uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Dias de Deus

A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não tem dívidas a fornecedores. A de Torres Novas e a de Santarém, só para falarmos das mais caloteiras, devem milhões a pequenos empresários que precisam de receber como de pão para a boca. Sei de muita gente que se humilha todos os dias perante estes políticos da treta a pedir de joelhos que lhes paguem o que devem. E eles assobiam para o lado como se vivêssemos numa república das bananas. Não é democrático. É uma vergonha. Mais do que vergonha é patifaria. A política é um exercício muito mais nobre que andar a gerir tesourarias com o credo na mão e a gastarem o que depois não podem pagar.Tiro o meu chapéu à presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, que dá o exemplo gerindo o concelho mais populoso da região ribatejana. É um exemplo para o país dos políticos manhosos e caloteiros.Este fim-de-semana fui ao Alentejo profundo e diverti-me a falar alentejano com os meus compadres. Sinto-me em casa no Alentejo. Não tenho o sotaque tão cantado como os alentejanos mas sou apanhado muitas vezes usando um tipo de pronúncia ribatejana que nem sempre me agrada. Passei por Vila Fernando para prestar homenagem a Joaquim Leal Dias de Deus que foi a primeira pessoa que me ensinou o sentido da verdadeira tolerância e o respeito pela opinião dos outros. No trabalho nunca conheci ninguém como ele. Era a bondade em pessoa. Devo-lhe a descoberta de um mundo novo no convívio com homens que sempre foram leais ao antigo regime mas eram verdadeiros humanistas. Apesar das ideologias os valores humanos estavam sempre à frente da política. Entrei na pequena igreja da vila na altura do sermão e fiquei a ouvir o padre que pregava para uma dúzia de senhoras de idade avançada e um homem com idade de ser meu bisavô. Discurso reaccionário como não ouvia há muitos anos. Primeiro foi a lembrança do demónio das mulheres que “vestem as calças lá em casa”; depois foi um chorrilho de frases a pretexto de uma cena bíblica fazendo sempre a apologia da humilhação e da subjugação da mulher. Quando saí encontrei duas freiras que andavam a bater às portas aparentemente a visitar doentes. Outra realidade da igreja que depressa me fez esquecer os padrecas reaccionários que fazem da sua paróquia o teatro do mundo como se a igreja fosse de cada um deles.O presidente de uma instituição com quem trabalho ligou-me para me dar uma explicação. Como estava de pé atrás, porque sabia que me tinham tramado, tentei ser directo e prático. Do outro lado do telefone ninguém parava aquela voz. Ainda disse nas minhas calmas; “já percebi, o senhor gosta muito mais de falar do que ouvir”, mas o meu interlocutor teve que debitar tudo aquilo que para mim já era um castigo. Podia não ter atendido o telefone. Podia. Mas eu sou da velha guarda. Não fujo a uma boa briga. Por isso ando sempre a levar nas lonas e a aprender novos caminhos. Não sou conflituoso, nunca fui de brigas, mas sei gerar conflitos para saber sempre com o que conto. jae

Mais Notícias

    A carregar...