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Benavente precisa de uma nova dinâmica cultural

Fraca adesão dos munícipes aos poucos eventos culturais que se realizam no concelho

O MIRANTE aproveitou a apresentação do novo livro de Domingos Lobo para conversar com algumas das pessoas que são presenças assíduas dos eventos culturais que se organizam na região e a opinião é unânime - é preciso mais vida cultural em Benavente.

Silvestre Pedrosa, bancário, é um rosto conhecido nas iniciativas culturais que se vão realizando no concelho de Benavente. Não poupa nas críticas em relação à política cultural seguida pela Câmara de Benavente. “O nosso concelho é muito pobre a nível de iniciativas culturais. A gestão da autarquia não contempla nem nunca contemplou uma verdadeira política cultural”, aponta. O bancário dá como exemplo o Cine-Teatro de Benavente que está na sua opinião subaproveitado. “Há algum tempo que deixei de cá vir. Os filmes que aqui passam não são atractivos e se quero ver alguma coisa de jeito tenho de ir a Lisboa. É uma pena quando temos aqui uma sala com estas condições”, nota. Silvestre Pedrosa reconhece que de momento a situação económica do país é complicada, mas assegura que quando houve mais dinheiro também não se investiu na cultura local. O recente corte nos jornais diários que estavam disponíveis na rede de bibliotecas do município, deixa-o ainda mais surpreendido. “Quando numa casa se chega ao ponto de cortar com o papel higiénico e colocar jornal é muito complicado”, conclui. Outra presença assídua neste tipo de eventos é Eugénia Edviges, de 59 anos. Tem pena de não existirem mais encontros que reúnam os artistas da terra. “Temos pessoas com características artísticas extraordinárias que deveriam ser mais evidenciadas. Os espaços culturais que temos, como o Cine-Teatro ou o Centro Cultural de Samora precisavam de uma maior dinamização cultural”, aponta. Eugénia Edviges nota, contudo, que os munícipes do concelho ainda não estão muito motivados para participar neste tipo de encontros. “O vivermos perto de Lisboa também leva muita gente a ir para lá ver espectáculos mais aliciantes, mas isso não pode ser um impeditivo. É preciso motivar as pessoas com boas ofertas culturais aqui”, acrescenta. Maria Clotilde Gaspar, de 79 anos, reformada, concorda que há uma fraca dinamização cultural no concelho, mas reconhece que a situação já foi pior. “Lembro-me de apresentarem em Benavente uma peça de teatro amador e de as salas encherem por completo porque eram pessoas da terra, mas se viesse uma peça de fora, de grande qualidade, ninguém aparecia”. O mesmo ainda continua a acontecer nos dias de hoje e Maria Clotilde Gaspar acredita que a educação do público para este tipo de eventos ainda leva o seu tempo. “Cartografia dos Ossos” é o novo livro de Domingos LoboO escritor e animador cultural da Câmara Municipal de Benavente, Domingos Lobo, tem um novo livro - “Cartografia dos Ossos”, editado pela Nova Vega. A apresentação decorreu no sábado, 14 de Abril, no Cine Teatro de Benavente, e contou com a presença de cerca de 30 pessoas. “Cartografia de Ossos” é um romance policial que propõe ao leitor uma incursão pelos caminhos do fascismo. No centro da peripécias, temos um velho agente da PIDE, canceroso, de 80 anos, que decide contratar um detective privado para lhe descobrir a mulher de quem na juventude teve um filho. Os dois homens vão debater-se com os seus remorsos pessoais, os fantasmas que os atormentam e as memórias das poucas coisas boas que tiveram na vida. Domingos Lobo aproveitou para escolher Lisboa, a cidade para onde foi aos 15 dias e permaneceu até aos 30, e o Porto, outra cidade do seu coração. Na apresentação, o autor aproveitou para criticar o mercado livreiro, onde os escritores têm direito a painéis de cartão inteiro à porta dos supermercados e relembrou a época em que se acreditava que a literatura tornava as pessoas melhores. O editor da Nova Vega, Assírio Bacelar, também chamou a atenção para a facilidade com que hoje em dia qualquer um pode ser escritor e publicar um livro. A sessão contou também com a presença do escritor Sérgio de Sousa que traçou uma análise crítica à obra, citando algumas passagens e garantindo que é um romance que se lê da primeira à última página. O prefácio, assinado por Urbano Tavares Rodrigues, destaca que é um “romance caudaloso, de uma constante intensidade, remetendo amiúde para toda a espécie de referências culturais e por vezes de uma extrema crueza”.

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