Se o Governo quisesse acabar com a freguesia de Amiais de Baixo era o bom e o bonito
Se quiserem acabar com freguesias acabem mas deixem ficar a de Amiais de Baixo como está se não querem ter problemas. É assim que pode ser resumido o sentimento geral da população. Freguesia com uma elevada auto-estima como se comprova pela Festa Anual em Honra do Mártir S. Sebastião, uma das melhores da região no dizer de muitos, Amiais de Baixo já recebeu artistas internacionais de renome mas as pessoas afirmam que não deixarão de conviver e de se divertir sejam quais forem os artistas contratados e a dimensão e duração do fogo de artifício. Dois assuntos andam na ordem do dia em relação às freguesias. Um é a reforma da administração local, proposta pelo Governo. Pelos habitantes de Amiais de Baixo ouvidos por O MIRANTE surge um rotundo “não” à integração noutra freguesia. Com as Festas em Honra do Mártir S. Sebastião entre 10 e 13 de Fevereiro, todos querem divertir-se, com muito ou pouco dinheiro disponível para artistas ou fogo de artifício.
Ernesto Duarte, 55 anos, comerciante“Dinheiro gasto a mais nas festas podia ser aplicado no lar de idosos”Se propusessem a extinção de Amiais de Baixo como freguesia e a sua integração noutra Ernesto Duarte considera que seria uma decisão inoportuna e sem lógica. “Já somos uma terra com alguma dimensão e tradições e não haveria nenhuma lógica em passar para outra freguesia. Obrigava muita gente a deslocar-se para a terra sede de freguesia”, refere, lembrando que o que se pouparia com a extinção da freguesia acabava por ser um custo acrescido para a maioria das pessoas.Ernesto Duarte não imagina como reagiria a população, mas admite que estamos todos cada vez mais pacatos e aceitadores de tudo aquilo que nos impõem. Quanto à realização das Festas de Amiais de baixo, Ernesto Duarte considera que se gasta demasiado dinheiro nos festejos que seria bem mais aplicado na freguesia a pensar no futuro, como na ampliação do lar de idosos.José Augusto Martins, 45 anos, empregado de balcão“Amiais de Baixo é que tem estrutura para ter uma freguesia agregada a nós”O fogo de artifício de sábado à noite é o ponto de eleição das Festas de Amiais de Baixo para José Augusto Martins, que nem admitiria que os festejos não se realizassem por causa da crise. “A Festa de Amiais é para haver todos os anos, podendo baixar ou subir custos consoante as condições. É uma tradição da terra, que identifica os Amiais de Baixo. Há quem goste do fogo durante muito tempo e não liga tanto aos artistas, outros preferem os artistas de nome e contentam-se com cinco minutos de fogo. A comissão é que sabe onde pode aplicar o dinheiro”, refere José Martins, que foi festeiro há longos anos.O amialeiro já ouviu falar da intenção de acabar com freguesias e fazer fusões e integrações e confessa que não lhe agradaria passar a ter Abrã como freguesia de referência. “Se fossemos pertencer a uma freguesia melhor, com mais capacidade, mas pertencer a Abrã como se fala, que não tem estrutura nenhuma para receber uma terra como Amiais de Baixo? Nós sim é que temos estrutura para sermos freguesia e termos outra freguesia agregada a nós”, exemplifica José Martins, admitindo que a população não vai reagir bem a uma proposta de extinção da freguesia.Rui Carmo, 27 anos, técnico de informática“As festas existem há cerca de 150 anos e nunca pararam”“Somos a quarta ou quinta maior freguesia de um concelho com quase 30 freguesias, por isso não se aplica a ideia de quererem extinguir a freguesia e integrá-la noutra. Não faz qualquer sentido”, começa por dizer Rui Carmo quando questionado sobre a possibilidade de Amiais de Baixo poder vir a desaparecer como freguesia.O técnico de informática de Amiais de Baixo admite que sejam extintas algumas freguesias com 100 e 200 habitantes e diz que isso será quase impossível de acontecer na terra, porque as pessoas vão protestar e começou a manifestar-se.Quanto às festas, não é por haver crise que elas devem ter um ano sabático. "As festas existem há cerca de 150 anos e nunca pararam, porque é que seria agora?”, questiona, lembrando que os festejos são feitos para os habitantes de Amiais. Ainda assim, Rui Carmo admite que há que ter sempre cuidado com o dinheiro que se tem porque o prejuízo é de quem organiza. São festas ao nível das de 2009 ou 2010, compara, quem elege como momento principal a actuação da banda. Fátima Brígida, 49 anos, gerenteExtingam a freguesia se é assim que o Governo resolve os seus problemasA eliminação da freguesia em si não faz grande confusão a Fátima Brígida se for dessa maneira que o Governo consegue resolver os seus problemas, mas considera que a população da Amiais de Baixo se iria revoltar caso Abrã fosse a próxima sede de freguesia. “Amiais tem mais gente que Abrã, mais eleitores. Pelo que ouvi falar a reforma é assim porque Amiais é uma freguesia urbana e Abrã uma freguesia rural e, como tal, precisa de menos eleitores e nós precisamos de mais”, analisa Fátima Brígida. Para a natural da freguesia, desde há muito que também não existe uma junta de freguesia batalhadora para encarar esses problemas. Quanto às festas da terra, Fátima Brígida aprecia a procissão de sábado e costuma sair um pouco à noite mas não mais que isso. Para si e apesar das dificuldades económicas e financeiras vividas, as festas reúnem as pessoas dispersas por outras terras e países. “Não faz sentido quebrar a tradição das festas. Com artistas mais ou menos conhecidos, andamos sempre aí pelas ruas satisfeitos”, garante.Nelson Martins, 36 anos, empresário industrialExtinção da freguesia de Amiais seria sapo difícil de engolirNelson Martins já ouviu falar da proposta de reforma da administração local e a possibilidade de Amiais de Baixo vir a ser integrado na freguesia de Abrã. Refere que não lhe parece mal que haja fusão de freguesias mas admite que Amiais ser integrado em Abrã seria um “sapo difícil de engolir”. “Abrã não tem lá nada que esteja no nível sócio-cultural e de organizações, ao nível da nossa freguesia. Só o admitiria se concentrasse tudo em Amiais de Cima”, exemplifica.Para o empresário a reacção das pessoas a uma medida dessas seria o boicote a eleições a outro tipo de protesto. Nelson Martins refere que faz sentido reestruturar freguesias mas não com propostas que significam o mesmo que querer colocar Lisboa a pertencer a Santarém, sem qualquer lógica.As festas de Amiais têm o melhor na sexta-feira e no sábado, que os restantes dias são para recuperar da ressaca. Para Nelson Martins faz sentido a organização das festas com cuidado na gestão do dinheiro para não haver derrapagens. “Se não se faz com dez, faz-se com um ou dois. Nesta altura as pessoas até fazem um esforço para darem o mesmo que deram em anos anteriores. Com melhor fogo ou pior fogo, melhor ou pior artista, o que importa é manter a tradição das festas”, conclui Nelson Martins.Hélder Simões, 51 anos, engenheiro técnico“Só temos de apoiar a comissão e divertir-nos”Foi festeiro em 1979, gosta do convívio, dos comes e bebes, de ouvir a banda. Para Hélder Simões deixar as Festas de Amiais de Baixo descansar um ano por causa da crise é coisa que nem quer ouvir falar. “Festa existe sempre, independentemente da conjuntura. Já outros a fizeram com muito menos meios. Com mais ou menos projecção, os artistas acabam por trazer mais pessoas. Só temos de apoiar a comissão e divertir-nos”, comenta Hélder Simões.O engenheiro já ouviu alguns boatos e ainda poucas notícias sobre a extinção de freguesias pelo país e considera que seria mau para Amiais de Baixo vir a ser integrada noutra freguesia, como por exemplo Abrã. “Por história e por terra merecemos ser freguesia e os amienses vão saber analisar essas propostas. Para Hélder Simões a medida também não é consequente em termos de reais poupanças de meios.
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