A banda saiu à rua para lembrar que Alves Redol nasceu há 100 anos
Cancioneiro do Ribatejo, reeditado com a chancela de O MIRANTE, foi apresentado em Vila Franca de Xira
No dia em que se comemorou o centenário do nascimento de Alves Redol, 29 de Dezembro, a banda do Ateneu Artístico Vilafranquense saiu à rua. No Museu do Neo-Realismo foi lançada a segunda edição de “Cancioneiro do Ribatejo” com a chancela de O MIRANTE. A obra, que passa para o papel a tradição oral, foi editada em 1950 e só agora voltou a ir ao prelo.
A banda do Ateneu Artístico Vilafranquense saiu à rua na quinta-feira, 29 de Dezembro, ao final da tarde para lembrar que Alves Redol nasceu há um século. O momento, integrado nas comemorações do centenário do escritor, evocou o dia do nascimento do autor neo-realista, natural de Vila Franca de Xira.“A banda surpreendeu no regresso a casa um conjunto de cidadãos que andam no lufa-lufa do dia a dia”, realçou a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha.Os músicos percorreram a avenida Alves Redol até ao átrio do Museu do Neo-Realismo onde foi lançada a edição fac-similada do Cancioneiro do Ribatejo de Alves Redol com a chancela de O MIRANTE que se associou assim às comemorações do centenário.Esta é a segunda edição de um livro lançado em 1950 que estava fora do mercado há muitos anos e constitui um dos documentos mais importantes das tradições ribatejanas. A organização e prefácio é da responsabilidade de Alves Redol. O filho do escritor, António Mota Redol, lembrou que a editora do autor publicou outras obras do escritor mas não se mostrou interessada em renovar esta edição. “Na minha opinião acho que estão enganados porque há cada vez mais pessoas a interessar-se pelas tradições e por este tipo de património e não só por igrejas e monumentos”, analisou.António Mota Redol disse a O MIRANTE que o livro evoca um património que teria desaparecido se não tivesse sido reunido neste livro. “São quadras feitas por pessoas analfabetas e por isso tinham que ser outros a escrevê-las. A maior parte delas foram recolhidas assim”, ilustra.“Quando o sol se levanta eu me levanto/ Quando o sol se deita, eu me deito/ Eu faço um poço para beber, Eu cultivo a terra para comer…/ Para quê, então, um imperador?”, citou o director-geral de O MIRANTE, Joaquim António Emídio, do livro que mostra “a vida do povo cantada pelo povo”.Durante a sessão, para evitar que o pai se emocionasse, foi a filha, Catarina Redol, que agradeceu a forma como o avô foi acarinhado ao longo das comemorações. A neta do escritor falou a O MIRANTE do livro que mais a marcou escrito por um avô que já não conheceu. “Penso que a obra que conheço melhor é «Constantino, guardador de vacas e de sonhos» que já li e reli algumas vezes. Olho o Constantino como um rapaz engraçado com algum humor e amor pela vida e pela alegria”, testemunha. A sessão evocativa do nascimento do escritor Alves Redol incluiu ainda o lançamento do carimbo comemorativo do centenário do escritor, iniciativa dos CTT. Alves Redol faleceu a 29 de Novembro de 1969, aos 58 anos, deixando uma vasta obra publicada, com contos, romances, teatro e histórias para a infância.As comemorações decorreram ao longo de 2011 e vão prolongar-se em 2012 com a entrega do Prémio Literário Alves Redol, romance e conto, e com a realização, de 19 a 21 de Janeiro, do Congresso Internacional “Centenário de Alves Redol”, organizado em conjunto com o Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.O poema colectivo “Esta autobiografia colectiva - seja-me permitida a maneira de dizer - mostra a massa anónima tal qual é, sem aqueles receios, muitas vezes justificados, de evitar confidências a estranhos, como já o denunciava o Doutor Leite de Vasconcelos nos seus conselhos aos apaixonados das recolhas etnográficas. Cantando as suas quadras o humilde faz confidências a si próprio, sem acanhamentos nem subserviências de qualquer índole”, explica Alves Redol no prefácio do “Cancioneiro do Ribatejo”.O facto de publicar este cancioneiro como um poema colectivo não lhe retira, julga o autor, espontaneidade. “A minha interferência fez-se na selecção de um vasto material recolhido - três mil quadras - e na interpretação do conjunto de uma obra que muitas gerações foram criando no dia a dia ingrato da sua existência”. As pesquisas etnográficas que o autor reuniu com a ajuda também de familiares, como recordou o filho do escritor, evocam a tradição oral do Ribatejo desde Paio Mendes até Alhandra. Têm alusões ao trabalho, ao namoro, ao vestuário, ao rio e até aos astros. “O Tejo quando vai cheio/ no meio ajunta a espuma/ rapaz que namora duas/ não tem vergonha nenhuma” (Vila Franca de Xira).À MARGEMNão é todos os dias que se homenageia um homem que comemora cem anos de nascimento. Foi bonita a festa em honra da Obra e da figura de Alves Redol. O escritor Vilafranquense merece pela coragem que teve em lutar pela mudança de mentalidades e acima de tudo pela arte que teve ao escrever dos mais belos livros da literatura universal.*****António Redol merece o êxito da comemoração deste centenário que tem vindo a ser comemorado ao longo de 2001 e só vai acabar quando se esfumarem as emoções. O filho do autor de “Avieiros” tem comparecido a quase todas as iniciativas e como é seu timbre deixa o protagonismo para os que o ajudam a fazer a festa. A desculpa são as lágrimas sempre à flor dos olhos. “És um piegas” gritam-lhe alguns amigos da plateia sempre que ele recusa voltar a repetir-se. Mas é de registar a humildade e a postura do antigo engenheiro da Junta de Energia Nuclear. *****A ideia de fazer sair à rua, ao cair da tarde, a banda Vilafranquense foi a melhor forma de anunciar a efeméride. O MIRANTE testemunhou a reacção dos transeuntes encantados com o som da banda. Naturalmente havia sempre alguém a passar a informação das razões porque a banda ia a passar. É singular a forma como os vila-franquenses gostam da sua Banda. ***** O vice-presidente dos CTT, Pedro Coelho, é um ribatejano com grandes amizades em Vila Franca de Xira. Neste reencontro com Maria da Luz Rosinha alguém lembrou um episódio que já andava esquecido. Nas eleições em que Rosinha disputou a presidência da câmara com Daniel Branco, até entre socialistas a ideia geral era que Rosinha nunca ganharia. De tal forma que o camarada Carlos Coelho disse, entre socialistas, que caso Rosinha ganhasse atravessava a ponte Marechal Carmona com ela às cavalitas. Rosinha ganhou e a promessa ainda está por cumprir. Já passaram mais de 10 anos mas os sorrisos ainda duram a propósito deste episódio.*****Rosinha é dos poucos presidentes de câmara do país que pode sair à rua sem correr o risco de lhe chamarem caloteira. Há autarcas que já nem vão a certas iniciativas com medo de serem enxovalhados pelos credores que estão na iminência de despedirem trabalhadores quando não é o caso de terem que fechar as empresas devido aos calotes das suas autarquias. Se tudo continuar como até aqui ainda vamos ter autarcas virtuais e comemorações só no papel. Rosinha não será excepção porque nessa altura já andará por outras paragens uma vez que o seu reinado de autarca em Vila Franca de Xira acaba com o fim deste mandato.*****O MIRANTE publicou o livro que mais ninguém quis publicar embora estejam aí nas livrarias, publicadas pela Leya, as obras mais conhecidas do autor de Gaibéus. O Cancioneiro do Ribatejo não vende, disseram eles. Ai vende vende pensou o editor de O MIRANTE. Sem surpresa venderam-se três dezenas de exemplares na tarde/noite desta sessão de homenagem ao escritor. Nada mau.
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