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Naquela manhã de Abril em 1995

O dia 14 de Abril foi, no ano de 1995, uma sexta-feira; não uma qualquer mas a Sexta-Feira Santa. Minha mãe estava a sofrer numa cama articulada de um Lar de Idosos, entre tubos, lágrimas e vitaminas. Passaram dezassete anos e continuo a pensar que foi a Sombra de Deus e a Sua vontade que quis levar, naquele dia tão especial, o corpo de minha mãe, já cansado de tantas doenças, para ele poder repousar na Sua Sombra, afinal muito mais viva que todas as luzes do Mundo. Os anos passam uns atrás dos outros muito depressa, parece que tudo foi ontem, havia sol, os meus filhos estavam atónitos e nenhum deles se lembrava com precisão de outra morte na família. Tinha sido o avô João em 1983: a mais velha tinha cinco anos, o rapaz tinha dois e a mais nova ainda não tinha nascido. Em Santa Catarina o Largo do Pelourinho ficou cheio de gente e os sinais dobrados na torre da igreja eram uma música triste, como se cada batida ritmada dos badalos dos três sinos fosse uma lágrima húmida, volumosa e sonora. Em Abril de 1995 eu já sabia mas hoje posso afirmar: as mães não morrem. Continuam presentes e activas embora invisíveis. Às vezes parece que foram ao cinema ver um filme romântico ou às compras para o enxoval da neta mais velha ou então comprar uns lápis de côr para a escola do menino. Também acontece que as ovelhinhas do presépio precisam de ser substituídas, todos os anos os miúdos partem uma ou mais. Chegam a passar uma tarde quase inteira para comprar alfazema a peso para depois costurarem saquinhos pequenos que vão cheirar bem para as gavetas da roupa. As mães não morrem. Apenas deixaram de ir lanchar à pastelaria do costume onde todas as amigas e vizinhas já não são vistas todos os dias.José do Carmo Francisco

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