uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Baptista Bastos evoca lenda associada ao nome de Salvaterra e critica jornalismo actual

Baptista Bastos evoca lenda associada ao nome de Salvaterra e critica jornalismo actual

Cabana dos Parodiantes encheu para ouvir o escritor de “As Bicicletas em Setembro”

Baptista Bastos tem saudades do romantismo do jornalismo de outros tempos. O escritor que sempre preferiu dar voz aos mais pobres defende que os jornalistas precisam de se aproximar das pessoas e deixarem a secretária e o telefone.

O jornalista e escritor Baptista Bastos recordou uma das lendas relativas ao nome do concelho de Salvaterra de Magos na noite de 16 de Fevereiro em mais uma tertúlia da Cabana dos Parodiantes, em Salvaterra de Magos. Com a casa cheia e num ambiente intimista, o autor de “As Bicicletas em Setembro” esteve à conversa com o público durante mais de duas horas. Quando andava com os cineastas Rogério Ceitil e Fernando Matos Silva a preparar os documentários “Algarve” e “Ribatejo”, Baptista Bastos (BB) encontrou-se com um casal de historiadores no Departamento de História da Faculdade de Letras, em Lisboa. “Disseram-me que os escritores portugueses não têm imaginação e que Portugal estava cheio de histórias e lendas. Deram-me como exemplo Salvaterra de Magos, que era a zona do Ribatejo onde se podiam encontrar os magos, os cartomantes e as bruxas e aconselharam-me a ir conversar com as pessoas mais velhas”, referiu. Um elemento do público confirmou a lenda: “Já na escola primária aprendi que os magos se concentraram aqui para não serem perseguidos”.A lenda rm torno do nome de Salvaterra de Magos remonta ao século XV, quando a inquisição combatia a magia, perseguindo as bruxas e magos.Um exemplo que serviu para o escritor mostrar que existe muita “negligência” e “analfabetismo” entre a maioria dos jornalistas portugueses que não investigam os assuntos e não sabem uma “réstia” da História de Portugal. Filho de pai tipógrafo, BB assistiu desde muito cedo à exploração de muitos trabalhadores. “Foi sobre essas pessoas que eu quis escrever nos jornais, porque ao escrever sobre os bairros estava a escrever sobre o mundo”, revelou. BB aproveitou para traçar um diagnóstico negativo sobre o estado actual dos jornais nacionais. Para saber o que se está a passar na Grécia, por exemplo, o cronista tem de ler o “The Guardian”, o “Le Monde” ou o “El País”. Verifica que actualmente as redacções estão cheias de “jornalistas medíocres” porque os bons acabaram por ser ostracizados. “Conheci um jornalista português que foi a Nova Iorque e quis visitar obviamente o “New York Times”. Quando lá chegou quis conhecer um dos maiores jornalistas de todo o mundo, o Harrison Salisbury. Teve de dar um murro na mesa para lhe dizerem que Salisbury tinha sido saneado e estava colocado na secção de Necrologia”, exemplificou Baptista Bastos, que ao longo da sua carreira também passou muitas vezes pelo mesmo. Conhecido por não ter papas na língua, o escritor sempre se rebelou contra as injustiças. “Sempre me senti livre e pobre e isso dá-me a possibilidade de mandar alguém à merda sem precisar de o cumprimentar”. Jornalismo de causasSegundo BB, os mais jovens têm inveja do romantismo do jornalismo de outros tempos. Toda a sua geração escrevia com a lágrima no canto do olho e o escritor acredita que os jornalistas precisam de aproximar-se das pessoas. “Pacheco Pereira acusa este jornalismo de ser de causas. Mas por que é que o jornalismo não deve defender os mais pobres? A grandeza do grande jornalismo passa pela capacidade de saber transmitir as emoções”, referiu. BB não terminou sem reconhecer que os “Parodiantes de Lisboa” eram “pessoas muito engraçadas mas também muito sérias” e por lá passaram grandes nomes do jornalismo como Carlos Pinhão ou Ferro Rodrigues.Notas à margemUm elemento do público que chegou depois do inicio da sessão perguntou a BB o que achava sobre a situação actual de Portugal. “Não esteve aqui no início, pois não? Então temos pena”, ouviu como resposta.* * *Outro convidado perguntou a BB a sua opinião sobre o filme “Dama de Ferro”, insistindo na pergunta. “Não vi, não quero ver e não deixo ninguém da minha família ver”, respondeu o escritor, provocando gargalhadas dos presentes. O escritor justificou que o tempo é muito pouco para o perder com coisas sem qualidade. De momento está a reler as cartas de Séneca que considera um verdadeiro tratado sobre a natureza humana. * * *A esposa de BB, Isaura, referiu já no final da tertúlia que o marido, com 77 anos, sai agora muito pouco de casa mas passa o dia todo a trabalhar. Recusa ir à televisão embora os convites não parem de surgir. * * *A grande maioria do público que acorreu à tertúlia permaneceu até depois da meia-noite. A satisfação estendeu-se ao Facebook. O jovem historiador escalabitano José Raimundo Noras manifestou o seu agrado: “Acordei de madrugada ainda com a “ressaca” de uma grande conversa na Cabana Dos Parodiantes com Baptista Bastos um dos mais clarividentes escritores da nossa praça”.
Baptista Bastos evoca lenda associada ao nome de Salvaterra e critica jornalismo actual

Mais Notícias

    A carregar...