Paulo Caldas já não sonha com a Câmara do Cartaxo e diz sentir-se bem a trabalhar no privado
Ex-autarca voltou ao Banif e está a terminar um doutoramento em gestão estratégica das autarquias
Paulo Caldas renunciou ao mandato como presidente da Câmara do Cartaxo há quatro meses. Está a trabalhar em Lisboa, continua sem querer o cartão de militante do PS e confessa que partilha opiniões com o actual presidente do município. Já não sonha com a câmara que liderou durante dez anos mas nota-se que ainda não apagou o desejo de se candidatar à Câmara de Santarém.
Paulo Caldas já não sonha com as contas da Câmara do Cartaxo. Agora as contas que merecem a sua atenção são as dos clientes do Banif em Lisboa, banco para onde regressou após ter renunciado ao mandato de presidente da autarquia. Paulo Caldas está a trabalhar como quadro superior no gabinete de emigração da instituição bancária que depende directamente da administração. O seu trabalho passa entre outras coisas por captar clientes portugueses que trabalham no estrangeiro. “É um projecto dinâmico. É um desafio muito interessante”, revela. O ex-autarca, que entregou o cartão de militante socialista e que diz que continua a ser um independente, não cortou a ligação ao Cartaxo, onde continua a residir. Faz todos os dias a viagem para Lisboa para ir trabalhar. Confessa a O MIRANTE que continua atento e preocupado com a realidade da autarquia cuja liderança deixou para o seu vice-presidente, Paulo Varanda, mas assegura que não se quer envolver na política local e na gestão municipal. Caldas, que saiu da presidência do município num período conturbado com muitas críticas da oposição e com manifestações da população relativamente ao tarifário do abastecimento de água, diz que “é preciso saber qual é o tempo de entrar e de sair”. Neste momento está a concluir um doutoramento relacionado com a gestão estratégica das autarquias escrito em Inglês e Português. “Até ao final do ano, início de 2013 quero entregar a tese”, conta. Questionado se ficou vacinado da política, o autarca recorre a uma frase feita: “A política é a ciência que regula a vida dos homens em sociedade”. Paulo Caldas chegou a sonhar com uma candidatura à Câmara de Santarém e a aspiração do autarca em ser o presidente da capital de distrito ainda não se desvaneceu, a avaliar pela resposta que dá sobre o assunto. “O futuro a Deus pertence”.Não deixou de ter contacto com aquele que foi o seu homem de confiança no executivo e considera que Paulo Varanda tem condições para levar o barco em frente nas águas turbulentas da crise. Paulo Caldas revela que continua a partilhar as coisas boas e más da autarquia, sem se envolver directamente. “As pessoas quando gostam umas das outras partilham, mas divorciei-me completamente do que é a liderança da autarquia”. Paulo Varanda costuma pedir conselhos a Caldas, o que este considera ser “normal”.Paulo Caldas, recorde-se, anunciou a renúncia ao mandato no dia 25 de Outubro de 2011 no final da reunião do executivo municipal. Chegavam ao fim dez anos de presidência da Câmara do Cartaxo, à qual chegou depois de ter cumprido dois anos como vereador. Com a voz trémula nalguns momentos, Paulo Caldas disse que tomou a decisão nesse momento por considerar que existe estabilidade, apesar das condições exigentes, de na câmara se fazer um bom trabalho sob a liderança de Paulo Varanda e sua equipa.“O pior é deixar dívida e não deixar obra feita”O ex-presidente da Câmara do Cartaxo diz-se um homem valorizado por ter deixado muita obra feita no concelho. “Tenho consciência que o Cartaxo deu um salto qualitativo nos últimos dez anos”. Recentemente o seu sucessor desabafou que tinha recebido uma herança pesada. Paulo Caldas considera que os tempos são difíceis e que a crise já vem de 2008, pelo que o actual presidente deve centrar as preocupações na consolidação da dívida da câmara, que ultrapassa os 40 milhões de euros, mas sem perder de vista a necessidade de se continuar a política de investimentos. “Não há bela sem senão e apesar da dívida sinto orgulho no trabalho feito”, diz Paulo Caldas realçando que o “o pior é deixar dívida e não deixar obra feita”, garantindo que o actual líder do executivo “tem condições para encontrar soluções”. O ex-autarca lembra como marcos do seu mandato a ligação do Cartaxo à Auto-Estrada nº 1, os projectos das zonas empresariais, os espaços desportivos e culturais que nasceram no concelho. Numa dezena de anos a gerir contas e sensibilidades, ficam sempre mágoas. As de Paulo Caldas estão ligadas à oposição que diz “não ter conseguido apresentar soluções e projectos alternativos”, tendo-se ficado em alguns casos pela “política do bota-abaixo”. “Perdeu-se muito tempo com questiúnculas, com questões estéreis”, resume. E dá exemplos: “Perdeu-se tempo com casos como o da Casa das Peles” (por realização de obras em violação do Plano Director Municipal). “Qualquer cartaxeiro sabe que tinha que defender o emprego, os postos de trabalho, de uma empresa do concelho”. Num olhar de relance para o passado, Caldas aponta a indignação para o Bloco de Esquerda dizendo que o partido fez “política suja” com a qual a população e o concelho nada ganharam. E conclui dizendo que se sente muito bem com o passado e com o que fez em prol da terra.
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