Admirável mundo de aves permanece inexplorado entre o Forte da Casa e Alverca
Um dos últimos recantos da zona norte do estuário do Tejo conserva várias espécies
Pernilongos, alvéolas, galeirões, patos-reais, garças-reais ou andorinhas das chaminés foram apenas algumas das muitas espécies de aves observadas na manhã de sábado, 24 de Março, entre as zonas ribeirinhas do Forte da Casa e Alverca.
Eduarda SousaNinguém diria que seria possível observar tantas espécies de aves quando os participantes num passeio se juntaram no Forte da Casa, Vila Franca de Xira. Mas depois de passar a linha de comboio em direcção à zona ribeirinha é possível encontrar um verdadeiro paraíso para os amantes da observação de pássaros. Um grupo de 20 pessoas partiu à descoberta de um novo mundo que se esconde para lá dos prédios, na manhã de sábado, 24 de Março, numa iniciativa organizada pela associação cívica Os Amigos do Forte e a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).Munidos de binóculos e um guia das aves na mão, os participantes estavam pontualmente às 9h00 para dar início à actividade conhecida por “birdwatching” (observação de aves). Tirando os elementos da associação, os observadores são oriundos de Lisboa. Muitos já se conhecem de outras saídas promovidas pela SPEA na região. É essencial que estes grupos tenham poucos elementos para não assustar as aves que se pretendem observar. Numa pequena apresentação, a guia da SPEA, Joana Andrade, de Vila Franca de Xira, começa por explicar que a zona entre o Forte da Casa e Alverca está identificada como uma área muito importante para a observação de aves, especialmente para as aquáticas que passam o Inverno e nidificam nesta zona. Esta área é um dos últimos recantos naturais da zona norte do estuário do Tejo.Sobe-se a um primeiro monte de terra e ajeitam-se os binóculos. O silêncio impera. Pernilongos, maçaricos, gaivotas e um pato-real são os primeiros a surgirem. Os observadores vão abrindo os guias para identificar as aves que acabaram de ver. Praticamente todos conseguem identificar sem dificuldade as espécies mais comuns. “É preciso muito treino para se ir tornando cada vez mais fácil a identificação. Os pormenores como o tamanho ou a cor das penas são importantes”, explica a bióloga Joana Marcelino, de 21 anos, de Bucelas, concelho de Loures que foi à actividade com a irmã. Jorge Marques, professor de piano, deixa escapar muito baixinho: “O desenho das penas das fêmeas do pato real é muito bonito”. O passeio prossegue em direcção às salinas de Alverca. Os telescópios que são montados ajudam a ver ainda melhor as aves que se encontram a distâncias maiores. Joana Andrade quase não precisa de binóculos para identificar as aves. O desenho das asas, a cor ou o comportamento são suficientes para a profissional. A engenheira Julieta Marques, de Lisboa, é uma das mais entusiastas. Desde 2005 que vai treinando o olhar para identificar as várias espécies e garante que é algo “viciante”. “Os passeios são muito agradáveis, permitem-nos estar no meio da natureza e a beleza das aves é única”, explica, enquanto vai observando com os binóculos as aves que vão voando. Jorge Marques ajuda a identificar um peneireiro. “É uma ave de rapina que se identifica pelo comportamento. É a única que faz estes movimentos”, explica enquanto aponta para a ave que bate as asas sem sair do local. No meio do percurso, os binóculos de todos os participantes surpreendem um outro observador, que está ao longe, escondido no meio da vegetação com um telescópio. Ninguém o conhece e o passeio prossegue. “A única coisa que é preciso para uma saída destas é levantar cedo. As pessoas têm de arranjar outras actividades que não passem só pelas idas ao centro comercial”, explica Margarita Pinto, uma médica espanhola que trabalha em Lisboa. O prazer de observar aves transmite, para a médica, uma paz de alma indescritível.Se tivesse chovido, existiriam mais espécies nas salinas de Alverca. É com alguma desilusão que não se conseguem encontrar patos de bico vermelho. “Eles estão por perto”, nota Joana Andrade. Nem a chuva que começa a cair, impede todos de desbravar mais vegetação para tentar descobrir os ditos patos, mas nem sinal deles. O passeio que estava previsto terminar às 13h00 prolongou-se até às 14h00, sem que se desse pelo passar do tempo. Uma fuinha dos juncos, tão pequena que mal se vê de binóculos, proporciona um dos últimos bons momentos do dia, antes de começar a voar.Amigos do Forte querem ver património natural aproveitadoA associação cívica Os Amigos do Forte que ajudaram a organizar o passeio juntamente com a SPEA gostariam de ver potenciado todo o património natural do concelho de Vila Franca de Xira. O presidente da associação, Eduardo Vicente gostaria que a zona fosse “protegida de quaisquer projectos urbanísticos” e acredita que se as pessoas conhecessem todo o potencial o valorizavam mais. A Câmara de Vila Franca de Xira ao abrigo de um protocolo estabelecido com a Universidade Lusíada de Lisboa chegou a promover em 2010 um concurso de ideias para a concretização de uma passagem superior pedonal que ligasse o Forte da Casa à frente ribeirinha. Mas o projecto nunca andou para a frente. “As próprias pessoas do Forte da Casa estão de costas voltadas para a zona ribeirinha. Esta ponte pedonal traria certamente mais pessoas”, acrescenta Jorge Portijo. A associação acredita que existe no Forte da Casa uma potencial enorme para os turistas, a nível dos Fortes das Linhas de Torres e da observação de pássaros, que estão por explorar. Joana Andrade acredita que ainda não se construiu na zona por ser um espaço facilmente inundável e tem pena de ver as salinas de Alverca sem qualquer tipo de gestão ou manutenção.
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