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Agência Funerária “Os Pastorinhos” – Fátima

Agência Funerária “Os Pastorinhos” – Fátima

“Uma pessoa nunca se habitua à morte por mais anos que trabalhe no ramo”
Augusto José das Neves Filipe, 73 anos, trabalha no ramo funerário há meio século. Com uma grande sobriedade, faz de tudo um pouco na agência “Os Pastorinhos”, localizada em Fátima. É ele que, após o contacto inicial com as famílias enlutadas, fala com o padre ou com as Confrarias, estabelece contactos com as juntas de freguesia por causa do cemitério, vai ao registo civil ou buscar a certidão de óbito ao médico legista e trata dos papéis junto da Segurança Social. “Gosto de fazer o trabalho que me é incumbido o melhor possível”, refere. Confessa que apesar dos anos que já leva na profissão ainda sente algum desconforto. “Já não é tanto como quando comecei mas não consigo ficar indiferente perante a morte de alguém. “Choco-me com todos os funerais que faço, pelo menos quando entro dentro da igreja”, confessa. Foi um amigo, que fabricava urnas, que o influenciou a trabalhar no ramo. Começou por vender urnas, aos 23 anos, num espaço agregado ao mini-mercado que ainda gere, uma vez que a legislação assim o permitia, mas o negócio depressa evoluiu. O salto deu-se quando o encarregado de uma Casa Religiosa de Fátima, com a qual trabalhava, lhe disse que apesar de gostar muito dos seus serviços teria que os dispensar uma vez que não tinha carro funerário. “Entre Fátima e a Cova da Iria são dois quilómetros e as urnas iam num carro puxado à força de braços. Nem sempre havia pessoal disponível para fazer o trabalho”, recorda. Não baixou os braços e comprometeu-se a arranjar um carro funerário. Pensou em alugar o veículo mas surgiu-lhe a oportunidade e acabou por comprar, com um amigo, um em segunda mão. Acabou por formar, com mais três sócios, uma agência que apenas alugava carros funerários. Quando a sociedade se desfez, acabou por abrir a sua própria agência, há cerca de 12 anos, onde trabalha com a ajuda dos filhos e genro. Reclama para si o facto de ter sido o grande impulsionador da construção da Casa Mortuária de Fátima – fez o pedido a dois presidentes de junta e colaborou com donativos em dinheiro - edificada há 15 anos, recorda que antes os velórios eram feitos na casa dos familiares, o que causava sempre alguns constrangimentos. Costuma fechar a agência ao domingo, da parte da tarde, mas assegura que mesmo assim está sempre alguém pronto para atender quem os procura. “Tenho sempre muito cuidado com a apresentação. Quem trabalha neste ramo deve saber comportar-se e eu, pelo menos, tento vestir uma camisa o mais branca possível e coloco uma gravata preta”, diz. Sabe que outras agências funerárias têm introduzido algumas inovações, como o café no velório ou a distribuição de pagelas (cartões com a fotografia do finado), mas Augusto Filipe prefere manter a tradição. “Se ao menos fosse numa sala à parte ainda podia ser mas andar no meio do velório de chávena na mão, sinceramente, não aceito. Cada coisa deve ter a sua finalidade e um velório é para velar”, atesta.
Agência Funerária “Os Pastorinhos” – Fátima

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