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“João de Carvalho não é um político”

“João de Carvalho não é um político”

Actor é a aposta do presidente da Comissão Política Concelhia do PSD, Gonçalo Xufre

João de Carvalho pediu a suspensão temporária do mandato como vereador da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira para se afastar do ambiente de turbulência política na oposição e continuar a carreira artística. O novo presidente da Comissão Política Concelhia do PSD, Gonçalo Xufre, reconhece que o actor é uma peça essencial no tabuleiro para as próximas eleições autárquicas. Ainda que com pouca vocação para os jogos políticos João de Carvalho servirá para conquistar votos. O resto da equipa fará o resto.

Ana Santiago João de Carvalho está disponível para ser candidato pelo PSD à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira nas próximas autárquicas. Gonçalo Xufre, como presidente da comissão política, concorda. Mas internamente nada ainda está decidido.Com o resultado que alcançámos nas últimas eleições autárquicas chegámos à conclusão de que João de Carvalho foi uma peça muito importante para essa conquista. É essa a candidatura que defendo mas formalmente qualquer decisão tem que ser submetida a uma assembleia de secção onde todos os militantes irão pronunciar-se e votar. Não tenho garantia de que os militantes digam que sim mas tenho esperança que concordem. Quando é que a decisão será tomada?Como o que está em causa é a continuidade do projecto não temos a pressão do calendário. O PSD tem que demonstrar que sem pelouros continua a ser a alternativa. Há algumas vozes, algumas das quais no seio do PSD, que não lhe reconhecem características de líder.As características do João vão ser ideais para se conseguir recuperar algum espaço que se perdeu no concelho pelo facto de termos tido muitos anos uma pessoa que tem exactamente essas características levadas ao extremo. Estou a falar da presidente.Que características?O querer liderar. O João é uma pessoa de diálogo. Poderá implementar uma outra filosofia de gestão política no concelho. Se tivesse características de líder mas não tivesse uma equipa sólida não faria com certeza um bom trabalho. O PSD tem um conjunto de quadros de pessoas que estão predispostas a trabalhar para o concelho.João de Carvalho vai ser o cabeça de cartaz?Não interpretaria assim. João de Carvalho é um cabeça de cartaz por natureza e pela sua notoriedade. Isso foi uma mais valia nas últimas eleições autárquicas. A facilidade com que as pessoas criam empatia com ele e o reconhecimento que lhe têm fazem com que seja assim. Um candidato tem que ter ideias e projectos mas tem que ouvir pessoas. Essa postura de querer ouvir toda a gente compadece-se com a função de presidente de câmara?Não há gestão unipessoal em projectos democráticos mas gestão de equipas. Nas suas características pessoais e de feitio faz uma demarcação muito grande daquilo que foi a marca da gestão da presidente Maria da Luz Rosinha. Em democracia o ideal é variar. Este pedido de suspensão de mandato foi estratégico para não queimar o candidato do PSD tendo em conta os acontecimentos recentes (PS retirou pelouros a dois dos três vereadores da Coligação Novo Rumo, representada maioritariamente pelo PSD)?Se houve pessoa a quem causou incómodo a forma como decorreu o processo de retirada dos pelouros foi ao João. Que curiosamente foi o único poupado dos três vereadores embora tenha acabado por abdicar da pasta da cultura…Acho que ele não foi poupado, foi massacrado, o que o deixou extremamente desconfortável. É uma pessoa que não entende estes jogos de estratégia que quem está na política há muito tempo encara como naturais e até necessários. O PSD está a ter um posicionamento de extrema fiscalização na câmara. O João não é para isso que quer ser político. Quer pôr projectos a funcionar. Era o único vereador que estava a tempo inteiro, abandonou a sua profissão e precisa de ter rendimentos. Suspendeu o mandato por causa de uma peça de teatro mas irá voltar. João de Carvalho não serve para ser vereador da oposição mas apenas para ser presidente de câmara?E para ser vereador com pelouros. Para ter projectos de implementação.Um político não deveria ser multifacetado nesse sentido? João de Carvalho não é um político.Então como espera que seja um bom presidente de câmara?Os presidentes de câmara não têm que ser políticos. Têm que ser cidadãos, ter ideias e construir equipas que ajudem a implementá-las. Nem só de políticos é feito um projecto político. Mas um presidente tem que ser capaz de entrar em determinados jogos políticos. Não se pode alhear do facto de representar uma ideologia.Vamos ter outro enquadramento nos mandatos que se aproximam e poderemos passar a ter pessoas sem essas características. Isso de alguma forma colocará em causa a fiscalização de que fala. Não conheço bem a legislação nem estou a dizer que a defendo. Seja qual for o enquadramento é preciso que duas coisas se garantam: quem tem o projecto a implementar tem que poder fazê-lo e aqueles que não viram o seu projecto vencer têm que poder continuar a fazer oposição.O PSD avançará sozinho nas próximas eleições ou tentará uma coligação?Haverá uma coligação. Só não sei se o CDS, que se demarcou da gestão mas ainda não formalmente, participará nessa coligação. Mesmo sem o CDS continuará a fazer sentido fazer a coligação. Nós queremos todos os partidos. Até grupos de pessoas ou movimentos de pessoas que se revejam no projecto. João de Carvalho explorou os contactos do meio artístico na última campanha. Não deveria ser feito antes um debate de ideias?João de Carvalho trouxe muita gente com notoriedade para o ajudar na campanha mas o PSD organizou um conjunto de mesas redondas sobre educação, tauromaquia e associativismo, ouviu ideias e constituiu um programa que apresentou. Os amigos do João têm a facilidade de nos ajudar a comunicar com as pessoas. A popularidade é importante mas é preciso ter em conta o nível de literacia da população.Há uma coisa que não pode ser questionada: a inteligência de quem vai votar. Maria da Luz Rosinha está de saída. Se há altura em que o concelho poderá mudar em termos ideológicos é esta. Não sei se o concelho tem muito que virar em termos ideológicos. Nas últimas legislativas o PSD e o CDS ganharam no concelho, tal como Cavaco Silva nas últimas presidenciais. As pessoas não mudam as suas ideologias em função das eleições. Não vai tão longe como Rui Rei que diz que o PSD em Vila Franca de Xira está à esquerda.A esquerda e a direita são noções que se têm vindo a esbater. As pessoas olham para os partidos tentando ver quem é capaz de os ajudar a ter uma vida melhor. Se o país não tem dinheiro o que vai o PSD prometer nas próximas eleições?É extremamente fácil governar em duas situações. Uma é quando há abundância de recursos. Outra é quando há total ausência de recursos. Difícil é quando se tem pouco. Nessa altura as ideias são fundamentais e as decisões terão que ser ponderadas. O acordo com o PS quebrou-se a meio do mandato, em Novembro último, e o PSD perdeu a oportunidade de continuar a mostrar trabalho…Com pena nossa. Os três vereadores estavam a fazer um trabalho válido. Percebemos que por parte do PS houve um tocar de alarmes. O jogo da campanha eleitoral começou nessa altura para o PS.Como se sentiu ao ser acusado de ser um dos responsáveis por esta situação na medida em que tentou, segundo o PS, substituir-se aos vereadores.A determinada altura elementos do PS vieram dizer que João de Carvalho não poderia ter facebook, não deveria divulgar as suas actividades e Rui Rei não poderia dizer ao jornal O MIRANTE que está a fazer coisas bem feitas. O PS começou a fazer contas políticas. O que quis, quando entrei para a concelhia, foi definir regras. Acabou o ciclo para o PS em Vila Franca de Xira?Acabou um ciclo. O projecto do PS vai ser diferente sem Maria da Luz Rosinha. Todos os partidos que se vêem liderados por pessoas carismáticas que se sobrepõem ao projecto colectivo têm dificuldade em manter o projecto colectivo sem essa referência pessoal. Maria da Luz Rosinha ganhou um lastro que o PS vai tentar agarrar, mas acho que as pessoas vão reconhecer que há um projecto alternativo sólido que é o do PSD.O presidente da Junta de Freguesia de Alverca é “reactivo” O presidente da Junta de Freguesia de Alverca, Afonso Costa (PS), é reactivo. “Não tem visão estratégica para a freguesia, não antevê propostas nem coloca projectos a correr”.Quem o diz é o presidente da Comissão Política Concelhia do PSD de Vila Franca de Xira, Gonçalo Xufre, que é também eleito na assembleia de freguesia pela Coligação Novo Rumo. Embora admitindo que o autarca possa estar condicionado do ponto de vista das competências que lhe estão atribuídas, Gonçalo Xufre lamenta a inércia. Numa das últimas sessões da assembleia o presidente queixou-se da falta de dinheiro para contratar empresas que garantam a manutenção dos espaços verdes e pouco depois falou-se no centro de formação profissional que limpou entulho para a rua porque vai iniciar um curso de jardinagem“Em dois minutos apresentei a proposta de sentar o Instituto de Formação Profissional com quem tem a responsabilidade da gestão dos espaços verdes na junta de freguesia e no âmbito da formação profissional estabelecer um protocolo já que precisam de espaços verdes para praticar” exemplifica, lembrando que a proposta surgiu às 23h30 de um dia de trabalho quando deveria ser Afonso Costa a ter essa iniciativa“Só vou à assembleia de freguesia de três em três meses. Afonso Costa deveria ser mais proactivo”, critica estendendo a observação a toda a estrutura do partido socialista.“Há licenciados que escondem o diploma para conseguir emprego numa caixa de supermercado”É presidente da Agência Nacional Para a Qualificação. Um projecto que salta à vista é o das Novas Oportunidades, produto de Sócrates. Alguns centros já foram eliminados mas novas oportunidades continuam a ser dadas. Como vão gerir esta situação?O projecto está neste momento a ser reestruturado. A tutela a seu tempo transmitirá as decisões às pessoas envolvidas e ao público. As novas oportunidades tiveram a infelicidade de terem sido utilizadas politicamente pelo governo Sócrates e isso prejudicou as pessoas envolvidas. Que haverá mudanças está decidido.A Agência passou a chamar-se Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional para dar um sinal político de que o Governo quer apostar neste tipo de ensino de forma muito clara nesta legislatura.Vão apostar no ensino profissional deixando de lado as outras qualificações?A qualificação das pessoas não é obtida única e exclusivamente nos termos formais de ensino e formação. Temos que reconhecer as qualificações que as pessoas vão obtendo ao longo da sua vida nos vários contextos. Foi uma opção errada ter deixado o ensino profissional de lado a partir de determinada altura?A seguir ao 25 de Abril, num contexto específico e muito carregado do ponto de vista ideológico, deixaram-se cair estruturas que estavam muito orientadas para a parte técnica e profissional e que custa muito pôr agora a funcionar. São necessários recursos materiais elevados e pessoas especializadas. O sistema de ensino alheou-se das saídas profissionais. Foi um erro. Mas há também um grande estigma relativamente ao ensino profissional. Como ultrapassarão este preconceito?Valorizando o ensino profissional, dando-lhe rigor, exigência e reconhecimento por parte de quem necessita dele: o tecido empresarial. Queremos mostrar às pessoas que o ensino profissional abre portas e não as fecha. As pessoas têm aqui outras saídas para a sua vida sem deixar de lado a possibilidade de continuar os estudos. Falando de diplomas: não são garantia de emprego mesmo a nível superior…Cada vez menos um diploma é garantia para um emprego sobretudo quando chegamos à constatação de que pessoas escondem um diploma para conseguir emprego em determinado sítio. Conheço pessoas que gostariam de candidatar-se para caixas de supermercado e escondem que têm licenciatura. Há pessoas que são recusadas em processos de recrutamento porque têm habilitações a mais, o que é um disparate. Temos cursos que o que estão a fazer é formar as pessoas para o desemprego. É o caso de direito ou psicologia. Alguns cursos devem terminar?Acho que devem terminar alguns cursos porque são redundantes. Acho que não se devem acabar com áreas científicas que estão bem definidas. Posso avisar os jovens que as saídas para esse curso são praticamente nulas. Acho que ainda temos poucos licenciados. O que não se pode fazer é recuperar nas estatísticas apenas fazendo certificação. Agarrei neste desafio com a ideia de valorizar o ensino profissional. De tal forma que um pai doutorado seja capaz de incentivar o filho a seguir uma via profissional sem prejuízo de mais tarde prosseguir estudos. Pode ser uma utopia mas acho que não. Um político apaixonado pela matemáticaGonçalo Xufre tem 40 anos e nasceu em Moçambique. Aos nove meses rumou até à Póvoa de Santa Iria com a família que pouco tempo depois se mudou para Alverca. É filho de professores e sempre foi bom aluno a matemática e física apesar de nem sempre se aplicar como desejaria a mãe. Reside actualmente em Trancoso, freguesia de São João dos Montes. É casado e tem dois filhos, um rapaz de dez e uma menina de sete. A esposa, gestora, trabalha na grande distribuição. Passou a adolescência em Alverca numa época em que a cidade já crescia mas em que os jovens podiam ficar junto ao prédio até à noite ou percorrer a cidade de bicicleta. Lamenta que os filhos já não possam viver nesse ambiente. É formado em matemática aplicada. Fez o mestrado em engenharia e no doutoramento misturou as duas áreas. É sindicalista e defende com unhas e dentes a classe que representa: a dos professores do ensino superior. Se a matemática continua a ser o bicho papão dos estudantes a culpa não é dos professores inundados em trabalhos burocráticos. Como costuma dizer aos filhos é preciso primeiro compreender e depois praticar, praticar, praticar. Foi nomeado em 2011 presidente da Agência Nacional para a Qualificação e suspendeu as funções de professor do ensino superior. É presidente da comissão política concelhia do PSD de Vila Franca de Xira, deputado municipal e eleito na assembleia de freguesia de Alverca pela Coligação Novo Rumo, representada maioritariamente pelo PSD.
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