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ETAR desperdiça água que podia ser reutilizada

ETAR desperdiça água que podia ser reutilizada

Nas instalações produzem-se também lamas para agricultura e electricidade

Um dia poderemos beber a água que enviamos pelo esgoto abaixo. Num futuro cenário de escassez a reciclagem da água poderá ser a forma de assegurar um bem de primeira necessidade. Em Vila Franca de Xira já existe uma ideia para tornar essa visão realidade, mas falta dinheiro para a pôr em prática.

No futuro será possível puxar o autoclismo das nossas casas de banho e, dias depois, voltar a beber essa mesma água, tratada e cristalina, através das nossas torneiras. A visão pode assustar à primeira vista mas a verdade é que a reciclagem da água será a única forma de continuar a assegurar a existência de um bem potável que é finito. Na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Vila Franca de Xira, explorada pela Simtejo, já existe uma ideia para tornar essa visão realidade, mas para já não passa disso, dado o elevado investimento necessário. “Um dos grandes objectivos que temos é a reutilização da água. Há um ponto de partida chave: a água que sai daqui não pode ser bebida. Pode voltar a sê-lo se for alvo de um novo tratamento”, explica José Martins, director de exploração da Simtejo a O MIRANTE. A ideia seria criar uma ligação directa entre a ETAR e a unidade de tratamento de águas da EPAL, na Castanheira do Ribatejo. Mas tal operação representaria uma despesa de milhares de euros por cada metro cúbico de água tratada e, de momento, esse é um investimento não prioritário.“O que se faz no Estados Unidos é a recarga de aquíferos. A água tratada é rejeitada e a natureza regenera-a automaticamente. Mas não pode sair directamente da ETAR para a torneira. Isso é impossível. Mas em locais com pouca água, como em Singapura, as águas das ETAR são limpas e tratadas de novo para poderem ser potáveis novamente com bons níveis de qualidade. Mas isso obriga a custos elevados”, explica.Enquanto isso a ETAR de Vila Franca, que trata os esgotos de 130 mil habitantes, vai-se limitando a despejar no rio Tejo 200 mil metros cúbicos por mês de água limpa que poderia ser usada em rega, agricultura, lavagens industriais, casas de banho e limpezas. “O maior problema da água reutilizada é distribuí-la por todos os interessados. Ela está disponível aqui mas como a levamos para ser usada na lavagem de ruas? De momento ninguém a vem buscar e nós devolvemos ao Tejo”, lamenta o responsável. Para José Martins uma das soluções de futuro é a instalação de condutas paralelas entre as redes de saneamento e a ETAR para fornecer água tratada para as regas e lavagens. Diminui os consumos e favorece o ambiente, preservando a água que deveria ser para consumo humano. “Tratamos 7 mil metros cúbicos por dia, chega e sobra para abastecer as regas e a agricultura”, afiança o responsável. A ETAR de Vila Franca de Xira abriu as suas portas ao público na manhã de 27 de Agosto no âmbito do programa Ciência Viva mas apenas um jornalista apareceu para visitar as instalações. “Temos alguma tristeza por ver que as pessoas não aparecem. Já fizemos estas acções de manhã, ao fim do dia e ao fim-de-semana. Mesmo de verão e durante as férias as pessoas não vêm. Ainda têm uma ideia errada sobre o funcionamento das ETAR e muita renitência em descobrir o seu funcionamento”, lamenta José Martins.Lamas substituem adubos e químicos na agriculturaAs lamas retiradas no processo de tratamento das águas da ETAR de Vila Franca de Xira são tratadas e usadas na agricultura. A sua utilização pode substituir o estrume e os adubos com químicos usados para fertilizar a terra. Além de mais baratos são uma alternativa ecologicamente mais saudável, garante a empresa. “São mais uma forma de rentabilizar o processo de tratamento. Depois de tratadas e desidratadas elas ganham uma massa superior e são tratadas com cal, armazenadas num silo e depois levadas por camiões das empresas que trabalham connosco”, explica José Martins. Actualmente a ETAR de Vila Franca tem em curso um projecto inovador em que os gases resultantes da transformação das lamas são convertidos em biogás que é usado na produção de electricidade, alimentando uma parte da infra-estrutura. Com este projecto perto de 40 por cento da electricidade gasta nas instalações provêm do próprio processo de tratamento.Estação de tratamento dá emprego a dez pessoasNo total trabalham na ETAR de Vila Franca de Xira dez pessoas, que auferem entre os 600 e os mil euros. O subsistema de Vila Franca inclui, além da ETAR, oito estações elevatórias e 25 quilómetros de interceptores e condutas. A estação trata actualmente perto de sete mil metros cúbicos mas tem capacidade para tratar até 16 mil. Entrou em funcionamento em Março de 2007 e custou dez milhões de euros. Factura por mês à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira 50 cêntimos por cada metro cúbico de água que trata. A Simtejo detém uma concessão assinada com o Estado português para exploração destas unidades durante 43 anos. A ETAR de Vila Franca foi desenhada para operar durante 30 anos. O processo de tratamento das águas é composto por uma remoção dos resíduos sólidos, remoção de gorduras, decantação, tratamento com bactérias que se alimentam dos resíduos presentes na água, decantação secundária para sedimentação das bactérias, filtragem, desinfecção, desodorização e desidratação de lamas. A ETAR de Vila Franca é quase toda coberta e afastada do núcleo urbano da cidade.
ETAR desperdiça água que podia ser reutilizada

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