José Canelo conquistou quatro medalhas de ouro no Mundial de Veteranos de atletismo
Aos 86 anos o “jovem” atleta do Entroncamento garante que vai continuar a competir e a trazer medalhas para Portugal
José Canelo foi o atleta português mais medalhado nos Campeonatos Mundiais de Veteranos que se disputaram de 6 a 17 de Junho, em Sacramento, Califórnia, Estados Unidos da América. Aos 86 anos o atleta do Entroncamento contribuíu com quatro medalhas de ouro para o pecúlio de 19 medalhas alcançadas pela representação e para o 9º lugar colectivo de Portugal.
“Sinto-me cada vez mais jovem!...”, foi assim que José Canelo manifestou a O MIRANTE a sua incontida alegria por ter representado Portugal ao mais alto nível na modalidade que abraçou o atletismo. “Senti-me bem comigo e acredito que contribuí com grande vontade para a dignificação dos atletas veteranos de Portugal”, desabafou o atleta.“Foi uma aventura cansativa, a viagem foi desgastante, seis horas de viagem até Filadélfia e depois mais cinco horas de avião até Sacramento, foi a parte mais difícil da aventura, porque correr é feito com gosto, e quem corre por gosto não cansa”, diz com simpatia José Canelo.José Canelo está a recuperar forças junto da família no Algarve e às vezes fica a contemplar as medalhas que trouxe da Califórnia. Califórnia que nos faz lembrar os filmes antigos de “cowbois”, e que o atleta diz ser um mundo à parte. “É tudo muito grande, muito confuso e também excitante, das poucas vezes que saíamos, geralmente para almoçar ou jantar, não era raro ficarmos a olhar para o formigueiro humano que circulava à nossa volta”, diz enlevado.Desta vez já não teve que lavar todos os dias o equipamento no lavatório da casa de banho do hotel. “Já tive direito a mais um pack de equipamentos e como as provas tiveram alguns dias de intervalo só tive que lavar a roupa duas vezes. O pior foram as viagens para os locais das provas, estávamos sempre com o coração nas mãos a pensar que não chegávamos a tempo. Era tudo muito confuso”, diz José Canelo numa pequena crítica à organização, que na sua opinião ficou muito àquem das organizações que encontrou nas provas que anteriormente disputou na Hungria e na Bélgica.O alojamento foi num hotel de luxo. “Tinha tudo o que precisávamos, no que diz respeito ao descanso nada nos incomodava. Para treinarmos tínhamos espaço para treinar e descontrair e uma piscina excepcional para podermos descontrair ou fazer treino. O pior foi a alimentação, é tudo comida de plástico, mas lá nos fomos desenrascando”, diz o atleta.Duas situações marcaram esta deslocação de José Canelo que ele diz não mais esquecer. “O convite que me foi feito através da ANAV - Associação Nacional de Atletas Veteranos para estar presente na reunião da Comissão Europeia de Atletismo Veterano que se realizou em Sacramento durante os campeonatos, onde fui apresentado como exemplo do atletismo veterano e fui distinguido com os elogios dos dirigentes de todo o mundo, foi vibrante e inesquecível”, garante.Depois foi a recepção que teve no Aeroporto da Portela. “Sabia que não iria lá estar a comunicação social, mas a delegação do meu clube, o CLAC - Clube de Lazer Aventura e Competição, e a minha família e amigos e a entrega de um ramo de flores por parte de uma jovem atleta fizeram-me vir as lágrimas aos olhos. Lágrimas de alegria, por sentir o respeito e o carinho que aquelas pessoas têm por mim”, disse emocionado José Canelo.Nesta altura José Canelo só pensa no descanso. “Não tenho ainda definidos objectivos para o futuro. De certeza que irei fazer uma prova, talvez aquela que se vai disputar em três países vizinhos, Alemanha, Polónia e República Checa, as viagens para as provas serão feitas de autocarro e aí terei mais possibilidades de conhecer algumas coisas desses países”.“Bufem mas não me conseguirão apanhar”As alegrias das vitórias começaram logo na primeira prova em que participou, dia 6 de Junho. Uma prova de corta mato de oito mil metros. Era um trajecto difícil com três voltas a um percurso que tinha uma subida e uma descida bastante acentuada. Mas José Canelo não se intimidou com isso.“Levantei-me bem disposto, talvez um pouquinho enervado, principalmente quando me sujeitei a todas as inspecções para avaliar as condições para disputar a prova, mas depois veio a corrida e tudo passou. Concentrei-me e disse para mim próprio que todos aqueles companheiros que iam correr comigo não me metiam medo”, disse José Canelo com graça.Depois foi ir para o percurso e correr. “Correr com ganas. Vim logo para a frente, meti o meu passo e reparei que só os dois americanos me seguiam de mais perto. Houve uma altura em que eles se aproximaram um pouco, reagi, cerrei os dentes, aumentei o andamento e fui dizendo para mim próprio ‘andem, bufem, mas de certeza que não me vão conseguir apanhar e vencer’. É claro que eles foram ficando para trás e eu cheguei isolado à meta com grande vantagem, conquistando logo a primeira medalha de ouro. È pá! A alegria foi enorme, o coração parece que não me cabia no peito”, contou José Canelo.No dia 9, na prova de cinco mil metros foi uma vitória fácil. Nos 10 mil metros disputados no dia 11, José Canelo confessa que se sentia um pouco cansado, mas a vontade era enorme e partiu com ganas, viu os adversários irem ficando para trás e embora tivesse feito grande parte do percurso isolado acabou por bater o seu recorde pessoal em quase dois minutos.Adversários desistiram com medoNa última prova os 1500 metros disputados no dia 16, José Canelo já começava a pensar na viagem de regresso. “Mas é uma realidade, quando entro na pista esqueço tudo, só penso em vencer”. Foi com essa disposição que se preparou para discutir a prova com os sete adversários que estavam inscritos.A surpresa chegou quando já no estádio e os fiscais se acercaram dele para ver se estava tudo em ordem no equipamento, lhe disseram que ia correr sozinho. “Os meus adversários alegaram cansaço e desistiram. Mas eu sei que eles estavam era cheios de medo de eu lhes dar um capote e deixá-los a alguma volta de atraso”, disse com graça.José Canelo fez então uma prova em contra relógio. “Foi mais uma consagração. Nas bancadas os espectadores aplaudiam-me e gritavam o meu nome e Portugal. Foi emocionante. Eu acenava aos incentivos e com isso acabei por fazer um tempo muito abaixo das minhas possibilidades”, disse o atleta.
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