Quem canta os seus males espanta
Grémio Dramático Povoense organizou 3º encontro de grupos corais na Póvoa de Santa Iria
Carla Carvalho, 32 anos, canta de olhos fechados. No palco, onde se aconchega de braço dado com um dos elementos do Coro Notas Soltas, e fora dele. Ensaia na sala dos professores da escola onde dá aulas de música nas actividades de enriquecimento curricular. Aprendeu a viver sem ver e por isso apurou o ouvido. Para decorar as letras grava as músicas e ouve-as até à exaustão. “A escrita musical em braille é inútil e prejudica a compreensão das músicas. Pessoalmente não gosto. Prefiro mexer com a música assim”, explica. Pertenceu ao coro da Universidade Nova, onde estudou, ao coro do Conservatório de Música D. Dinis, em Odivelas, e ao Canta Arruda. Ao seu lado, de blusa branca aos folhos, a professora do primeiro ciclo Ana Pena, 47 anos, fala da mesma paixão. A necessidade de ensinar os meninos a cantar levo-a a procurar aprender a colocar melhor a voz. Acabou por arrastar para o grupo coral que integrou a filha que agora está na faculdade e por isso com menos tempo. Carla Carvalho e Ana Pena moram no concelho de Arruda dos Vinhos mas escolheram cantar num grupo coral que está sediado em Vila Franca de Xira, tal como Márcia Bernardo, 59 anos, residente em Alverca. Nasceu no Brasil, onde foi professora de matemática, mas veio para Portugal há nove anos para reencontrar o seu primeiro namorado, um português que foi o grande amor e que a mãe proibiu na sua juventude. A outra paixão da sua vida é a música. O pai era um compositor conhecido no Brasil (Mauro Duarte) e a menina foi criada no meio. Do samba adaptou-se facilmente à música coral.O que trouxe Carmen Silvestre, 70 anos, à música foi a solidão. Depois da morte do marido as noites tornaram-se enormes e vazias. Os filhos tinham as suas vida e Carmen já tinha folheado os grandes romances. Voltou-se então para a música. “Boa música. Pop e alguma ópera”. Dispensa a música repetitiva de alguns coros. Mora em Alverca. É pensionista. Descontou mas não o suficiente, esclarece. Trabalhou no comércio dos 11 aos 51. Integra há 21 anos o Grupo Coral Ares Novos, tal como Selser Ribeiro, 41 anos, informático, residente em Alhandra, que começou a cantar no grupo há 24 anos. Durante os ensaios abstrai-se e até os exercícios de relaxamento o fazem descontrair da realidade do dia a dia. Canta no duche e sempre que lhe dá na real gana. Seja no carro ou a brincar com as duas filhas. É barítono e integra o naipe das vozes mais graves dos homens. “Sou um cantor daqueles que só canta em grupo”, brinca.Durante o terceiro encontro de grupos corais do Grémio Dramático Povoense, na Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, que fez encher a casa na tarde de domingo, ecoaram ainda as vozes mais suaves do Coro Infantil Ares Novos.
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