Primeira mulher em 120 anos a dirigir Ateneu Artístico Vilafranquense
Filipa Silva, 27 anos, é enfermeira e tem vontade de continuar o trabalho da anterior direcção
Uma jovem enfermeira de Vila Franca de Xira, Filipa Silva, 27 anos, é a nova presidente do Ateneu Artístico Vilafranquense e a primeira mulher a ocupar o cargo em 120 anos de história da colectividade. Vai liderar uma equipa jovem. Seis dos sete elementos da direcção têm menos de quarenta anos.
O Ateneu Artístico Vilafranquense tem pela primeira vez em 120 anos de história uma mulher à frente da direcção. Filipa Silva tem 27 anos, é enfermeira de profissão e tem vontade de continuar o trabalho iniciado pela anterior direcção. A casa tem uma tradição de presidentes do sexo masculino. A documentar isso mesmo está um conjunto de fotos que forra as paredes da colectividade centenária. “Os meus amigos dizem a brincar que vou ter que arranjar um bigode”, diz com humor Filipa Silva enquanto vai abrindo as portas de uma casa que conhece desde muito nova.Filipa Silva, bem como grande parte dos elementos da direcção, não caiu de pára-quedas na colectividade. Tem actividade no Ateneu desde os cinco anos de idade. Frequentou o ballet durante 12 anos e ainda hoje integra a banda como percussionista. Toca bombo, caixa, pratos, tímpanos, entre outros instrumentos. Integra o elenco do Teatro do Zero, secção do ateneu, e dá apoio ao grupo.Trabalha por turnos no serviço de urgências do Hospital de Vila Franca de Xira, onde reside, mas nem a intensidade do trabalho a impede de continuar a participar nas actividades. As eleições dos novos corpos sociais do Ateneu realizaram-se na noite de sexta-feira, 23 de Março. A lista única apresentada acabou por ser aprovada com larga maioria mas antes a polémica instalou-se devido às dúvidas lançadas pelo facto da direcção ser maioritariamente composta por gente jovem, estar ligada sobretudo à secção de teatro e não ter programa definido.Filipa Silva explicou a O MIRANTE que nos tempos difíceis que se vivem não faz sentido deixar no ar promessas vãs que não sabem se conseguirão cumprir. “O nosso objectivo é continuar o trabalho da anterior direcção que é muito meritório. Queremos antes de mais estudar com rigor a situação do Ateneu”, atestou. Argumento que não convenceu alguns dos sócios presentes. “Se são jovens e têm sangue novo terão algumas ideias, não?”, lançou uma associada em tom de provocação manifestando-se contra o facto de não terem um projecto definido não sabendo assim o que estaria a votar. David Silva, no mesmo sentido, defendeu a interrupção da assembleia por um mês para dar a oportunidade ao grupo de apresentar um conjunto de ideias mas a proposta acabou por não vingar. Já um outro associado mais antigo, David Nunes, criticou implicitamente os “velhos do restelo” colocando-se num dos papéis mais democráticos da noite. “Criticam-se tanto os jovens porque não participam mas quando surgem é assim que se procede”, lamentou dando um voto de confiança à jovem equipa. Recorde-se que em 2009 o Ateneu não tinha voluntários para assumir a direcção e a colectividade foi gerida por duas comissões administrativas, o que dificultou o funcionamento da colectividade. Filipa Silva compreende a reacção de alguns sócios que considerou normal. “Somos uma lista nova e embora tenhamos todos uma história ligada a esta casa as pessoas nem sempre estão receptivas à mudança”, analisou.Filipa Silva não esconde a vontade de trazer mais espectáculos ao Ateneu dinamizando o auditório. “Vila Franca precisa de cultura e precisa de pessoas que frequentem esta casa”. A nova direcção não quer fazer sombra ao Museu do Neo-Realismo, que considera que desenvolve um trabalho com mérito, mas antes complementar arranjando estratégias para que cada vez mais famílias inscrevam os filhos nas actividades da colectividade. “Quantas mais espaços de cultura existirem em Vila Franca melhor”. O presidente da direcção cessante, Mário Calado, que apoiou a nova direcção e passa a presidente da assembleia geral, garante que o Ateneu conseguiu pagar ao longo dos últimos dois anos muitas dívidas ficando ainda por saldar o empréstimo com o Banco Espírito Santo no valor de 283 mil euros, firmado para a recuperação de um anexo. A direcção já escreveu ao presidente do banco, Ricardo Salgado, apelando à compreensão para a “importância que tem a manutenção do espaço na expectativa de que se encontre uma solução”. A dívida não assusta o grupo jovem e dinâmico que aceitou o desafio e quer levá-lo a bom porto. O objectivo comum da nova direcção é o de que o Ateneu não ceda ao pessimismo nacional. “Não queremos que esta casa se deixe abalar pela conjuntura actual, pela tristeza e sobretudo pela dívida que tem o Ateneu”, assegurou Filipa Silva.Núcleo duro da direcção tem menos de 40 anosFilipa Silva encabeça a lista da nova direcção para o biénio 2012-2014 do Ateneu Artístico Vilafranquense que é composta ainda por Mauro Gonçalves, como presidente adjunto. Álvaro Figueiredo, Luís Capucha Pereira e Oti Fortes são os três vice-presidentes. Ana Rute Cordeiro é secretária e Joaquim Ferreira tesoureiro. Dos sete elementos da direcção seis têm menos de 40 anos. O que é uma novidade na história do Ateneu. O anterior presidente da direcção do Ateneu Artístico Vilafranquense, Mário Calado, ocupa o lugar de presidente da assembleia geral. João Conceição fica com o lugar de vice-presidente. Dinis Fonseca e Pedro Cairrão são primeiro e segundo secretários, respectivamente. O Conselho Fiscal é composto por Victor Lilaia da Silva, João Conceição e António Lopes. Dinis Fonseca e João Conceição são os dois delegados à Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto.
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