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Senhor ministro da Economia oiça bem o que lhe dizem!

Empresários que sabem o que valem e que se recusam a baixar os braços

Os breves depoimentos que O MIRANTE recolheu para este especial dedicado ao imobiliário e à construção civil devia ser lido com muita atenção pelo Ministro da Economia e pelo Primeiro-Ministro. São declarações de quem sabe do negócio, das empresas, dos clientes, dos bancos e de muito mais. Pessoas que sabem mais da vida com os olhos fechados, que todos os membros do Governo com óculos e binóculos. Não há aqui ideias novas. A maioria delas já foi transmitida aos governantes por associações empresariais e foi ignorada. Pode dizer-se que os empresários estão a falar para o boneco ao repetirem o que se sabe mas a sabedoria popular também diz que “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. E fica outra mensagem. Estes empresários não vão baixar os braços.

Ricardo Pereira, António Jorge Pereira Lda., Torres NovasEstado tem de ser o primeiro a dar o exemplo e pagar a tempo e horas“O Estado deve começar a pagar a tempo e horas se quer ser exemplo e ver a economia dar o salto que necessita”. A opinião é de Ricardo Pereira, sócio-gerente da empresa de comercialização de tintas António Jorge Pereira, Lda., com lojas em Torres Novas e Fátima. “Pela nossa parte deixámos de fornecer quase todas as câmaras municipais e temos duas ou três situações de créditos pendentes. Neste momento só fornecemos um município”, refere. A par dos atrasos nos pagamentos há menos clientes e é inevitável negociar muito mais e com maior atenção. “Os construtores, de um modo geral, ligam muito aos preços. Já os particulares, embora estejam a dar atenção aos preços, preferem pagar um pouco mais para ter um produto de qualidade”, refere. A empresa também se adaptou às circunstâncias e o primeiro passo dado foi a redução de stocks apesar de manter a mesma diversidade de artigos e marcas de tintas. “A situação é bem diferente da de há dez anos quando os clientes construtores compravam e guardavam nos estaleiros toda a tinta de que precisavam “, recorda Ricardo Pereira, admitindo que o sector da construção foi mais longe do que devia. Apesar de tudo acredita que manter um “pensamento positivo” é essencial, porque “desanimar é caminhar para a liquidação”.Ricardo de Almeida, construção e manutenção de jardins, Louriceira (Almoster)“Fazer um bom serviço é a melhor forma de conquistar clientes” Com a actividade da sua empresa unipessoal montada há cerca de um ano na construção e manutenção de jardins, Ricardo Vitorino de Almeida foi fazendo do serviço e da confiança com os clientes um meio para chegar a outros clientes. “Os clientes querem o mais barato possível, por isso digo-lhes que mais vale acertar um preço por hora e assim sabem com o que vão contar”, explica.Como a construção de jardins de raiz já tem pouca procura, o jovem empresário vai apostando na manutenção e conservação, bem como em alterações que os clientes por vezes querem fazer. Faz ainda trabalhos de pintura, reparação de fissuras, serralharia, entre outros. “Há que procurar sempre novas alternativas”, acrescenta.Com a crise no mercado da construção, Ricardo de Almeida tinha duas propostas a fazer para legislação. A redução do IVA para 17 por cento ou para uma taxa intermédia, seja nas transacções como no custo dos materiais e o reforço do apoio à internacionalização de empresas num sector onde acontecem despedimentos em massa e as obras estão paradas.Nelson Mercê, Nelson Mercê - Atelier de Arquitectura, Unipessoal Lda., AlmeirimClientes procuram projectos mais comedidos em dimensão e materiais No atelier de arquitectura de Nelson Mercê, em Almeirim, também se sente a crise que se vive no país e no sector imobiliário mas de forma particular. Nos últimos anos os clientes e potenciais interessados têm procurado o técnico para executar projectos de menor dimensão e com materiais mais em conta. Isto em relação a projectos para habitações particulares.O atelier teve de se adaptar aos novos tempos e procurar novas áreas de negócio como as legalizações e alterações de uso de imóveis, trabalhando para todo o país, dado ter experiência de trabalho em Cascais e Lisboa, antes da instalação em Almeirim. As dificuldades de acesso ao crédito são o principal motivo para a alteração da maneira de pensar dos clientes. O arquitecto não desanima e procura encontrar alternativas aos negócios mais convencionais. Ainda assim procura dar um cunho pessoal e profissional aos projectos que vai concebendo, de acordo com as suas convicções. “Temos dois projectos aprovados em câmaras municipais, prontos a serem concebidos, que estão presos por falta de financiamento bancário”, exemplifica. Manuel Vicente, Casa Arranjada, EntroncamentoDevia ser dada mais atenção às imobiliárias e aos serviços que prestamCom os bancos a dificultarem o acesso ao crédito para habitação nova há muitas pessoas a renovar as suas casas ou a apostar no mercado das casas usadas. A caminhar para um ano de actividade no Entroncamento, com a sua “Casa Arranjada”, empresa que se dedica a todo o tipo de construções, reparações e manutenção de casas ou de jardins, Manuel Vicente reconhece que os clientes estão a tentar fazer tudo para gastar o menos possível. “Existe alguma margem entre o que o cliente quer pagar e o que a empresa pode facilitar. É nesse capítulo que tentamos chegar a um bom preço”, diz o empresário.A empresa tenta tirar partido do know-how da imobiliária QualiDomus, que Manuel Vicente também gere, para contornar as dificuldades de acesso a crédito bancário com acordos com entidades de crédito ao consumo ou pessoal. Por muito que a crise esteja para ficar e em força Manuel Vicente diz que desanimar com as dificuldades é morrer e acabar com o país, por isso aposta em procurar sempre novos trabalhos dando-se a conhecer na internet, nos jornais ou pessoalmente. Para si, o mercado de venda de imóveis devia passar obrigatoriamente pelas empresas de mediação imobiliária. “São os bancos, os construtores, os particulares a vender casas, muitas vezes sem estarem colectados. Afinal para que servem as imobiliárias? Deste modo mais vale acabarem”, desabafa.Cláudio Pereira, gerente da Prolarme, Almeirim“Os clientes estão cada vez mais exigentes”O gerente da Prolarme, empresa de Almeirim, Cláudio Pereira, nota que os clientes sabem bem o que querem e que quando o procuram já têm uma ideia formada sobre o produto ou serviço que pretendem. “No mundo das tecnologias, como é o caso de alarmes e outros, isso nota-se cada vez mais. E de um modo geral, uma boa parte pergunta pelos preços mais baixos e pelas opções de pagamento”, reconhece. O empresário diz que também trabalha mais fora de horas e que tem procurado trabalhar com quem tem credibilidade no mercado. Se uma semana ou um mês não corre tão bem como o esperado, Cláudio Pereira não desanima à primeira e sabe que tem que ser mais proactivo. Diz que se pudesse introduzir nova legislação no país, reforçaria as condições de trabalho dos agentes da autoridade que considera que estão desacreditados perante a opinião pública. “São essenciais para prevenir o crime e para prender os criminosos”, conclui.Nuno Mendes, topógrafo, Almeirim“Registos do IMI deviam ser mais rigorosos”O Governo deve ser mais exigente na realização de levantamentos topográficos de prédios para efeitos de Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). É o que defende o topógrafo Nuno Mendes, de Almeirim, sabendo que há muitos prédios rústicos e urbanos em que os valores reais não têm em conta as benfeitorias realizadas. Além de poder aumentar o número de serviços da sua actividade profissional, essa seria uma acção proveitosa para o Estado em termos de receitas, argumenta.No dia-a-dia, Nuno Mendes repara que os clientes têm procurado resolver os seus problemas mais em cima da hora, quando realmente é necessário, já que falta dinheiro e se pedem prazos mais flexíveis para contratar o serviço. Admite que quando há menos encomendas é obrigado a dar mais de si em termos de disponibilidade e a procurar novas soluções, não esperando que o telefone toque. Filipe Barreira, Mira e Barreira Construções, ChamuscaBaixar impostos e dar crédito para revitalizar a economia Para sobreviver à crise a empresa Mira e Barreira Construções, da Chamusca, começou a poupar nas despesas correntes, principalmente no combustível. “Só fazemos deslocações estritamente necessárias”, dizem.Os clientes existem mas regateiam até ao último cêntimo e a luta pelos preços é extenuante. “Há que tentar chegar a um acordo com os clientes particulares. Noventa por cento da construção está em queda e os bancos não desbloqueiam dinheiro para os investidores que têm projectos “, analisa Filipe Barreira, lembrando que os portugueses estão a cumprir com as exigências do Estado mas os bancos não.Face às dificuldades o empresário defende que o IVA deve voltar a baixar três ou quatro pontos percentuais, assim como uma baixa do imposto a pagar à Segurança Social. “Devia também haver maior fiscalização nas obras públicas e uma luta contra o clientelismo. Devia ainda haver uma baixa de juros, concessão de empréstimos e carência de juros para quem investe em obras de regeneração urbana dentro das vilas e cidades”, sugere o empresário.Manuel Tomé Correia, Ribatintas, SantarémContornar as dificuldades procurando novos clientes e mercadosManuel Correia tem procurado contornar o abaixamento da venda de tintas para construção civil nos últimos tempos com o escoamento para outras áreas de negócio. A venda de tintas cresceu em 2009-2010 mas estagnou em 2011-2012. “Tenho conseguido reforçar vendas para o sector de metalomecânica, restauro de imóveis e repinturas e procurar novos clientes. Manter os velhos clientes de confiança e encontrar novos, é o meu objectivo”, explica. Há sempre momentos menos bons durante um ano de actividade, principalmente na parte dos recebimentos o que causa algum desânimo, mas Manuel Correia diz que os compromissos se têm de cumprir independentemente dos recebimentos. Defende que devia ser instituída uma lei que obrigasse a que os negócios fossem consumados com pronto pagamento, principalmente quando estão metidos nos negócios as câmaras municipais. “Hoje em dia estamos sempre de pé atrás, já não sabemos quem é bom e quem não é. Por exemplo, só forneço duas ou três autarquias, a outras não dou crédito”, conclui.Miguel e Ana Vieira, Casassist - Manutenção, Lda. Empresas clandestinas deviam ser mais fiscalizadasCom a falta de dinheiro que paira no mercado, os potenciais clientes de empresas como a Casassist, que faz remodelações, pinturas, trabalhos de pedreiro, canalizações, ladrilhos, calçadas ou coberturas, também se retraem na hora de investir por não saberem como vai ser o futuro próximo. Ainda assim, a empresa vai garantindo um nicho do mercado. “Temos um leque de clientes que costuma apostar na remodelação das suas habitações com alguma regularidade”, exemplificam os sócios-gerentes da empresa Miguel e Ana Vieira. No actual momento de crise a Casassist também procura fazer uma melhor divulgação dos seus serviços através da publicidade, na transmissão de confiança às pessoas. Ana e Miguel Vieira são optimistas por natureza e é nos períodos de maiores dificuldades que exigem mais de si mesmos, de insistir e de dar a volta por cima. Apesar disso consideram que a legislação que rege o mercado e os diversos negócios devia ser aplicada à risca tendo como mira o mercado paralelo. “As empresas clandestinas que fazem concorrência são um desses problemas”, alertam.Sílvia Marante, 42 anos, empresária, TomarArregaçar as mangas e antecipar o futuroMais clientes particulares e menos construtores civis foi a principal mudança sentida nos últimos dois anos pela empresária Sílvia Marante que gere, com a irmã Margarida, a empresa Marante - Materiais de Construção e Decoração, lda, em Tomar. “O crédito para a compra de habitação deixou praticamente de existir e muitos dos nossos clientes que eram, sobretudo, os construtores, cessaram actividade. Houve uma mudança do perfil do nosso cliente”, explica. “Neste momento os materiais que se vendem destinam-se à construção de moradias e a obras de remodelação ou pequenos arranjos. E nós temos uma grande diversidade de artigos, desde os primários para a construção, canalizações até aos materiais de acabamento ditos de decoração. “Apostamos na qualidade e diversidade”, garante. A empresa, que completou 39 anos no dia 14 de Abril, não baixa os braços. Aproveitou para se reestruturar, estando a implementar o Sistema de Gestão da Qualidade segundo a ISO 9001/2008 encontrando-se a dois meses de concluir o processo e obter a certificação. Destaca-se ainda por ter sido distinguida com o prémio “PME Líder” em 2011, integrado no programa FinCresce atribuído pelo IAPMEI. Procurando combater o espírito negativista instaurado pela actual crise social e económica, a empresária é pragmática, considerando que nesta altura é que se deve trabalhar mais e ser criativo. “Sempre arregaçámos as mangas e procurámos anteciparmo-nos ao futuro. Tirámos o “s” à palavra crise (crie) e colocamo-lo no início da palavra sucesso”, refere Sílvia Marante.A empresária diz que a melhor solução para a crise era baixar o IVA para aumentar o consumo. “De certeza que o Estado arrecadaria mais receitas”, opina. Tem expectativa em relação à nova lei do arrendamento. “Com a entrada em vigor desta lei encerra-se um ciclo no qual predominou a obra nova e a aquisição de casa própria, começando outro onde se irá destacar a reabilitação”, refere. Bruno Barbosa, AA João - Materiais de Construção, Lda, Azervadinha, CorucheNão vale a pena desanimar quando a “tenda” está montadaNo armazém de Bruno Barbosa em Azervadinha vendem-se materiais de construção, dos mais primários, como os azulejos, mosaicos ou cimentos, a outro tipo de artigos como salamandras, churrasqueiras, etc. O empresário nota que as pessoas continuam a comprar mas optam pelo artigo que pode ser mais barato sem deixar de fazer a compra a pronto pagamento. “É o que fazem se tiverem de levar uma salamandra mais acessível ou um azulejo de marca menos categorizada”, acrescenta Bruno Barbosa.O empresário também procura controlar os gastos. Os carros deslocam-se menos vezes e em mais ocasiões direccionados para destinos próximos, com cargas e entregas completas, principalmente nos concelhos de Coruche e Mora, onde trabalha preferencialmente. Se o negócio abranda, Bruno Barbosa diz que não é de desanimar ou de ficar deprimido, até porque, como diz: “a tenda está montada” há vários anos. Benéfico para todos seria a redução do IVA, defende. “Uma salamandra era taxada a 13 por cento, enquanto hoje é taxada a 23 por cento. O Estado fica com quase um quarto do que vendemos. É um exagero”, conclui. Miguel Saldanha, Construções Saldanha Alves, Amiais de Baixo“O Estado absorveu o dinheiro com que os bancos deviam financiar a economia”A empresa de Miguel Saldanha aposta na construção de moradias de qualidade e há clientes que continuam a privilegiar essa opção mas os preços baixaram para além do razoável e o desastre está à vista. “Há empreiteiros que chegam a apresentar valores 35 a 40 por cento abaixo do preço de custo. O resultado disso são uma série de insolvências e o sufoco em que as pessoas e empresários vivem”. Miguel Saldanha diz que nos últimos quatro anos tem travado uma dura luta para convencer os clientes que abaixo de um certo preço é impossível garantir qualidade e que investir em qualidade numa habitação é ganhar dinheiro no futuro. Para Miguel Saldanha os bancos têm de voltar a injectar dinheiro na economia concedendo créditos às empresas para que estas criem empregos mas que as esperanças são poucas. Carlos Crisóstomo, Organizações Crisóstomo, Vila de ReiIncentivos à aquisição de equipamentos amigos do ambiente devem ser retomados O fim dos incentivos à compra de equipamentos amigos do ambiente na produção de energia fez com que o esperado “boom” das energias renováveis entre os particulares e as empresas não produzisse o efeito esperado. Quem constata essa realidade é o empresário de Vila de Rei, Carlos Crisóstomo, que comercializa equipamentos de aquecimento através de painéis solares e caldeiras de biomassa. “Chegou a haver um incentivo de 40 por cento na compra destes equipamentos mas as pessoas já não ligam às poupanças e consideram caro o investimento inicial”, diz Carlos Crisóstomo, lembrando que um painel solar para uma família de três pessoas pode custar 2.500 euros e ter retorno em quatro anos. Defende, por isso, que o incentivo deve ser retomado para voltar a mexer com o mercado. Paralelamente defende a baixa do IVA para a taxa intermédia de 13 por cento, onde já esteve. A nível da tutela defende maior fiscalização das actividades do sector.Os seus negócios abrangem o norte do distrito de Santarém e a zona do Pinhal Interior. Adaptou-se a novas margens de lucro, mais curtas, enquanto os clientes optam pelo material estritamente necessário. Apostou nos equipamentos de biomassa que consistem na queima de resíduos naturais, como miolo de azeitona, importado de Espanha.Sílvia Sousa, Century 21 - Casas do Gótico, SantarémTaxas de juro demasiado altas penalizam mercado imobiliário As imobiliárias foram as primeiras a sentir a crise no sector da construção e a Century 21 - Casas do Gótico não foi excepção, principalmente nos últimos seis meses a um ano em que o cliente particular deixou de ter acesso ao crédito bancário para aquisição de imóvel. “Actualmente são mais as famílias e compradores que possuem capitais próprios que movimentam as vendas de imóveis ou, em alternativa, as pessoas com rendimentos mais elevados, que disponham de 20 por cento do capital necessário”, explica Sílvia Sousa, gerente da loja de Santarém.Face à alteração do comportamento dos clientes a Century 21 aposta actualmente mais nas opções de arrendamento e na sua gestão, com Sílvia Sousa a garantir que a loja possui um vasto leque de opções de imóveis para arrendamento, a preços apetecíveis, entre os 250 e 350 euros mensais. Ainda assim o peso dos imóveis para venda face aos que são para arrendar ainda tem uma relação de 60-40 por cento no negócio da Century 21 - Casas do Gótico em Santarém.Para Sílvia Sousa o acesso ao crédito bancário é a chave para por o mercado imobiliário a funcionar novamente dentro da normalidade. “A União Europeia e o Banco Central Europeu deviam dar directrizes para a baixar as taxas de juro. Os bancos aplicam hoje spreads de cinco e seis por cento, o que é incomportável. Estamos a voltar a taxas de juro de mercado como em 2008”, alerta.

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