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Santa Iria não é a santa dos frutos secos

Curioso é verificar que as pessoas de Ourém falam sempre de Tomar quando pensam em Santa Iria. E na verdade a lenda fala de uma monja tomarense que se viu envolvida num romance que acabou de forma trágica. As celebrações populares associadas à Santa, por ocorrerem no Outono, remetem para as nozes, as passas de uva e os figos secos. E há quem só consuma esses produtos nesta altura do ano e até ao Natal, embora eles possam ser encontrados à venda todo o ano. Quem vai à feira de Santa Iria em Ourém procura recordações de infância, produtos regionais, frutos secos e um local para conviver com amigos e conhecidos. Há quem lamente que a tradição das festas populares tenha tendência a acabar.

Zélia Faria, funcionária da junta de freguesia de Seiça“Vou à feira pelo passeio e pelo convívio”“Santa Iria…sei que está relacionada com Tomar…tenho ideia de um romance que acaba de forma trágica mas não me recordo bem da história”, responde quando a interrogamos sobre a santa que justifica a festa. De todos os santos, diz que o da sua devoção é Sousa Martins, um antigo médico de Alhandra a quem são atribuídos milagres, que nem sequer é santo reconhecido pela igreja católica mas que tem uma legião de fiéis. “Não sou católica praticante mas sou religiosa. Quem me falou em Sousa Martins foi uma conhecida e como tenho problemas de saúde interessei-me por ele”, confessa. Gosta de frequentar festas e feiras populares. Diz que vai para para conviver e passear e não à procura de nada em particular. “A filhota é que está sempre ansiosa. Recordo-me que quando era pequena o meu pai levava-me à Feira de Santa Iria em Ourém e também era um momento emocionante para mim”. Nesta altura do ano gosta de comprar frutos secos nestes eventos. Prefere passas e nozes, mas só compra por esta época do ano. Manuel Dias, presidente da junta de Rio de Couros“Esta feira é uma manifestação cultural e deve manter-se”“Vivi em Tomar e nessa altura recordo-me que ouvia falar de uma lenda de uma santa e de um convento lá perto, mas já não me recordo muito da história”. Como muitos outros inquiridos por Ourém, para Manuel Dias a lenda de Santa Iria também é desconhecida, fazendo parte sobretudo das tradições de Tomar. Diz que em matéria de santas a sua inclinação vai para Nossa Senhora do Rosário de Fátima e explica porquê. “O meu filho nasceu a 13 de Outubro. Não sou de rezar muito nem tenho adoração por nenhum santo em particular, mas tenho um carinho especial pela Senhora de Fátima. Também porque fui emigrante”. Não é um entusiasta de feiras e festas populares mas gosta de ir e ver o que por lá se passa. “Frequento e gosto que se mantenham este tipo de festas, até porque fazem parte da nossa cultura”. Não costuma comprar muita coisa, apesar de por esta altura gostar de ir aos frutos secos. “Gosto de todo o tipo de frutos secos, mas realmente só costumo comprá-los nesta altura do ano”, conta.João Palricas, Multiópticas Ourém“A Câmara de Ourém faz bem em dar espaço à empresas locais” Cidadão de Tomar, João Palricas conhece como poucos as desventuras de Santa Iria, monja de Nabância, morta por um admirador enciumado e cujo corpo se terá perdido pela região de Santarém. “É a versão que conheço”, explica. Diz que aprendeu a lenda na escola e que ela marca muitas das tradições da sua terra. Em Ourém, onde trabalha, sabe que existe uma Feira que também festeja Santa Iria, mas nunca lá foi. “Sei que Ourém tem algumas vantagens relativamente a Tomar, apesar da Feira ter uma dimensão mais pequena. Aqui optam por dar mais voz às empresas do concelho, enquanto em Tomar temos mais feirantes de todo o país. Por outro lado, realizando-se a Feira no Centro de Negócios de Ourém torna-se tudo muito mais central e apelativo, enquanto na minha cidade o evento está mais disperso”, explica. Católico praticante diz que a sua devoção não é por santos mas por Deus. Adora frutos secos e come bastantes ao longo de todo o ano. Lamenta que as tradições se estejam a perder e os poucos produtores estejam cada vez mais idosos. Revela que este ano não há muitos figos porque o tempo não ajudou. “Tenho receio que esta tradição se perca, porque dá muito trabalho apanhar o figo e secá-lo. Além disso acaba por sair caro. Este é um dos sectores onde a crise está bem patente”, diz. Ricardo Santos, FogãoSol, Fátima“Consumo frutos secos todo o ano”Santa Iria é uma santa desconhecida para Ricardo Santos que, como vários outros inquiridos, afirma desconhecer a sua história. A sua devoção especial é por Santo António. “Por nenhuma dádiva em particular, mas por ser o padroeiro da aldeia onde nasci”, explica. Gosta de frequentar ocasionalmente festas e feiras populares. Aproveita essas alturas para conviver com pessoas conhecidas e amigos. Também compra produtos regionais que se encontram à venda nesses eventos. É grande apreciador de figos secos e passas de uva. Consome esses produtos o ano inteiro e não apenas no Natal como acontece com muitos portugueses. Sandra Vieira, funcionária da Junta de Freguesia de Urqueira“Vou à feira para recordar a minha infância” Não tem nenhuma devoção em particular e não sabe nada sobre Santa Iria. “A minha crença é em Deus, não nos santos”, explica. Considera-se uma “menina da cidade” que aprendeu a gostar de festas populares quando foi trabalhar para Urqueira. Agora até faz parte da organização de algumas. Já foi algumas vezes à feira de Santa Iria. Tanto a de Ourém como a da vizinha cidade de Tomar. Diz que vai pelas guloseimas e pelas farturas mas sobretudo para sentir “aquele sabor do meu passado, do meu tempo dos carrosséis, e para que os meus afilhados não se esqueçam destas nossas tradições”. De frutos secos não é adepta. “Não costumo comprar, nem nesta altura nem noutra qualquer”, declara.Elias da Silva, presidente da junta de Alburitel“Aqui na aldeia ainda há gente que seca figos” Quando era pequeno não perdia nenhuma feira. Agora já não é assim. Diz que em miúdo a Feira de Santa Iria de Ourém era sempre muito esperada. “ Atraía-me o movimento, a cor, as luzes dos carrosséis, a envolvência e, claro, os brinquedos”. A magia perdeu-se e nos anos mais recentes quando vai à feira é para passear e para comprar alguma coisa. De frutos secos não vai à procura, até porque a sua freguesia é uma zona de produção de figo seco. “Vamos tendo aqui na aldeia ao longo de todo o ano, apesar da secagem ter caído em desuso. Há muitas figueiras que se foram arrancando. Em todo o caso é um produto que se come durante todo o ano e serve de aperitivo”, explica. É apreciador e gosta de festas populares. Como presidente da junta e da associação local já organizou inclusive algumas. “Faz parte das minhas competências”. Se lhe perguntam se sabe quem foi Santa Iria e porque é Santa, não sabe responder. À semelhança de tantos outros, refere que é uma figura ligada a Tomar. “Já ouvi contar a sua história, mas não me recordo”.

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