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Os agricultores das hortas urbanas ou como encher as despensas em tempo de crise

Os agricultores das hortas urbanas ou como encher as despensas em tempo de crise

Dos quarenta talhões disponíveis na Quinta da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, apenas sete estão por ocupar

Nas hortas biológicas da Quinta Municipal da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, Vila Franca de Xira, plantam-se cebolas, tomates e hortaliças. Dos 40 talhões disponibilizados pela câmara, a troco de uma renda de quatro euros, apenas sete estão por ocupar. As sopas e saladas são servidas na mesa de uma cidade rodeada de prédios por todos os lados. Há quem garanta que é uma boa forma de ajudar a encher a despensa em tempo de crise.

José Matos, 45 anos, mostra as cebolas acabadas de colher. Em nada se assemelham às que se encontram no supermercado. São grandes e brancas e podem comer-se à dentada, assegura o agricultor. No saco que prepara para levar para casa também vão tomates vermelhos e viçosos. O relógio marca as 19h00 e o agricultor dá o dia por terminado no talhão de 40 metros quadrados que ocupa na Quinta Municipal da Piedade, concelho de Vila Franca de Xira, numa horta urbana rodeada de prédios por todos os lados.Está ali desde Abril, altura em que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira implementou o projecto de hortas biológicas no concelho. No total são quarenta pequenos espaços de cultivo que foram distribuídos por ordem de inscrição. Sete talhões permanecem desocupados desde o início do arranque do projecto. Os agricultores pagam mensalmente quatro euros.“Por enquanto está a compensar a renda mensal paga. Nunca mais precisei de gastar dinheiro em legumes e hortaliça no supermercado”, garante José Matos, desempregado há seis anos. Na mesa consegue colocar salada e sopa para seis pessoas sem precisar de gastar dinheiro.O que não tem preço é o sabor dos alimentos que vêm da agricultura biológica - um sistema de produção sustentável que não recorre a uso de pesticidas ou fertilizantes. “Nunca em toda a minha vida comi alimentos tão saborosos”, garante.Pela experiência dos primeiros cultivos já verificou que o alho francês e a cenoura não se dão bem naquela terra. Prepara-se agora para semear alfaces e agrião. Uns minutos depois aparecem as duas filhas, o neto e o genro. Vêm passear e ajudar se for preciso. “É uma terapia poder meter as mãos na terra e deixar de pensar nas agruras da vida”, confessa.Sentado numa pequena cadeira de madeira Mário Caceres, 75 anos, contempla serenamente a sua horta. É um dos agricultores mais experientes e são muitos os que lhe pedem conselhos para tratar da terra. O título é merecido a julgar pelo tempo que dedica à horta. Chega às 08h30 e só regressa a casa às 19h00. Todos os dias incluíndo Sábados e Domingos.Desde que se lembra de existir que sempre teve um pedaço de terra para tratar. O último era no Quintanilho, em Vialonga, emprestado por um amigo. No pequeno terreno alugado conseguiu plantar tudo e mais alguma coisa.Além da lista imensa de hortaliças tem ainda um conjunto invejável de plantas aromáticas: poejo para preparar uma açorda alentejana ou uma sopa de peixe, arruda para afastar a bicharada e o mau olhado, manjericão, coentros, hortelã, entre outros.No talhão número quatro está Joaquim Poeira, 73 anos, a regar. “Sou alentejano e todos os alentejanos sabem cultivar a terra”, esclarece logo à partida. Na sua horta destacam-se os cravos vermelhos que uma vizinha veio plantar. “Foi para dar uma graça à horta”.Na pequena quinta o ambiente que se vive é bom. Trocam-se produtos cultivados, conversa-se com o vizinho e pede-se uma ajuda para a rega em tempo de férias. Ninguém imaginaria que ali, no meio de uma cidade suburbana, com prédios em redor e carros a entupir as estradas à hora de ponta, há um conjunto de pessoas a cuidar das hortas. O gosto e o entusiasmo que colocam no trabalho é visível. “A horta é a minha segunda esposa”, remata Mário Caceres.Agricultores pedem mais acompanhamentoOs agricultores que amanham as hortas biológicas na Quinta Municipal da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, exigem um maior acompanhamento. Depois da formação inicial que receberam sobre a agricultura biológica não mais voltaram a ter qualquer tipo de ajuda, garantem.No regulamento das hortas biológicas, da responsabilidade da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, lê-se que o gestor é uma pessoa nomeada pela autarquia que fica responsável pela gestão do espaço e actividades nas hortas. “Mas o que acontece é que cada um faz o que quer e à sua maneira”, critica Mário Cáceres.Os agricultores contestam ainda a obrigatoriedade de apresentar facturas que comprovem que as sementes usadas são de origem biológica. “Faço a recolha das sementes daquilo que eu próprio cultivo e não está correcto termos que apresentar facturas quando a própria terra nos dá o que é biológico”, alerta um agricultor.Alguns roubos também já se registaram. “Há quem pense que esta é uma horta comunitária e muitas pessoas vêm cá tirar legumes sem pedir”, denuncia José Matos. Os gatos que existem nas imediações e são alimentados por algumas pessoas também são uma dor de cabeça para os agricultores. Tal como os pavões da quinta que debicam muitos dos legumes e hortaliças plantados.O MIRANTE contactou a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira a fim de pedir mais esclarecimentos sobre o assunto mas não obteve qualquer resposta até ao fecho desta edição.
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