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O comerciante de pneus que não gosta de ver o comércio local a definhar

O comerciante de pneus que não gosta de ver o comércio local a definhar

O comerciante de pneus que não gosta de ver o comércio local a definhar

O seu sonho era ser juiz mas as voltas que a vida dá empurraram-no para continuar o negócio do pai. Luís Casquinha, comerciante de pneus em Vila Franca e entusiasta de motas antigas, diz que não gosta de ver o comércio local a definhar.

O comércio local da cidade de Vila Franca de Xira está a atravessar um mau bocado devido à crise económica e Luís Casquinha, 46 anos, comerciante de pneus, confessa “ficar triste” quando vê o negócio a definhar.Nasceu na cidade de Redol e foi nas suas ruas que aprendeu a ser menino. Passou pela escola primária onde confessa ter levado “umas valentes reguadas” para aprender as lições. Mas acabou por fazer-se homem. Não tem medo de sujar as mãos e adora montar e desmontar coisas. Gostava de ter sido juiz mas a vida acabou por levá-lo a continuar o negócio do pai, numa pequena oficina no centro da cidade.“Os professores do meu tempo eram muito diferentes dos professores de hoje, havia mais respeito por quem ensina. Apesar de eu achar que não era um aluno problemático”, diz com um sorriso. Conta que na sua infância “os foras-da-lei se contavam pelos dedos de uma mão” e lamenta que hoje em dia “seja ao contrário”. Luís pega ao trabalho logo de manhã e vai atendendo os automobilistas que apareçam. Hoje em dia são menos mas ainda vai dando para meter o pão na mesa, afiança.“O meu primeiro emprego foi aqui e continuei até hoje. Esta casa abriu em 1963 pela mão do meu pai. Morávamos aqui ao lado e brinquei muito nesta oficina quando era garoto. Com o tempo acabei por seguir as pisadas do meu pai. Não por nenhuma razão em particular, simplesmente calhou ser assim”, revela a O MIRANTE.Ao chumbar no nono ano de escolaridade o pai proibiu-o de ir para a praia com o resto dos amigos e forçou-o a ficar na oficina de castigo. “Acabei por ficar aqui até hoje. Desde esse dia consciencializei-me da necessidade de trabalhar e nunca mais tive férias até aos 30 anos, porque a oficina não podia fechar”, conta. As primeiras tarefas que se aprendiam no estabelecimento era a varrer e a limpar as máquinas. O atendimento é sempre a última coisa a fazer. “É a última porque é preciso muito tempo para começar a conhecer as medidas e os tipos de pneus. Decorar tudo isso, marca por marca, pode parecer fácil mas não é, obriga a muito trabalho”, refere Luís Casquinha. A crise económica que o país e a região atravessam fez o volume de trabalho diminuir mas Luís mostra-se mais preocupado com a segurança dos condutores. “As pessoas quando vêm reparar um furo já trazem outra roda furada ou a precisar de substituição. Vão protelando e deixando tudo para a última hora. Se não fossem as inspecções anuais eu não imagino como isto andava. Infelizmente é normal aparecerem aqui pessoas com pneus já com os arames à mostra e pneus com bolhas prontos a rebentar. Tudo situações muito perigosas não só para eles como para todos os outros que andam na estrada. Não sei como não morre mais gente nas estradas”, lamenta.A oficina de que é responsável já chegou a ter seis empregados mas hoje Luís é o único que resta. Este homem dos pneus diz que sonhava ter sido juiz. “Acho que conseguia fazer mais justiça do que aquela que se faz hoje. Gostaria de ser juiz para condenar quem merecesse e quem praticasse o mal, queria ser justo”, garante. O gosto de ajudar os outros seria o que mais o motivaria para exercer essa profissão. Hoje, aos 46 anos, já desistiu da ideia e substituiu-a por outra paixão: as motas antigas.“As motas antigas são um passatempo. Começou como brincadeira com um amigo meu e depois o gosto foi evoluindo. As motas reúnem uma série de coisas que gosto, sobretudo poder mexer nelas e usufruir delas. Cheguei a fazer mergulho e aeromodelismo mas encontrei nas motas um gosto que tem vindo a crescer. Arranjo muitas motas velhas e depois faço o restauro”, confessa.A morar em Alhandra há oito anos Luís é uma pessoa que não gosta de ver o comércio local a passar dificuldades. “Vila Franca está envelhecida e não está a crescer, as pessoas novas não estão a parar por aqui. Há um conjunto de factores que leva ao encerramento de várias lojas mas para mim um dos mais graves é a falta de estacionamento”, lamenta. A construção de silos de estacionamento poderia, na opinião do empresário, ser uma forma de contornar o problema.
O comerciante de pneus que não gosta de ver o comércio local a definhar

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