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O instrutor de condução que queria ser arquitecto

O instrutor de condução que queria ser arquitecto

Aos 80 anos Francisco Diogo Aguiar continua a trabalhar

Parar é morrer e nem os seus 80 anos impedem Francisco Diogo Aguiar de continuar a trabalhar no ensino da condução e gerir uma das escolas mais antigas da cidade de Alverca. De desempregado a empresário, a vida de Francisco Aguiar é um percurso tão sinuoso como as estradas da Guarda, a sua terra natal.

Aos 80 anos, o empresário Francisco Diogo Aguiar continua a trabalhar “de segunda a sexta-feira, de manhã à noite”, no ensino da condução. “É até morrer”, garante. O responsável de uma das escolas mais antigas da cidade de Alverca do Ribatejo diz que não se cansa do trabalho, sobretudo tratando-se de uma actividade que sempre adorou - o ensino da condução.Gostava de ter sido arquitecto mas a morte prematura do pai deixou-o órfão juntamente com outros nove irmãos e impediu-o de entrar no liceu. Nasceu na Guarda e aos 17 anos foi obrigado a procurar trabalho para poder sobreviver. Em 1948 Portugal era um país pobre e onde o trabalho era escasso. Francisco cresceu a ouvir o regime de Salazar chamar Portugal às colónias e decidiu embarcar para Moçambique. Ficou em África durante 28 anos.“Paguei três contos (15 euros) pela viagem, embarquei no navio Pátria e arranquei mas quando lá cheguei não havia trabalho. Moçambique antes dos anos 60 era muito diferente. Não havia prédios, não havia estradas, não havia nada”, recorda a O MIRANTE. O seu primeiro emprego nas colónias foi numa escola de condução que comprou a fiado por 25 contos (125 euros). “A ideia era pagar a escola com o pouco que fosse ganhando”, diz com um sorriso. Foi em África que tirou o curso de instrutor e mais tarde de examinador. O negócio foi crescendo e antes do 25 de Abril de 1974 já tinha em Moçambique mais de 30 carros de ensino a circular.“Fui apanhado na revolução e tive de deixar tudo para trás, foi tudo nacionalizado, as minhas escolas, as minhas casas, tudo. Não pude trazer nada”, lamenta. Retornou a Portugal, país de que conhecia pouco mais do que a sua terra natal. “Como conhecia o Costa Pereira, guarda-redes do Benfica que estava aqui em Alverca, arrisquei e vim para aqui”, recorda. Quando o Governo decidiu atribuir escolas de condução aos retornados de África, Francisco Diogo Aguiar concorreu e abriu uma escola de ensino em Alverca. “Fui muito ajudado pelos alverquenses. Quando abri a escola ao fim de um mês já a tinha superlotada, toda a gente me queria ajudar”, recorda. Começou a ensinar em Portugal com carros muito velhos. O automóvel tinha 30 anos e o camião 25. Alguns carros já eram táxis há 15 anos antes de virem para a escola. À medida que fomos ganhando algum dinheiro fomos renovando a frota”, explica.Actualmente é detentor do grupo Coimbra, que tem sete escolas no concelho de Vila Franca e do grupo Colombo, que tem oito escolas na zona de Lisboa e Odivelas. Hoje em dia a concorrência é forte e o negócio ressente-se. “O negócio está mau. Há 10 anos havia 500 escolas no país, hoje são 1500. A concorrência é uma loucura. Há empresas a venderem cartas por 350 euros. Estas cartas são impossíveis, não há hipótese de alguém dar 32 aulas obrigatórias cobrando esse valor. Essas escolas só podem viver à base de vigarice. Infelizmente o ramo está assim”, lamenta. A cidade de Alverca é para Francisco Diogo Aguiar um espaço agradável. “Orgulho-me de poder sair à rua de cabeça erguida e sentir-me como se estivesse em casa”, refere. Em 2010 recebeu o galardão de mérito empresarial da cidade de Alverca.
O instrutor de condução que queria ser arquitecto

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