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Santo Entrudo volta a espalhar a crítica pelas ruas de Samora Correia

Santo Entrudo volta a espalhar a crítica pelas ruas de Samora Correia

Moradores e políticos não escaparam ao crivo do Santo

Samora Correia, concelho de Benavente, despediu-se do Carnaval na quarta-feira de cinzas, 22 de Fevereiro, com o tradicional enterro do Santo Entrudo. Perto de meio milhar de pessoas acompanharam durante mais de duas horas o cortejo fúnebre que contou com a estreia de um novo figurante que fez de “padre”, Mário Pereira, acompanhado pelo sacristão Hélder Salema. Muitos moradores de localidade e políticos do concelho não escaparam a receber o seu quinhão de trampa numa noite onde o riso durou até à meia-noite.

O figurante que faz de “padre” deu o grito de guerra - “ai meu rico Santo Entrudo deitas merda por um canudo” - e a marcha fúnebre começou na noite de quarta-feira, 22 de Fevereiro, animada pelos músicos da Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS). A viúva e as três amantes que velavam pelo morto gritaram de dor. “Eu só quero levar as cinzas para me consolar debaixo da cama”, gritava a mais afoita. Outra recordava o querido amante que só queria “f…er em cima, de baixo, de lado e de todas as maneiras possíveis”. O povo que seguia atrás do cortejo ria até não poder mais. Não é todos os dias que se confessa perante uma multidão os prazeres da carne. E a prova está no mais de meio milhar de pessoas que aos poucos encheram as ruas de Samora numa noite gélida e com um dia de trabalho à espreita no dia seguinte. O “padre” lá ia parando em alguns pontos importantes da cidade para deixar alguns quilos de merda aos moradores conhecidos. Vários pediram o microfone para responderem na mesma moeda ao Santo Entrudo. Elisa Vidal proporcionou um dos momentos mais bonitos da noite ao cantar um fado da sua janela. Mas o momento mais picante da noite estava reservado para a moradora conhecida por “Pachola”, catequista na igreja de Samora, que todos os anos deixa o mais libertino da cidade corado até à raiz dos cabelos. Esperava já na janela, com uma máscara, enquanto no público só se ouvia “agora é que vai ser” ou “Meu Deus, esta é sempre demais”.“Vou começar por revelar quais as medidas do memorandoPara a cidade de SamoraPois o vosso cu é que vai pagandoEsta crise já está a passar das marcasA primeira medida vai para a ARCASÀ porta estão as eleiçõesPor isso vão ser atribuídas aos membros novas funçõesA Lucinda e a Liliana vão fazer ronda com o novo comandanteAi que coisa tão picanteA Dora e a Graça vão para os bombeirosTratar do serviço de quartos e levam farnelAquilo é que vai ser festa lá no quartel”A “Pachola”, que ainda mandou o presidente da câmara, António José Ganhão, e o vice-presidente Carlos Coutinho para a Madeira, poupou nas asneiras que declamou este ano, mas nem por isso deixou de garantir o momento mais quente da noite. O sacristão vinha preparado para a resposta, o que terá desagradado a “Pachola”, que comentou momentos depois que não merecia tais versos já que este ano até tinha sido comedida. “Oh menina patríciaVocê para o meu gostoAnda muito respondonaDeve ser devido aos caloresque têm nessa c****Mas não se estique para o meu ladoNem para o do padre marinhoSenão ainda fica com esse cú partidinhoAgora para me despedir de vocêOfereço-lhe uma sandes de merdumE digo-lhe uma coisa não há pau queResista a esse cúQuerida amiga eu vos rogoQue apague lá o seu fogoOu lhe apaga o Cardeal,Mas aqui não se dá esmolaMinha atrevida PacholaSó o mastro do animal”“Muitas pessoas ficam chateadas se o padre não lhes manda uma cagada”, explica João Alemão, de 71 anos, que encarnou durante 40 anos o padre do Santo Entrudo de Samora. O próprio presidente da câmara confessou na última assembleia municipal que gosta de ser contemplado pelo Santo Entrudo. “Todos os anos apanhei versos do Santo Entrudo e nunca fiquei magoado. Só espero que este ano também tenha sido contemplado e não se tenham esquecido de mim”, desabafou. Não se sabe muito bem quando é que a tradição nasceu na terra, mas já leva mais de 100 anos. O final da cerimónia terminou com a queima do Santo no Largo do Calvário. Ficam aqui mais alguns excertos do testamento do Santo deixados este ano.Temos um jovem presidenteQue representa toda a gentena Junta de Freguesiaantes de comer e bebero que temos de lhe fazeré uma ecografiaComo sofre de diabetesCome sempre nas retretesQue o cheiro é mais agradávelCaga a viúva e o sacristãoPara as funcionárias que lá estãoE assim fica tudo mais saudávelComo há sempre uns curiososPra ver o que o santo Tem debaixo da roupinhaPrecaveu-se ele e cagouE uns torcidos deixou Pra Vereadora Ana Casquinha E como sabia o Santo Que estava quase de abaladaCagou que se fartouQue até lhe doía o cagueiroE 10 quilos de merda deixou Para todo aquele que é bombeiroMas este Santo cagão Era também um grande artistaPeidava-se que parecia uma sinfoniaTanto fazia de noite ou de diaUns bons torcidos cozia, sempre que ele queriaPrós reis João Peixe e Milena AlegriaO Santo Entrudo antes de morrerUma ementa teve de fazerMerda com escalopesForam servidos de bandejaRequintados com cervejaAli para o Nélson LopesEu sou o sacristão mais novoCá da nossa freguesiaMas já faço a minha cagadaTambém fora da piaCago aqui e cago aliCom um fim sempreÀ vista para entregar ao pessoalDo partido comunistaNeste palácio há personagens burlescasQue são figuras carnavalescasNuma exposição a rigor,Caga o velho e caga o novo,Caga todo este povo Para o Joaquim SalvadorE como é homem com humorE também beato de fervorQue o Santo António entrapaComo gosta de foliaCagou o entrudo na piaTambém pra Sónia LapaQuando era vivo o Santo gostava de dançarPor isso deixou uma póia saborosaCom recheio de framboesa e malva-rosaQue a todos a boca vai adocicarE pró Sérgio Possante com o rancho partilharEra um santo sofridoJá untava o cú com unguentoE até no último lamentoCagar era o que mais queria,Deixou 10kg de merda com fermentoPrós donos da PizzariaNelson Lopes não gostou das críticas e queixa-se na assembleia municipalO deputado municipal, Nelson Lopes, pediu a palavra na última Assembleia de Benavente, que se realizou na sexta-feira, 24 de Fevereiro, para se queixar pela forma como foi tratado na edição deste ano do Carnaval de Samora Correia. “Este ano fiz luto ao carnaval de Samora pela forma como fui tratado e ausentei-me”, começou por revelar o autarca que esteve a trabalhar na organização de outros dois carnavais que se realizaram no país. Nelson Lopes queixou-se da organização ter censurado este ano os versos que escreveu para o testamento do Santo Entrudo e de o ter substituído pelo “padre” figurante Mário Pereira. “Disseram-me que o povo não gostava. Vejam lá que já nos cortam a liberdade de expressão no Carnaval, mas eu não abdico dela por ser o meu pão. Mesmo que este acontecimento não se tivesse passado comigo, eu traria o assunto na mesma à assembleia municipal”, referiu. Segundo o que O MIRANTE apurou muitos moradores de Samora Correia sentiram-se ofendidos na edição do ano passado com o testamento escrito por Nelson Lopes. O presidente da Câmara Municipal de Benavente, António José Ganhão, mostrou-se desconfortável por não saber o que responder “em termos políticos” ao caso apresentado pelo deputado, acrescentando apenas que respeitava os seus “sentimentos pessoais”.
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