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"Sou incapaz de trair um amigo"

"Sou incapaz de trair um amigo"

Maria Leonor Parracho, 52 anos, presidente da Junta de Freguesia de Benavente

A presidente da Junta de Freguesia de Benavente, Maria Leonor Parracho, de 52 anos, começou a trabalhar aos 14 anos. Nunca deixou de estudar para conseguir um emprego melhor. Na empresa onde trabalhou durante 20 anos como escriturária, ajudava os vizinhos e amigos com as cartas, as facturas ou a marcação de consultas. Depois de ficar desempregada decidiu candidatar-se à junta e tornou-se a primeira mulher presidente de junta no concelho de Benavente. Está prestes a terminar o último mandato e não coloca de parte a hipótese de emigrar.

O dia mais esperado do mês era quando chegava a biblioteca da Gulbenkian. Esperávamos com muita ansiedade pelo dia em que a carrinha regressava novamente a Benavente para podermos trocar os livros. Desde pequena que sou uma grande leitora e sempre gostei dos escritores russos. Não tinha chegado ainda aos 14 anos e já tinha lido “Guerra e Paz” de Tolstoi e “Os Miseráveis” de Victor Hugo. Hoje continuo a ler porque sou muito curiosa e gosto de estar sempre a aprender. O meu escritor preferido da actualidade é o José Saramago. Tinha 14 anos quando comecei a trabalhar. Sou a mais nova de nove irmãos. Os meus pais trabalhavam no campo e naquela altura vivia-se muito mal. Tive a vantagem de nunca precisar de ir para o campo, ao contrário das minhas irmãs mais velhas. Entrei para uma fábrica onde permaneci até aos 20 anos. Sempre continuei a estudar à noite e tirei o Curso Geral de Comércio. Aos 21 anos fui trabalhar como escriturária para uma empresa aqui em Benavente onde permaneci durante 20 anos. Hoje continuo a dizer que é a minha segunda família. Sempre fui muito bem tratada, acarinhada e apoiada. Incentivaram-me a estudar e ainda me pagaram alguns cursos. Não vivi muito a infância ou adolescência porque comecei a namorar aos 13 anos. Naquela altura, mal se começava a trabalhar também se começava a namorar. Havia a preocupação com o enxoval e era uma grande responsabilidade. Sinto que não gozei muito da infância e da juventude. Não tive muito tempo para brincar. Entretanto casei aos 21 anos com o namorado de sempre que ainda é o meu marido. Tenho já três filhos, uma neta de 11 anos e no próximo mês vou ser novamente avó. O meu patrão sempre me disse que dava uma boa presidente de Junta de Freguesia. No escritório onde trabalhava, ajudava todas as vizinhas e amigos que me procuravam. Lia as cartas, tratava das facturas da água e da luz e marcava consultas. O meu patrão nunca se importou, bem pelo contrário. A minha mãe também costumava dizer que qualquer dia abria uma sede da Junta no escritório.Fui a primeira mulher presidente de uma junta em Benavente. Em 2000 vi-me desempregada, os filhos já estavam crescidos e como sempre gostei muito das coisas ligadas à política resolvi candidatar-me incentivada por alguns amigos. Nunca encontrei resistência por ser mulher. As mulheres fazem falta na política e na vida da comunidade. Estamos nas coisas de um modo mais romântico e trabalhamos com o coração. A sensibilidade é maior. O que mais me custa são as carências das famílias que vêm pedir ajuda. As juntas vivem com orçamentos muito reduzidos e por muita vontade que se tenha, não conseguimos solucionar todos os problemas. Quando está muito calor, ou chove muito, as pessoas costumam dizer que a culpa é da presidente da junta para se meterem comigo. Estou contra a imposição da limitação de mandatos. As populações é que devem decidir quem preferem num determinado cargo. Tenho muita pena de não poder-me recandidatar. Não coloco de parte a hipótese de emigrar. Devido às dificuldades que estamos a viver não sei qual vai ser o meu futuro. Tenho 52 anos e quero continuar a trabalhar. As tarefas domésticas ajudam-me a desligar do trabalho e a concentrar noutros assuntos. Tenho vindo também a cozinhar cada vez melhor ao longo dos anos. Um arroz de pato, uma feijoada ou um cozido à portuguesa são os pratos onde tenho mais sucesso. Para além das lides domésticas, o resto do tempo livre é dedicado à família, à leitura ou a um filme ou série. Gosto de ficar por casa porque cá fora já ando diariamente. Sou incapaz de trair um amigo. Não gosto de traições e fico muito sentida quando vejo que me atraiçoaram. Sou capaz de perdoar mas as coisas nunca mais são iguais. Sou muito leal e dedicada aos amigos e espero sempre o mesmo em troca. Mesmo assim continuo a acreditar muito nas pessoas. Vou ser sempre assim, já está em mim. Eduarda Sousa
"Sou incapaz de trair um amigo"

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