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Jovem da Golegã conquistou três medalhas no Campeonato da Europa de Natação para Deficientes

Pedro Madeira é um lutador, portador do Síndrome de Down, é um atleta de eleição e por isso recebeu um voto de louvor aprovado por unanimidade na Assembleia Municipal da Golegã

Os pais de Pedro Madeira souberam logo à nascença que o filho era portador do Síndrome de Down ou trissomia 21. Mas não deixaram de dar graças a Deus por lhe trazer aquele rebento ao mundo. Tudo têm feito para que o Pedro seja feliz. E pelos vistos estão a ter a felicidade de ver o jovem a atingir patamares de vida que nunca pensaram ser possível.

“Soubemos sempre que o Pedro nasceu com o problema mas nunca lhe dissemos, optámos por tentar que fizesse uma vida o mais normal possível. Começou a nadar ainda não tinha feito os quatro anos, depois fizemos um pequeno ginásio aqui em casa para ele treinar. Contrariámos sempre aqueles que queriam que o colocássemos num centro de recuperação, fizemos força para que ele andasse sempre no ensino normal, e um dia fomos surpreendidos por ele ao dizer-nos que sabia bem que sofria de trissomia 21”, disse Carlos Madeira, pai do jovem.Pedro Madeira fez a escola na Golegã, onde conseguiu fazer o nono ano de escolaridade. “Foi uma grande vitória que se fica a dever à minha segunda mãe, a professora Cristina Rosa, que nunca desistiu de mim, tenho-a aqui no meu coração”, diz Pedro Madeira enquanto coloca a mão no peito. O pai confirma o grande empenhamento da professora. “Devemos muito à professora Cristina, sem o empenho dela o Pedro nunca teria conseguido chegar onde chegou nos estudos”, garante Carlos Madeira. Mas o jovem tem muito mérito seu no desenrolar da sua vida, desenvolveu muitas actividades de que muita gente se orgulha. Para além da natação praticou atletismo e ginástica, na Zona Alta de Torres Novas, pinta quadros com rara expressividade, canta e é voluntário na ANTE - Associação Nacional de Turismo Equestre, onde ajuda a tratar dos cavalos e monta a cavalo. É com muita alegria que Pedro Madeira nos leva até à sua sala de troféus, que é ao mesmo tempo o seu quarto de dormir e aponta dizendo “esta taça é da ginástica, esta é do atletismo, estes são prémios das gincanas de cavalos”, vai dizendo com o brilho de alegria nos olhos, até que chega às medalhas da natação. “Estas é que são as melhores, chorei muito quando as conquistei, foi de alegria”, disse com simplicidade. Carlos Madeira garante que foi pena que o seu filho não tivesse ido há mais tempo para a natação de competição. “Só há três anos é que nos encontrámos com outro jovem com o mesmo problema do Pedro, que é presença assídua em competições para os jovens com Síndrome de Down, e em competição o Pedro venceu. A mãe do jovem falou comigo e aconselhou-me a contactar a APDA - Associação Portuguesa de Deficientes da Amadora, que é especializada nestes casos, fiz isso e começámos a deslocar-nos uma vez por semana à Amadora para treinar. Foi assim que o Pedro começou a conquistar medalhas e foi chamado à Selecção Nacional”, explicou o pai do jovem.Natação mais a sério apareceu com o EuropeuHá poucos meses os técnicos da Selecção apresentaram outro desafio ao Pedro. Propuseram-lhe treinar com mais assiduidade e entusiasmo. O jovem e os pais aceitaram, e desenvolveram esforços para encontrar formas de treinar com mais força, e aí mais uma vez se fez ouvir a voz e a vontade da professora Cristina. É esposa do presidente do Núcleo Sportinguista da Golegã e falou com o marido e assim conseguiram que “o Pedro fosse integrado na equipa de natação do clube. O Pedro treina todos os dias três horas. Mais uma vez estamos agradecidos aos dirigentes do Núcleo e ao professor João Mascarenhas, que o treinam sem levarem um tostão”, disse comovido Carlos Madeira. Mas a evolução foi muito rápida, e pouco tempo depois já fazia bons tempos. “Chegou ao dia da primeira prova, estava nervoso, mas a prova até correu bem, fiquei nos primeiros lugares e ganhei mais entusiasmo”, referiu Pedro Madeira.O jovem passou então a treinar na Golegã com o técnico João Mascarenhas, e os resultados deram um salto muito grande. “Rapidamente se aproximou de vários recordes nacionais. Em treinos já consegui ultrapassar muitos deles. Em prova também é um dos melhores nacionais”, diz o jovem atleta. Que se considera completamente integrado no grupo de atletas goleganenses que treinam com ele.E a grande notícia chegou quando menos esperava. “Não esperava nada ser chamado à Selecção Nacional. Quando recebi a notícia de que estava convocado para ir ao Europeu, até chorei de alegria. O entusiasmo redobrou e agora depois de ter conquistado duas medalhas de ouro e uma de prata no primeiro Campeonato da Europa para Atletas com Síndrome de Down ou trissomia 21, treino ainda com mais vontade. Quero trazer medalhas do próximo Campeonato do Mundo”, diz o Pedro com um comovente esgar de felicidade.Até agora os cavalos eram a grande paixão do Pedro, mas agora é a natação que enche o coração do jovem de alegria. “Adoro ajudar a tratar dos cavalos e a montar, mas agora a natação é que me enche de alegria, o meu coração bate muito quando vou receber as medalhas envolto na bandeira nacional”, diz o jovem.Não tem sido fácil para os pais do Pedro conseguirem fazer face a todas estas actividades do jovem. “Os apoios oficiais são muito poucos, tem sido uma luta constante, temos gasto muito dinheiro com o Pedro, mas tem valido a pena, é um jovem que faz uma vida acima do normal para o problema que tem. Só a ajuda de algumas pessoas particulares, de que não vou citar nomes com receio de me esquecer de alguém, tornou possível ver toda esta felicidade expressa pelo Pedro”, garante o pai, que acrescenta que no caso da sua presença na Selecção as despesas são suportadas pela Federação.O que é Síndrome de Down ou trissomia 21O Síndrome de Down é a forma mais frequente de atraso mental causada por uma anomalia cromossómica microscopicamente demonstrável. É causada pela ocorrência de três (trissomia) cromossomas 21, na sua totalidade ou de uma porção fundamental dele. As pessoas com Síndrome de Down costumam ser menores e ter um desenvolvimento físico e mental mais lento que as pessoas sem a síndrome. A maior parte tem atraso mental de leve a moderado; algumas não apresentam atraso e situam-se entre as faixas limítrofes e médias baixa, outras ainda podem ter atraso mental severo. Existe uma grande variação na capacidade mental e no progresso de desenvolvimento das crianças com síndrome de Down. O desenvolvimento motor destas crianças também é mais lento. Enquanto as crianças sem síndrome costumam caminhar com 12 a 14 meses de idade, as crianças afectadas geralmente aprendem a andar com 15 a 36 meses.

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