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Folião Serafim das Neves

Este ano o Carnaval foi o melhor dos últimos anos. Havia mais sambistas e todas elas tinham menos roupa. Algumas não tinham mesmo roupa nenhuma. Um espectáculo. E a maior parte delas falava português do Brasil. Esse mesmo, o do acordo ortográfico. De tanto olhar para o material até me deu vontade de aderir à coisa. Se vierem professoras daquelas para me explicar bem a nova grafia quero lá saber de patriotismos serôdios. Há aprendizagens que se levam na boa. E nesta altura da vida quem é que não aguenta umas reguadazitas ao som do samba aplicadas por uma mestra bem arejada? Se queres que te diga não gosto de tradições. Prefiro inovações. Revoluções. Adaptei-me bem e sem traumas às miúdas de mini-saia, aos telemóveis, aos computadores, ao euro, aos cartões de crédito, aos carros desportivos, à televisão por cabo ao ipad. Porque raio não me hei-de adaptar à nova ortografia. Os jogadores das equipas de futebol portugueses não são todos brasileiros? E alguém no seu prefeito juízo troca uma daquelas sambistas semi-todas-nuas por uma matrafona do entrudo ou por um cabeçudo a atirar ovos podres e sacos de plástico cheios de mijo à multidão, só para defender a tradição? Tradição é para o pessoal das touradas que gosta de usar aqueles calções justos nos tomates enquanto leva cornadas de um touro bravo. Lamento mas não sou saudosista. Se fosse não tinha tido tantas namoradas, ainda usava calções de banho à Tarzan na praia e em vez de protector solar besuntava-me com manteiga de cacau ou lá o que era aquilo.Digo-te mais, Serafim, quando oiço falar na defesa das tradições até fico arrepiado. Imagino coisas cabeludas. Bigududas. Varapaus e cheiro a chulé. Chama-me traidor ou o que quiseres mas como dizia o outro, eu não vou por aí. Abaixo a tradição. Tenho pesadelos com esta coisa da saída do euro. Do regresso ao escudo. Imagino-me logo a ir à mercearia do senhor Gervásio comprar duzentos gramas de açúcar e uma barra de sabão azul. Há outro assunto em que tenho andado a matutar. Os admiradores secretos dos nossos políticos. Já reparaste que são aos milhares??!! Aos milhões??!! Aqui há uns meses o nosso Miguel Relvas e os outros candidatos do PSD ganharam eleições com maioria absoluta. Agora não encontro ninguém que tenha votado neles. Eu sei que o voto é secreto mas então e o resto da rapaziada que andou nos carros a fazer esvoaçar bandeirinhas e a buzinar como se o Benfica tivesse ganho o campeonato? Uma maioria absoluta não se esconde assim tão depressa no anonimato, caraças!!! E não me venham dizer que os políticos enganam o povo. Não enganam não senhor!!! Pelo menos a mim não enganam. Eu sou um eleitor consciente. Sei dar o devido desconto aos delírios dos candidatos. Sei distinguir a ficção da realidade. Sei colocar um mas à frente de cada promessa. Se não for um mas, um se, ou coisa parecida. Eu dou-te um exemplo. Se me disserem que não aumentam impostos eu já sei que isso só acontece se... e assim sucessivamente sem cessar. Um dia destes sonhei que o Miguel Relvas estava a falar comigo todo sorridente e que a certa altura me perguntou: “Você não acreditou em nada daquilo que eu disse, pois não??!!!” E piscou-me o olho o malandro. Eu ri-me, pois claro. Os políticos, já lá dizia o meu avô, fazem muita falta...mas não são para levar a sério!Saudações inovadoras Manuel Serra d’Aire

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