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Património histórico da Póvoa de Santa Iria em ruínas

Património histórico da Póvoa de Santa Iria em ruínas

Na Quinta Municipal da Piedade são vários os monumentos que se encontram degradados

O tapume que protege o oratório de São Jerónimo já cedeu. Lá dentro encontra-se um cachecol da selecção portuguesa e um cobertor. O oratório de Nossa Senhora da Piedade não está em melhor estado. É na Quinta Municipal da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, que se encontra grande parte da história da freguesia. Muitos monumentos estão à beira da ruína e em alguns casos a recuperação é quase impossível, alerta a Dom Martinho - Associação para a Defesa e Valorização do Património da Póvoa de Santa Iria.

A maior riqueza histórica da freguesia da Póvoa de Santa Iria está dentro da Quinta Municipal da Piedade, gerida pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, mas grande parte do conjunto de construções religiosas, que remontam à época quinhentista, está em ruínas.O mau estado de conservação das construções leva o presidente da Dom Martinho - Associação Para Defesa e Valorização do Património da Póvoa de Santa Iria, José Canha, a garantir que em alguns casos a recuperação já é quase impossível.O caso mais flagrante é o do Oratório de São Jerónimo, localizado na Quinta Municipal da Piedade. No interior do oratório encontra-se um cachecol da selecção portuguesa de futebol, sapatos e um cobertor. Edificado entre 1530 e 1540 para que o solitário camareiro-mor realizasse as suas preces o espaço serve agora de tecto a um sem abrigo. Nem sequer as grades que foram colocadas em redor do monumento impedem o homem de chegar ao interior do espaço. O tapume colocado por cima do oratório também cedeu devido à queda de uma árvore, deixando-o exposto à chuva. Em 1983 os azulejos do interior da nave foram furtados e em 1996 foi roubada uma pedra em forma de concha que sobrepujava o brasão do pórtico.O Oratório de Nossa Senhora da Piedade, que fica também dentro da quinta, a alguns metros de distância, está igualmente em mau estado de conservação. Na página do Facebook da Junta de Freguesia da Póvoa de Santa Iria o munícipe Joaquim Ribeiro deixou um comentário acompanhado de uma foto: “Não sei a quem compete a manutenção do santuário. Mas seja a quem for é simplesmente degradante ter um monumento de azulejaria no estado em que se encontra”, critica. No centro da capela existe uma pequena gruta artificial, de onde foi retirada há uns anos a Lapa do Senhor Morto para restauro, uma peça de escultura que procura recriar o local e os momentos que antecedem o dramático sepultamento de Jesus. “Há pelo menos cinco anos que cá não está e claro que a devoção vai desaparecendo porque as pessoas não têm a quem prestar devoção”, explica José Canha. Nos painéis de azulejos que revestem o oratório são vários os azulejos que foram recolocados no sítio errado e alguns espaços foram preenchidos com cimento, deitando por terra os traços originais do oratório. Outro monumento que na opinião dos responsáveis da associação Dom Martinho já não tem recuperação possível é um fontanário que se localiza na área central do jardim. Está rodeado de ervas e arbustos e muitos dos traços originais já desaparecem por completo. A RIQUEZA PARA LÁ DA QUINTA Já fora da Quinta Municipal da Piedade, na fachada do antigo edifício dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria, mesmo ao lado da estação de caminhos de ferro, existe um painel de azulejos que a associação gostaria de recuperar. Mesmo antes de ser o quartel dos bombeiros foi uma importante padaria que chegava a exportar os seus produtos para Lisboa através da linha de comboio, representando uma marca da identidade histórica da Póvoa. A recuperação está contemplada no projecto de construção do futuro terminal rodo-ferroviário da cidade, mas tendo em conta a actual crise económica o presidente da Junta de Freguesia da Póvoa de Santa Iria, Jorge Ribeiro (PS), não arrisca avançar com uma data até porque as obras são por conta de um privado. O painel encontra-se coberto por uma massa para ajudar a proteger os azulejos mas mesmo assim alguns já caíram. O marco do Morgado da Póvoa, localizado no jardim adjacente à rua 5 de Outubro, erigido no século XVIII passa totalmente despercebido a quem circula na zona. “As pessoas passam por aqui e ninguém dá conta. Deveria ser colocado numa zona nobre da freguesia, numa das entradas a Sul ou Norte”, sugere José Canha. Os fungos que se acumulam no marco são visíveis a olho nu. Também a Quinta da Fervença, localizada junto aos caminhos de ferro, outrora dedicada a actividades agrícolas está completamente votada ao abandono. Jorge Ribeiro mostrou-se disponível para mudar o marco do Morgado, mas em relação à Quinta da Fervença não existe qualquer projecto próximo ou futuro para recuperar o espaço. “Não temos um património muito grande na Póvoa de Santa Iria e por isso tenho muita pena que a maior parte esteja completamente degradada. Vivemos agora numa altura de crise mas já houve dinheiro para se investir na recuperação do nosso património. Não existiu foi vontade política. Quando caírem já não há nada a fazer”, alerta José Canha. Dom Martinho gostaria de ver Mouchão entregue à freguesiaUma das maiores aspirações da Dom Martinho - Associação Para Defesa e Valorização do Património da Póvoa de Santa Iria, é ver o Mouchão da Póvoa, que pertence à freguesia de Vila Franca de Xira, passar para a posse administrativa da Póvoa de Santa Iria. Um equipamento multiusos para a cidade é outro dos projectos que gostariam de ver concretizados já que o espaço do Grémio Dramático Povoense consegue acolher apenas 100 pessoas. “A Póvoa é uma terra com um grande movimento associativo, mas não temos uma sala para realizar espectáculos para um número elevado de pessoas”, realça o presidente da associação, José Canha. Mais fácil de realizar seria a cedência de uma sala na freguesia para o grupo se poder reunir. “Há espaços ao abandono e não custava nada ceder uma sala onde pudéssemos realizar as nossas reuniões”. A associação já tem um pequeno núcleo museológico na Quinta Municipal da Piedade onde apresentam parte do seu espólio dedicado à história da cidade. A associação surgiu quando um grupo de amigos povoenses decidiu juntar-se para constituir um museu dedicado à Póvoa. Para ajudar nas contas e preservar o património gastronómico da cidade a associação lançou nas últimas Festas em Honra da Nossa Senhora da Piedade, que decorreram entre 1 e 4 de Setembro, um bolo típico da Póvoa, baptizado com o nome de “Morgadinho”.
Património histórico da Póvoa de Santa Iria em ruínas

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