Há cerca de seis anos comprou parte da sociedade e ficaram donos exclusivos do negócio. Foi aos 11 anos que ali começou a trabalhar como marçano e de onde nunca mais saiu profissionalmente. Começou por fazer recados, tratar de encomendas, arrumar os lotes ou limpar a casa. Nas férias grandes ir para a loja era fatal como o destino. “Era muito chato para mim, os meus amigos ficavam a jogar à bola, ao peão e ao berlinde e eu tinha de vir para a loja”, recorda com um sorriso Paulo Lambéria.O agora sócio-gerente da loja estudou até ao 12.º ano mas não quis continuar os estudos. Foi para a tropa nas Caldas da Rainha e integrou o curso de sargentos mas, dois anos passados, a necessidade de vir ajudar o pai na loja falou mais alto do que o que poderia ter sido uma carreira militar no Exército. Paulo Lambéria confessa que nunca teve grandes horizontes ou sonhos de exercer uma profissão e foi com naturalidade que se foi integrando no negócio até ser gerente comercial com sociedade.No estabelecimento faz um pouco de tudo. Procura e vende todo o tipo de artigos, faz as contas, recebe e vai buscar encomendas e até serve de modelo das peças que vende. Aconteceu com uma cliente na manhã de segunda-feira que lhe pediu para envergar o roupão que teve como destino o seu marido.Paulo Lambéria começa a trabalhar às nove da manhã e sai geralmente por volta das 19h30. Na loja vende-se um pouco de tudo mas mais linhas, fechos, forros e botões. Grande sucesso fez a venda de trajes folclóricos e etnográficos. “Os elementos dos ranchos folclóricos dizem-nos o que pretendem em termos de modelo, cores e materiais que nós encomendamos a costureiras, alfaiates ou em fábricas”. Boa parte dos nossos clientes pertence às comunidades portuguesas radicadas no estrangeiro que criam aí os seus agrupamentos. Sucesso para o qual muito ajuda o site da casa em www.casabrincheiro.com.pt, que dispõe de imagens dos trajes femininos e masculinos para as muitas e diferenciadas ocasiões. O sócio-gerente mais novo da Casa Brincheiro diz que há episódios todos os dias mas os mais engraçados passam-se com alguns clientes que vêm das zonas mais remotas do concelho e que ainda pensam encontrar a antiga mercearia de bairro de há 70 anos. Pedem arroz, pedem açúcar, mas são encaminhados para o vizinho da frente. Não tem comida mas a loja já foi talho com paredes de azulejo hoje tapadas pelas prateleiras.
Dar seguimento à tradição atrás do balcão da Casa Brincheiro

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