Há muitas famílias de Vila Franca que já não conseguem pagar os infantários e os lares
Aumento dos pedidos de ajuda e diminuição do mecenato tem criado dificuldades a instituições de solidariedade
A crise está a deixar as famílias da classe média sem dinheiro para pagar as prestações mensais às Instituições Particulares de Solidariedade Social do concelho de Vila Franca de Xira. As associações confessam estar a viver um dia de cada vez. Já não têm facilidade de recorrer ao crédito e cada vez há menos dinheiro para manter instalações e pagar ordenados. Ajudar quem precisa está a ser cada vez mais difícil.
Há cada vez mais famílias que não conseguem pagar as prestações às instituições de solidariedade social de Vila Franca de Xira onde têm os filhos ou os familiares idosos. Os dirigentes das instituições estão preocupados com o futuro. Há cada vez mais gente a pedir ajuda e cada vez menos gente a pagar e a oferecer donativos. A boa vontade não paga os ordenados dos profissionais no final do mês e muitas entidades confessam estar a viver um dia de cada vez, sem planos de futuro. Um dos exemplos é o Centro de Bem-Estar Infantil de Vila Franca de Xira. Assunção Lopes, presidente da instituição, diz que é cada vez mais difícil manter as contas saudáveis. “Vai dando para sobreviver mas temos sentido muitas dificuldades. Vivemos um dia de cada vez e contamos cada euro que gastamos para podermos oferecer o melhor serviço possível sem gastar muito”, confessa a O MIRANTE. A dirigente lamenta não ter “tantas respostas como desejaria” no que toca a apoios. Não apenas do mecenato das empresas, que é cada vez menor, como da própria banca. “Era tudo muito fácil, tínhamos facilidade em fazer empréstimos, agora já não. Já não basta ter património como garantia de pagamento”, lamenta.Na Associação de Bem-Estar Infantil de Vialonga o lamento é semelhante. Vítor Cardoso, presidente da instituição, diz que a instituição apoia actualmente com entrega de alimentos 90 pessoas, mas que a fila de espera já vai para lá de 150. Uma situação que o preocupa. “Temos conseguido manter os postos de trabalho mas os pagamentos das famílias têm caído a pique e o mecenato tem diminuído imenso”, lamenta.Quem está a fazer uma grande ginástica financeira é a Associação de Reformados da Póvoa de Santa Iria (ARIPSI). João Quítalo, presidente da direcção diz que a crise já chegou à procura porque as famílias não têm dinheiro para colocar os idosos no lar da instituição. Actualmente a associação tem quatro camas vagas no lar de terceira idade e não aparecem interessados. “As pessoas estão desempregadas e mantêm os idosos em casa com elas para poupar e aproveitar as reformas”, explica. Não há volta a dar neste cenário, no entender de José Nunes, da Associação de Promoção Social da Castanheira do Ribatejo. “A verdade é que não se consegue fazer com que uma família, que tem as rendas de casa em atraso, pague as suas responsabilidades connosco. E isso levanta problemas. Se todos formos recorrer à câmara ao mesmo tempo a pedir dinheiro ela não tem capacidade para socorrer todas”, lamenta o dirigente. No último ano as 107 associações do concelho receberam da Câmara de Vila Franca de Xira 559 mil euros de apoio à sua actividade. Um valor que, para muitas, continua a ser insuficiente para o relevante papel social que desempenham na comunidade.Quem não recorreu à banca está mais seguroAs associações que não se deixaram levar pelo crédito fácil da banca estão em melhor posição de enfrentar as crescentes dificuldades que estão a aparecer. A opinião é da maioria dos dirigentes ouvidos pelo O MIRANTE. “Ainda bem que não avançámos com o nosso sonho de construir novas instalações, porque na altura era tudo muito bonito por parte dos bancos, mas se tivéssemos ido para a frente com esse projecto hoje estávamos mergulhados em dificuldades. Por isso ainda bem que não demos esse passo e ficámos como estamos”, revela Assunção Lopes da Associação de Bem Estar Infantil (ABEI) de Vila Franca de Xira.Gestão profissional pode ser uma solução A maioria dos dirigentes considera que é preciso encontrar uma gestão profissional para as instituições conseguirem vencer ou pelo menos aguentar a crise. Mas não pode deixar de haver boa vontade e amor à camisola. “A direcção deve ser composta por voluntários. A gestão é que tem de ser profissional. Acho que a melhor ideia é criar um director-geral que tome conta, por exemplo, da contabilidade, fiscalidade e direito”, opina Vítor Cardoso. Já para Joaquim Baptista, da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas D. Martinho, da Póvoa de Santa Iria, a boa vontade chega a ser inimiga das associações. “Poderão existir pessoas com boas ideias mas que são ignoradas pelos líderes das associações. Há muita gente mais preocupada com os seus egos do que o projecto comum. Há muitos curiosos e gente de baixa formação. Há muita boa vontade mas para as associações se desenvolverem falta mais profissionalismo”, opina. Os elevados custos da profissionalização das estruturas dirigentes são para Esperança Câncio, da Sociedade Euterpe Alhandrense, o maior entrave. “Há muito amadorismo nas nossas associações. Isso gera falhas de comunicação e de promoção das suas actividades. É preciso encontrar alguém que se dedique a tempo inteiro às colectividades, isso é imprescindível”, defende.Para João Quítalo, da ARIPSI, a haver voluntários disponíveis eles devem ser utilizados. “Gerir uma IPSS dá muitas dores de cabeça, muitas chatices e rouba muitas horas à família. Só alguém com amor à camisola pode fazer isso sem esperar receber nada em troca”, refere.
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