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Quando o telefone toca durante a noite

Depoimento
A semana passada estava em casa, a descomprimir depois de mais um fecho de edição do jornal, já a noite ia alta, quando toca o telefone. “Houve uma derrocada em Alcanhões e há um morto. Podes lá ir?”, diz-me o chefe de redacção do outro lado da linha. “Claro que sim”, respondi. Deixei a revista do Expresso que estava ler enquanto espreitava pelo canto do olho, de vez em quando, para a televisão. Com a pressa vesti o que tinha à mão e lá fui eu, pela primeira vez, para o terreno de fato de treino.Um jornalista não tem horários certos nem rotina e nem sempre quem nos rodeia entende como é que podemos gostar de trabalhar a meio da noite ou ao fim-de-semana. Esse é o segredo. Retenho na memória as palavras de quem já anda nisto há muito tempo e sempre me disse que para se ser jornalista é preciso ter verdadeira paixão por aquilo que se faz. Ter capacidade para deixar o convívio com os amigos ou com a família, o aconchego do lar para estar disponível para trabalhar a qualquer hora. Quem não o consegue fazer nunca vai ter paixão naquilo que faz. O que me fascina é poder estar no local dos acontecimentos, o mais rápido possível, sentir a adrenalina e descobrir tudo o que se passou para poder informar os nossos leitores. Mesmo que isso implique perder horas de sono porque o esforço vale a pena. Nem sempre o trabalho é facilitado sobretudo quando há acidentes que envolvem mortos. Há que preservar as vítimas, é verdade, mas a última coisa que o jornalista quer é expor a vítima. Os trabalhos mais difíceis são acidentes que envolvem vítimas mortais. Recordo nitidamente o primeiro trabalho desse género. Uma senhora colhida por um comboio na estação do Vale de Santarém. Não são imagens fáceis de ver mas observar o cenário através da objectiva da máquina fotográfica ajuda a tornar a situação menos complicada. Não esqueço a senhora atropelada quando atravessava uma das avenidas mais movimentadas de Santarém depois de uma visita ao Hospital. Ou, mais recentemente, o acidente de uma família que vivia em Alpiarça e embateu numa carrinha perto de Benfica do Ribatejo. Uma criança de ano e meio morreu a caminho do hospital. É impossível não pensar na dor das famílias que perdem entes queridos em segundos mas enquanto está no ‘teatro de operações’ um jornalista deve evitar pensar nisso e concentrar-se em fazer o seu trabalho o melhor possível.* Jornalista

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