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Um capitão a comandar a Câmara do Cartaxo

Um capitão a comandar a Câmara do Cartaxo

Paulo Varanda rendeu-se ao “bichinho” da política e admite desde já uma candidatura ao cargo em 2013

Admite ser um viciado no trabalho que dorme pouco e que mesmo quando repousa sonha com soluções para os problemas. Paulo Varanda, 34 anos, capitão do Exército, tomou posse recentemente como presidente da Câmara do Cartaxo, após dois anos como vice-presidente de Paulo Caldas que entretanto renunciou ao mandato. Nesta entrevista assume a disponibilidade para se candidatar a novo mandato, diz que é um homem poupado e que está preparado para combater a crise.

Quando era militar no activo alguma vez lhe passou pela cabeça que aos 34 anos podia ser presidente da Câmara do Cartaxo?Não. Foi um processo construtivo, que exigiu planeamento e consciencialização. Nunca houve da minha parte ambição, visão ou postura para um contributo nesta vertente.Como é que chegou à política?Há uns três anos. Vim de férias a Portugal, pois estava a trabalhar com as Nações Unidas, e a propósito da relação pessoal que mantinha com Paulo Caldas, este convidou-me para fazer parte das listas nas eleições autárquicas de 2009. A minha resposta foi sim, mas na altura não se falou de cargos ou lugares. Era apenas um contributo para o que se entendia ser um projecto e uma visão de continuidade.Deixar a vida militar não lhe causou algum conflito interior?Foi uma decisão atenuada pelo facto de ser igualmente uma perspectiva de serviço e de missão, de entrega a valores, princípios e à causa pública, embora em vertentes completamente diferentes.Até aí interessava-se pela política?Passava-me um bocadinho à margem. A não ser naquelas decisões que tinham grande impacto na comunidade, nas obras. Inclusivamente o presidente Paulo Caldas, em muitas circunstâncias ao longo do seu percurso, telefonava-me e perguntava-me a opinião sobre determinados projectos ou assuntos. Porque sempre estive muito ligado à parte da construção e das finanças e nasci no Cartaxo, tenho cá a minha família. Sempre tive uma relação afectiva com o Cartaxo, mesmo quando estive na Turquia ou na Alemanha.Conhece Paulo Caldas de que andanças?A minha mãe foi professora do Paulo Caldas e algumas vezes ele ia lá a casa ter explicações mais o irmão.Passou a dormir pior desde que assumiu a presidência da Câmara do Cartaxo?Sempre dormi pouco. As pessoas que me são próximas dizem que sou viciado no trabalho. Por vezes, quando estava colocado na Escola Prática de Engenharia, em Tancos, entrava às 08h00, às 18h00 estava no Cartaxo e às duas da manhã ia para lá outra vez, descansar umas quatro horinhas porque sabia que às seis tinha que estar de pé para estar pronto às sete.As preocupações aumentaram muito com a assumpção da presidência da câmara?Aumentaram. Mesmo nos períodos de descanso sonho com soluções. É um descanso em vigília. Mas não é algo que me sobrecarregue ou desanime. Antes pelo contrário. Esta passagem de testemunho já estava definida há muito?O tempo não. Em termos de conceito sim. Há um ano que estaria a ser preparado um conjunto de vectores que conferissem estabilidade e não prejudicassem aquilo que é a vida da comunidade, que é o fundamental. Mas a data não estava definida em concreto.Presume-se que esta transição é uma forma de lhe dar visibilidade e experiência acrescidas nessas funções, para daqui a dois anos se poder recandidatar?Sim, é uma boa análise. Ao fim e ao cabo é ter dois anos para mostrar aquilo que tenho para dar, a capacidade de resposta que temos como equipa e a partir daí a população há-de avaliar.Então é um dado adquirido a sua candidatura.Não posso dizer que seja um dado adquirido. Posso dizer é que seria nesta fase incompetente da minha parte dizer que estava a trabalhar afincadamente neste projecto, e naquilo que é uma visão da Cartaxo em profundidade, e depois dizer que não estaria disponível para abraçar o desafio da continuidade e continuar com o projecto.O cenário parece ser muito difícil para quem é agora lançado para os dois anos que faltam de mandato.Não tenho medo do que aí vem. Há que ter astúcia, engenho, audácia para superar estes desafios e para transformar estes cenários em realidades de concretização para a nossa população. Temos de pôr mãos à obra sem receios.Sente-se com capacidade e com equipa para enfrentar esses desafios?Absolutamente. Se não sentisse capacidade não aceitaria este desafio. Os vereadores do PSD já disseram mais do que uma vez que uma equipa constituída por Paulo Varanda, Fernando Martins e Pedro Gil revela bastante inexperiência e desconhecimento de dossiês.As pessoas e os partidos que tecem esses comentários alguma vez governaram? Existe credibilidade sequer para afirmar aquilo que acabou de dizer? Temos confiança e vontade de trabalhar e o conhecimento também existe. Chegaram a apelidar-me de super-vereador e de super-vice-presidente. Mas tem uma equipa muito curta para o que é normal em municípios desta dimensão, só com um vereador a tempo inteiro e outro a meio tempo para além do senhor.Há que ter a consciência que o patamar executivo tem é de se apoiar muito bem na estrutura profissional da câmara. Temos que apostar na vertente que responsabilize as respostas da câmara naquilo que são as suas competências e atribuições. E essas não podem depender de um político. O presidente e os vereadores têm que estar preocupados com a estratégia e com o patamar político, pois não são técnicos. Não é por acaso que uma pessoa com a quarta classe se pode candidatar a uma câmara. Será que essa pessoa é menos homem para assumir responsabilidades do que eu? Não!Como é que se consegue acompanhar tantas áreas de actividade e tantos dossiês com dois políticos a tempo inteiro?Esta casa nos últimos anos sempre foi assim governada. Não é um modelo oligárquico ou absolutista, é perfeitamente democrático e descentralizador. Tem uma vereadora da maioria que raramente comparece às reuniões de câmara. O que até pode criar problemas funcionais à maioria em termos de votações, porque se falta outro vereador do PS perdem a maioria. Que solução pode haver para essa questão?Teremos que nas próximas semanas verificar dessa disponibilidade, porque o compromisso existe, a relação existe, a dra. Rita é uma pessoa competente e já deu provas disso em várias áreas da sua vida. O que pode acontecer?Há duas modalidades: ou a dra. Rita se mantém nesta visão e mesmo com estas dificuldades consegue responder; ou porventura poderá vir, dentro da sua opção e leitura de equipa, a suspender o mandato. Já sabe quanto deve a Câmara do Cartaxo efectivamente?São 20 milhões 604 mil euros de dívida a curto prazo e 20 milhões 914 mil euros de médio e longo prazo. Total: 41 milhões 518 mil euros. Mais os compromissos da empresa municipal Rumo 2020, que são de 6,1 milhões de euros.Adepto da corrida e dos petiscosAos 34 anos, Paulo Varanda assume a presidência da câmara da cidade onde nasceu, prosseguindo a tradição cartaxeira de eleger (ou nomear) jovens autarcas para a sua liderança. Casado, pai de três filhos de 3, 6 e 8 anos, Paulo Varanda ficou conhecido como super-vereador pelos pelouros que acumulou enquanto vice-presidente do executivo. Entrava habitualmente ao serviço às oito da manhã e não tinha horas de sair, comendo por vezes apenas umas sandes ao almoço. O ritmo é diferente como presidente mas pode alterar-se. “Hoje ainda sou o último a apagar as luzes da câmara”, diz.Apoio familiar para uma carreira de autarca nunca faltou mas confessa que essa mudança de vida foi uma surpresa, principalmente para a mulher que, no entanto, foi compreensiva. A rotina exigente de autarca é quebrada ao fim-de-semana entre os amigos de sempre. Filhos e mulher compensam a sua ausência durante a semana acompanhando-o em actos oficiais.A corrida é o desporto de eleição deste capitão do Exército, da arma de Engenharia. Gosta também de cozinhar ao fim de semana para espairecer. As especialidades são típicas da terra, como guisados e pratos no forno, chispe e mão de vaca. “Adoro petiscar apesar do pouco tempo que agora tenho”. Católico não praticante, não faz da religião uma obrigação. Adepto do Benfica, mas não praticante, não faz do futebol um fundamentalismo. “Gosto que o Benfica ganhe e que o Sporting ganhe às vezes, porque a minha mulher e o meu filho mais novo são do Sporting”.Diz que é uma pessoa poupada no seu dia a dia mas não é forreta. “Tenho preocupações com a poupança ao nível daquilo que são os recursos, seja na câmara ou em casa. Faço isso na minha vida pessoal e acredito que são bons princípios que passo, até para os meus filhos”.Militares não se devem manifestar na ruaComo encara a recente manifestação de militares, seus camaradas, em Lisboa?Acho que não faz sentido. Pelo menos da forma como tem sito feita e demonstrada não enobrece a condição militar. Muito menos com declarações de alguns históricos, como o senhor coronel Otelo, que respeito reconhecendo o papel que ele e outros militares tiveram. Mas tem uma visão presa a um passado com erros que nos levou ao ponto em que estamos hoje. Como dizia alguém, os militares devem estar nos quartéis?Não, os militares são pessoas como as outras. Os militares têm que ter a sua opinião bem formada e sobre aquilo que se passa na comunidade, na política. No respeito por estes princípios, os militares têm canais para as suas chefias fazerem sentir as suas necessidades e têm associações profissionais para o efeito. Esta ligação do militar ao poder político tem muito espaço para ser melhorada, através dos canais institucionais e não através de rua.Que episódios mais recorda das missões militares internacionais?Não diria um episódio porque os mais marcantes são meus mas diria que marcam muito pelo bem que se faz, pela entrega em operações de apoio à paz. É de uma dignidade que exige muito de quem lá está. Aqui deste lado não temos noção da dureza da vida em locais como o Líbano ou o Afeganistão, onde se dá valor ao facto de ter um colchão para dormir.Um militar rendido ao bichinho da políticaA concelhia do PS, partido que apoia a maioria na câmara, defende o voto contra a concessão do estacionamento a privados. Que comentário lhe merece essa posição?Sobre isso, e por uma questão de lealdade ao partido que me apoia, não faço comentários. Não faço comentários sobre as posições tomadas sem ouvir o executivo.E tem algum comentário a fazer acerca do voto de confiança que a mesma concelhia do PS deu à sua gestão. Aí tenho uma opinião. É um validar da confiança no trabalho feito nestes últimos anos e na história democrática do Cartaxo. É validar o trabalho de todos os autarcas, confiar neste caminho, naquilo que foi o bom e o menos bom, o apoio que vamos ter nas pastas estratégicas. O que só nos deixa satisfeitos, embora não fosse mais do que o esperado. A população tem a confiança, sempre a demonstrou, e o partido acaba por transpor essa confiança para o plano partidário e dizer: continuem, estão a fazer um bom trabalho. Que tipo de relacionamento tem com o presidente da concelhia do PS, Pedro Ribeiro?É um relacionamento saudável, relativamente recente e que se espera que seja fortalecido nesta partilha de visões do partido e do executivo da câmara.Admite filiar-se no PS?Não tenho essa possibilidade, por ser militar. Não poderei ser militante nos próximos tempos.Até passar à reserva?Sim. A vida militar passou à história, ou pondera regressar?Nada está fora de hipóteses.Mas o bichinho da política, quando se entranha, é difícil de sair.Isso é verdade. De uma política positiva e de concretização, de proximidade.Falando nessa política de concretização e de proximidade, que obras de mandato lhe restam para tentar convencer os eleitores daqui a dois anos?Estas obras não são tanto para convencer o eleitorado mas sim fruto de necessidades levantadas. Mas ajudam um bocado. Se respondermos a necessidades é natural que depois a contrapartida em termos de reconhecimento também exista. Algumas prioridades são na área da educação. Ainda temos uma escola EB2/3 que já está iniciada e um complemento do centro escolar de Pontével com a valência de escola básica e jardim de infância. Outro grande pilar é o do desenvolvimento económico, com as áreas empresariais, quer o Valleypark quer a área do Casal Branco.Há grandes investimentos falados, como o da Avipronto e outro ligado às novas tecnologias com capitais indianos, o projecto “Cidade do Conhecimento”. Como estão esses processos?Nesta fase temos de ser muito prudentes na análise. A Avipronto continua a demonstrar a intenção de investir, mas brevemente teremos que nos sentar e naquilo que for a nossa parte continuar a apoiar esta visão de investimento. Quanto à “Cidade do Conhecimento”?Também havemos de ter novidades nos próximos meses e continua a haver interesse por parte de quem gere o procedimento a nível nacional e do investidor. Mas é uma situação que exige uma visão muito sóbria e objectiva, tendo sempre uma perspectiva ambiciosa e de querer chamar a nós os investimentos. Revelou que em tempos Paulo Caldas lhe pedia conselhos quando era presidente de câmara. Pensa agora retribuir a gentileza e pedir-lhe conselhos? Ou já lhe pediu?A ligação que existiu para trás certamente será a ligação que vai continuar para a frente, não obstante eventuais diferenças de opinião. Pessoas com valor, demonstrado até no terreno, têm que ser ouvidas. Como Paulo Caldas e muitas outras aqui no concelho.Deparou-se com alguma surpresa desagradável após assumir a presidência da câmara?Não. Também estamos a falar apenas de seis dias de mandato como presidente (nota da redacção: a entrevista foi feita no dia 18 de Novembro). Referendo sobre concessão do estacionamento tarifado foi extemporâneoVai haver um referendo sobre a concessão do estacionamento tarifado a privados no centro da cidade. E se o povo disser não?O estacionamento vai ser tarifado. Mas mesmo que o sim ganhe nada nos diz que o estacionamento seja concessionado a um privado. Então foi uma precipitação esta questão do referendo?Acredito que sim, é completamente extemporâneo. Ainda para mais quando se assumem como variáveis estanques 620 lugares de estacionamento e 30 anos de concessão. Isto demonstra que não foi analisada toda a documentação distribuída. Essas variáveis foram avançadas apenas como hipótese. Mas nada está trancado. Não há decisão nenhuma a esse nível. O modelo pode passar para 15 anos ou para 300 lugares, por exemplo.Considera este investimento do Parque Central uma mais valia para o Cartaxo? A minha análise não é só na óptica do estacionamento. É útil porque permite ao Cartaxo desenvolver-se tendo aqui um grande pilar. É vir aqui ao sábado de manhã e ver a quantidade de famílias, de mais e menos jovens que andam aqui com as bicicletas, com os skates, com os patins, a passear, a conviver. E a partir daí já se consegue concluir que uma infraestrutura destas já traz este nível de mais valias para a comunidade. E 85 por cento do investimento foi dinheiro que veio de fora.
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