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Relações entre colonizadores fenícios e indígenas eram desiguais

Ocupação ditou alterações profundas ao nível tecnológico, social e cultural
Há três mil anos, quando os fenícios colonizaram o estuário do Tejo ocupando lugares como Santa Sofia e Quinta da Marquesa, no concelho de Vila Franca de Xira, terão exercido sobre os indígenas determinadas formas de exploração já que as relações eram desiguais. É pelo menos esta a visão da professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Ana Margarida Arruda, que falou sobre os “Fenícios no estuário do Tejo” numa sessão realizada no âmbito das conferências “Vila Franca de Xira há três mil anos”, que decorreu na tarde de quinta-feira, 12 de Abril, no Museu Municipal de Vila Franca de Xira.Ao falar sobre o Tejo, palco de interacção entre indígenas e fenícios, Ana Margarida Arruda disse ironicamente não acreditar que aquele povo percorresse o mediterrâneo “para plantar lentilhas”. “As relações entre colonizadores e colonizados pressupõem um contacto desigual e de exploração. Não se tratou propriamente de um convite para um baptizado”, comparou no momento destinado à discussão de ideias assumindo ter sobre este assunto uma posição ideológica. Para a docente os fenícios não se limitaram apenas a ser os navegadores retratados na banda desenhada interessados em fazer meia dúzia de trocas comerciais tendo em contra que houve gente que se instalou. “O custo social de produção de um litro de vinho não era o mesmo de um quilo de estanho”, exemplifica.Ana Margarida Arruda alerta no entanto que a generalização entre indígenas e fenícios não deve ser feita de forma simplista já que provavelmente haveria nas duas comunidades aristocratas, remadores e oleiros.Ao contrário do que terá acontecido em outros pontos, nos lugares de Santa Sofia e Quinta da Marquesa a ocupação não permaneceu provavelmente porque haveria necessidade de partir para outros lugares onde pudesse ser assegurada uma economia de escala que garantisse quantidade de alimentos suficiente para a população.Os fenícios alteraram profundamente a realidade existente tanto ao nível tecnológico como ao nível social e cultural. Introduziram a roda de oleiro, as técnicas de redução do ferro, o vinho, o azeite, a escrita, assim como novas concepções de arquitectura. Verificou-se o aumento da área cultivada, o recuo da floresta mas também a introdução de novas espécies de animais, como galináceos. A nova página da história que surgiu com a escavação e estudo do povoado de Santa Sofia, em Vila Franca de Xira, justifica o ciclo de conferências e a presença da comunidade científica que tem vindo a debater e a estudar os novos dados que a investigação, patrocinada pela câmara municipal, tem vindo a descobrir.O ciclo de conferências visa complementar a exposição com o mesmo nome, patente no museu municipal, que dá a conhecer a presença humana no Vale do Tejo em meados do primeiro milénio antes de Cristo e a interacção entre as populações aqui residentes e os mercadores Fenícios do mediterrâneo oriental, tendo por base recipientes decorativos identificados como sendo da época.

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