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Toiros espanhóis são comprados para abate mas acabam lidados nas praças

Toiros espanhóis são comprados para abate mas acabam lidados nas praças

Ganadeiro José Luís Dias diz que a culpa é dos governantes e da associação de criadores

O ganadeiro José Dias, de 67 anos, mora em Salvaterra de Magos, mas é na sua ganadaria em Santo Estêvão, concelho de Benavente, que passa a maior parte do tempo. O maior mal que encontra actualmente na Festa Brava é a compra de toiros em Espanha a preços baixíssimos para serem lidados em Portugal. Mantém a sua ganadaria mais por paixão e carolice. Se não tivesse outros negócios paralelos diz que não conseguiria sobreviver. Este ano já só conseguiu vender dois curros quando em média entrava em cinco corridas. Para o ano, com a crise, acredita que ainda vai ser pior.

Quando é que os ganadeiros nacionais vão conseguir competir com os espanhóis que têm vindo a aumentar a presença em corridas de toiros portuguesas?Não competimos com os espanhóis porque não temos qualquer hipótese. Os toiros espanhóis vêm para Portugal a preços baixíssimos. Estão legais, mas foram comprados para abate. A guia traz uma validade de oito dias e durante este período são utilizados nas corridas. Lá vendem um toiro por 300 euros para abate e depois ainda cobram mais uns 750 euros para serem lidados aqui. No mínimo, um bom toiro não custa menos de 5000 euros. Ninguém se mexe para acabar com esta situação. E se começarmos a pressionar depois os espanhóis não compram toiros portugueses. No ano passado a cavaleira Ana Baptista queixou-se que os toiros espanhóis são difíceis de lidar.Os toiros que vêm de Espanha já têm cinco ou seis anos e não podem ser lá lidados porque já ultrapassaram a idade ou então são toiros com defeitos como ainda vi recentemente uns com as patas e as unhas grandes. Com estas características os animais são muito pesados e por isso dificultam o toureio. Nesse sentido concordo com a Ana Batista.São os espanhóis que estão a estragar a Festa Brava em Portugal?Os principais responsáveis são os nossos governantes e a Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide. Há muitos ganadeiros que pertencem à associação e enviam toiros para a Espanha e por isso não se mexem porque não lhes convém. Os próprios directores de corrida não deveriam autorizar que um toiro que vem para ser abatido seja lidado. E os empresários?Tratam da vida deles. Porque quanto mais barato comprarem, mais ganham. Estamos sempre a ouvir que os toiros não são um negócio rentável. Mas continuam a existir muitas ganadarias.Os ganadeiros são na sua grande maioria senhores muito ricos, com muitas propriedades, que se dedicam ao negócio mais por paixão. Ninguém pode viver directamente de uma ganadaria.Também é um ganadeiro rico?Não tenho prejuízo, mas também não tenho lucro. Se fosse a contabilizar as horas que faço à noite com o meu filho não haveria dinheiro que pagasse. Faço isto mais por paixão e carolice.A crise vai fazer com que acabem algumas ganadarias?Sim. Eu ainda poderei ir aguentando porque ao contrário da maioria dos ganadeiros, tenho um negócio paralelo. Desde alugar bezerras para treinos a cavalos até abater animais para comercializar no meu talho em Salvaterra de Magos. Existem ganadarias a mais?Se não fossem os espanhóis existia comércio para todas. Este ano não vendi todos os meus toiros porque no mercado estavam tão baratos que eu preferi ficar com eles por mais um ano para não perder dinheiro. Quantos curros conseguiu vender este ano?Vendi dois e mandei mais quatro toiros para França. Normalmente tenho cinco ou seis corridas por ano. Quero ver se os que ficaram saem logo no início da próxima temporada. Quais são as suas expectativas para a próxima temporada?Não são boas. Vão realizar-se algumas corridas nas feiras e festas, mas tenho quase a certeza que para o ano que vem o número de espectáculos vai diminuir.Considera que ainda há ídolos da tauromaquia que arrastem muita gente às praças, como houve o Ricardo Chibanga ou José Mestre Batista?O Ricardo Chibanga foi um bom toureiro na sua altura, mas actualmente temos toureiros muito melhores. Os Telles, o Rui Salvador, o Rui Fernandes, ou o João Moura. Prefere ver actuar um homem ou uma mulher? Um homem. Sem tirar todo o prestígio e todo o mérito que muitas mulheres têm, como a Ana Batista, elas não se arrimam tanto. Há muitas boas figuras do toureio feminino, mas por muita bravura que possam demonstrar na arena não deixam de ser mulheres. Em Benavente recentemente morreu uma pessoa durante uma largada, de quem é a culpa?Da própria e dos familiares. Todos sabem que o toiro é um animal bravo e é preciso ter respeito. Uma senhora de 80 anos não se pode colocar na estrada para ver um toiro passar. Só vai para lá quem quer e depois estão sujeitos a acidentes destes. Um menino que sonhava ir morar para o RibatejoNatural da Malveira, freguesia do concelho de Mafra, José Dias começou aos sete anos a acompanhar o pai que vinha ao Ribatejo comprar animais para o talho. Foi assim que conheceu todos os ganadeiros na região. “Disse sempre ao meu pai que mal me casasse queria vir morar para aqui”, recorda. Casou aos 27 anos e comprou um talho em Salvaterra de Magos, cumprindo o sonho.Em 1976 comprou a primeira ganadaria e em 1982 já somava três que baptizou de José Dias, Irmãos Dias e Felicidade Dias. É numa propriedade em Santo Estêvão, concelho de Benavente, que concentra agora as três ganadarias, tomando conta diariamente de cerca de 480 animais bravos. Já não se lembra de ter um domingo de descanso. Trabalha todos os dias da semana, faça sol ou chuva, com um dos cinco filhos. Não tem mais empregados. Levanta-se por volta das 6h30 e sai de Santo Estêvão quando a noite começa a cair. Nunca tirou férias e o seu único escape é ir assistir de vez em quando a uma ou outra corrida. “É aqui que me sinto bem e é assim que sou feliz”, conclui.
Toiros espanhóis são comprados para abate mas acabam lidados nas praças

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