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“Ninguém pode criar nada, por muito simples que seja, se ficar em casa no sofá”

“Ninguém pode criar nada, por muito simples que seja, se ficar em casa no sofá”

Joaquim Fernandes, 47 anos, empresário, Cartaxo

Joaquim Fernandes, 47 anos, o empresário da vidreira JM Fernandes, na Lapa, Cartaxo, é casado e tem duas filhas. Começou a trabalhar aos 13 anos no ramo. É um criativo que detesta ter que desistir de uma ideia. Quanto encontra pessoas sisudas por causa da crise é o primeiro a animá-las. O seu passatempo preferido é viajar. O mergulho é o seu escape.

Comecei a trabalhar com 13 anos. Desinteressei-me pela escola como muitos miúdos da altura. O meu pai morreu quando eu tinha 10 anos. Não tive quem me guiasse e me dissesse que deveria continuar. Dois ou três anos depois percebi que não deveria ter começado a trabalhar tão cedo.Aos 15 anos fui fazer campismo selvagem com um grupo de amigos e fomos assaltados. Levaram fios de ouro e uma lanterna que eu usava debaixo de água. Os amigos que tinham os pais perto a passar férias na Nazaré arranjaram algum dinheiro. Enquanto o dinheiro durou duraram as férias. Foi uma aventura fantástica. Instalámo-nos ao lado do parque de campismo de São Martinho do Porto com duas canadianas frente uma da outra, à índio.Quando havia tempo para o mergulho não havia dinheiro e quando comecou a haver dinheiro não havia tempo. Quando era miúdo já fazia apneia de descobrimento. É uma paixão que tenho desde sempre. Sempre me senti muito ligado à água. O mergulho dá-me tranquilidade. Consegui convencer a minha mulher a experimentar e neste momento quase que já gosta mais disto que eu. No primeiro mergulho após o curso desci a uma profundidade de 28 metros em Porto Santo. Também gosto da bicicleta.Casei em Fevereiro e ainda entreguei parte do ordenado de Janeiro à minha mãe. O dinheiro que ficava para mim era dos biscates de fim de semana. A pouco e pouco consegui comprar uma aparelhagem. Ter calças de ganga e sapatilhas de marca era um luxo na província.Vivo na casa que era do meu avô e que recuperei. Antes de casar passei lá muitos fins de semana a trabalhar com a ajuda de amigos. A partir e a desmanchar. Deitámos abaixo algumas paredes. Só comecei a pagar aos pedreiros para pôr os tijolos.Morei um ano na casa da minha sogra. Na altura o crédito era mais difícil mas não foi só por isso. A nossa filosofia era a de que se não havia dinheiro não se comprava. Quando fui morar com a minha esposa para a nossa casa tínhamos um sofá, uma cama e pouco mais. Tudo foi comprado aos poucos. A casa já foi remodelada 20 vezes.Ninguém pode criar nada, por muito simples que seja, se ficar em casa no sofá. Para que surjam ideias também temos que ir a feiras e conhecer edifícios emblemáticos. Isso acontece também com pintores, escultores e arquitectos. Toda a gente que projecta alguma coisa tem que ser ávida de conhecimento.Quando viajo a primeira coisa para onde olho é para os vidros, seja nos aeroportos ou nas ruas. Fotografo certos pormenores. Sou como as pessoas que fazem roupas que reparam logo nos modelos dos casacos e das calças. Nas viagens concilio sempre o trabalho com o lazer. O meu passatempo favorito é viajar.Dispenso os romances de supermercado. Não sou capaz de os ler. O último livro que li foi “Clarabóia” de José Saramago. Também gosto muito dos clássicos. Eça de Queirós, por exemplo.Sou um romântico ribatejano (risos). Se a minha esposa estiver numa formação e chegar tarde sou capaz de fazer um jantar para os dois. Às vezes ofereço flores e só não compro mais chocolates porque a minha esposa tem muito cuidado com a linha. Tenho duas filhas que vivem em Lisboa. Todas as semanas jantamos com elas.Não sou pessoa de desistir, o que às vezes é mau. Já cheguei a arrepender-me por insistir demasiado em levar uma ideia até ao fim. Depois tive mais problemas que outra coisa. É um risco que se corre quando se cria coisas que não existem.Quando chego a uma reunião e encontro pessoas sisudas por causa da crise sou o primeiro a animá-las. Habituei-me a sacrificar-me para conseguir alcançar os meus objectivos e quando as coisas correm bem durante muito tempo até fico desconfiado.Ana Santiago
“Ninguém pode criar nada, por muito simples que seja, se ficar em casa no sofá”

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