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Calor antecipou apanha da azeitona

Altas temperaturas deste início de Outono começaram a secar os frutos da oliveira
“Azeitona apanhada antes do Natal fica no olival”, diziam os antigos. Este ano o calor trouxe agitação aos olivais antes da época. Por Alburitel, no concelho de Ourém, durante o fim-de-semana, estenderam-se os panos e subiu-se às oliveiras para apanhar uma azeitona que já começou a secar. O tempo, afirma quem sabe da poda, está a afectar a qualidade do produto final.“O tempo mudou, as estações já não são tão certas como antigamente. Foi acabar a vindima e começar na azeitona, nem tive férias”, comenta Elias da Silva, autarca de Alburitel, enquanto retira a azeitona dos ramos da oliveira, cortados a motosserra. Noutros tempos, refere, trabalhava-se à jorna e a buzina chamava o pessoal às 05h00 para a apanha. No bolso levavam-se figos secos para o mata-bicho e o patrão oferecia um cálice de aguardente. Assim se aguentava o trabalho no campo, ao sol ou à chuva, numa época em que ainda havia quem comprasse este azeite e quem produzisse frutos secos.“Este ano, com o calor, a azeitona já está a secar. Mas quem a souber aproveitar ainda apanha qualquer coisa”, comenta. Entre os panos e os baldes cheios de azeitona bem madura, refere-se que provavelmente a qualidade do azeite vai sair afectada este ano. À semelhança das últimas épocas, há bastante azeitona nas oliveiras. Mas o calor dura há já demasiado tempo e o produto seca rapidamente nas árvores.“O que faz hoje com este azeite?”. Com 80 anos, António Dias ainda se perde entre os olivais. Diz que prefere estar por ali o dia todo, ao sol, do que numa taberna entre os copos de tinto. “Vender o azeite não vale a pena, quase ninguém compra. Fica-se com ele, dá-se aos filhos. Este ano já entreguei 400 quilos de azeitona na Cooperativa de Fátima”.Foi militar da GNR, mas um acidente fê-lo tornar-se contínuo durante várias décadas na Junta de Freguesia de Alburitel. “Devia ter uns 9/10 anos da última vez que esteve tanto calor nesta altura do ano. Mas prefiro assim, com chuva não vinha para cá. Claro que é um pouco complicado andar por aqui com estas temperaturas, mas aguenta-se”. Noutras épocas o trabalho da apanha era interminável, horas infinitas perdidas nos montes, sem panos, a recolher a azeitona do chão. Hoje, com a motosserra, é tudo mais rápido. António Dias olha para as mãos calejadas, enroladas em panos, e observa a agitação da apanha. “Comenta-se as notícias, fala-se do corte no subsídio de Natal”. Cerca de meia dúzia de pessoas de volta dos panos, subindo e descendo as oliveiras. Pelo resto do concelho, quase sempre em grupos familiares, outros seguem-lhes o exemplo. “Vale sempre a pena apanhar esta azeitona, mesmo com calor, mesmo que fique só para nós”.

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