Curiosamente foi a família na Azinhaga, concelho da Golegã, bastante numerosa, que fez primeiro a festa. Em qualquer dos casos os dois atletas souberam que tinham conquistado as medalhas pela família. “Em qualquer dos nossos casos competem em simultâneo vários escalões. No final a organização leva algum tempo a elaborar as classificações. Na Azinhaga a nossa família estava a seguir a prova pela Internet e bem antes de saírem as classificações em Gijon, telefonaram-nos em euforia a dar as novidades de que a Mariana tinha conquistado a medalha de ouro e eu a de bronze. Quando fomos chamados ao pódio já sabíamos e já tínhamos feito uma grande festa com os nossos companheiros da selecção”, disse com manifesto orgulho Fernando Pombo.Ainda mais curioso é o facto de ter sido Mariana a levar o avô para o duatlo. Costuma ser ao contrário. Geralmente é a influência dos mais velhos a fazer movimentar os mais novos. Contudo ambos os medalhados têm um excelente percurso no atletismo. Fernando Pombo praticou a modalidade nos tempos dos estudos, chegou a ser campeão de corta mato escolar no tempo em se corria através da Mocidade Portuguesa. Entretanto passou pelo futebol e quando chegou a hora de arrumar as botas voltou ao atletismo. “Passei para provas mais longas e tenho corrido pelo Sporting de Abrantes, Zona Alta de Torres Novas, Casa do Povo de Alcanena e pelo Alvitejo de Vale de Figueira”.Mariana tem uma história mais curta, mas nem por isso menos curiosa. No desporto escolar pratica atletismo, mas em provas técnicas, saltos e lançamentos, ou em provas curtas. “Ainda sou recordista distrital dos 600 metros”.Foi Mariana que, há menos de um ano, foi aliciada para ir para o Núcleo Sportinguista do Concelho da Golegã praticar triatlo. Aceitou o convite do professor João Mascarenhas, mas cedo viu que não seria fácil ir muito longe. “Sei nadar mas nunca tive competição, e no triatlo é decisivo ser-se bom nesse segmento”. Foi então que surgiu o duatlo, modalidade que tem duas vertentes atletismo e ciclismo. “Aí vi que tinha mais possibilidades, mas era preciso ganhar resistência. Não foi fácil conseguir bons índices”, disse Mariana.É aqui que entra o duatlo na vida do delegado comercial, Fernando Pombo. “Sou um perfeccionista e quis ajudar a Mariana. Comprei uma bicicleta, que era quase uma pasteleira, e corria e pedalava durante alguns treinos. Até que um dia o professor João Mascarenhas me convenceu a inscrever-me no Núcleo da Golegã”. Mas não é fácil conciliar a vida de delegado comercial com os treinos da neta e Fernando Pombo passou a andar com a bicicleta e as sapatilhas no carro. Quando chega aos hotéis onde fica habitualmente, mesmo antes de fazer a inscrição, “ou calço as sapatilhas e vou correr, ou monto na bicicleta e vou pedalar durante alguns quilómetros”. Sempre com um plano de treinos elaborado por João Mascarenhas.Mariana treina com afinco em conjunto com os companheiros do Núcleo Sportinguista da Golegã, que como diz o avô, está a fazer um trabalho extraordinário com a juventude da região. “Constituímos uma grande família, os nossos técnicos são extraordinários, nos treinos e nas provas ajudamo-nos mutuamente e os resultados estão à vista”, diz Mariana, acrescentando que apenas tem sentido algumas dificuldades em conciliar os estudos e a competição.A alegria de conquistar uma medalha no Campeonato do Mundo não tem explicaçãoFernando Pombo tem 60 anos. Mariana tem 16 anos. Têm 44 anos a separá-los, mas revelam o mesmo entusiasmo quando falam nas medalhas conquistadas. “É uma emoção indescritível, não há palavras para descrever aquilo que sentimos. Estávamos a representar a Azinhaga, a Golegã, o distrito de Santarém e Portugal. Ouvir o Hino Nacional e ver subir a Bandeira Portuguesa no mastro do pódio, é um momento que jamais esqueceremos”, garantem avô e neta, acrescentando que acabou por ser ainda mais saborosa, por compensar também o esforço financeiro feito. “Deslocamo-nos a expensas nossas”. Mariana garante que quando saiu de Portugal levava na bagagem apenas a alegria de ir competir e representar Portugal. Fernando Pombo também não ia mais além. “Trabalhei muito durante muitos dias. Sabia que estava bem preparada, mas ia estar num Campeonato do Mundo. Ia competir com os melhores, sabia que não ia ser fácil, mas tinha uma secreta esperança de que podia estar perto das primeiras”, garantiu confiante Mariana.A jovem atleta sentiu que podia vencer logo no primeiro segmento de corrida, cinco mil metros, e esse sentimento acentuou-se nos 20 quilómetros de ciclismo. “Quando entrei no último segmento, os dois mil e quinhentos metros de corrida já corri em grande satisfação. A minha maior adversária vinha longe e já não me podia ultrapassar. Mas foi uma angústia até receber o telefonema da família a dizer que tinha ganho”, disse com orgulho Mariana. Fernando Pombo só teve a certeza de uma medalha aquando do telefonema. “São muitos os escalões em competição ao mesmo tempo. À partida centrei-me num atleta francês que sabia ser dos melhores. Nunca o perdi de vista, não sabia em que lugar seguia, só pensava em dar o meu melhor. Só no final soube que mais à frente ia um inglês. Deu para o terceiro lugar e uma medalha, foi enorme”, referiu.A fechar a conversa com O MIRANTE, e exibindo as medalhas conquistadas, Mariana e Fernando expuseram os seus objectivos. Modestos, como é normal, para o avô, que já só pensa numa prova de cada vez. Mais ambiciosos, para a neta. “Gostava de ver o duatlo passar a ser uma modalidade olímpica, porque acredito no meu trabalho e na minha vontade, e seria extraordinário poder participar nuns Jogos Olímpicos”.Judo de Cem Soldos conquista três medalhasOs cinco atletas do Grupo Desportivo de Cem Soldos que participaram no Torneio de Cadetes disputado em Lisboa, conquistaram três medalhas: Na categoria de -60kg, João Lopes realizou cinco combates, vencendo todos os seus adversários pela vantagem máxima de Ippon, conquistando assim o primeiro lugar do Torneio. Nas categorias mais pesadas, João Pereira nos -90kg, conquistou a medalha de Bronze após duas vitórias e duas derrotas. Já Fausto Ferreira conquistou o primeiro lugar vencendo o seu único adversário.