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João Chora assinala vinte e cinco anos de fados dia 4 de Maio na Chamusca

João Chora assinala vinte e cinco anos de fados dia 4 de Maio na Chamusca

Um fado inédito escrito por um admirador e dois convidados que dispensam apresentações
O fadista João Chora comemora os seus 25 anos de carreira com um espectáculo dia 4 de Maio a partir das nove e meia da noite no cine teatro da Chamusca. Acompanhado pelas guitarras portuguesas de Custódio Castelo e Bruno Mira, pela viola de Alexandre Silva e pela viola baixo de Fernando Maia, João Chora vai ter como convidados especiais Vicente da Câmara e Maria Armanda.Durante o concerto que terá direcção musical do mestre da guitarra portuguesa Custódio Castelo, será estreado um novo fado, da autoria de um admirador de João Chora. “O José Fernandes Castro vive em Genebra e tem um programa de rádio onde divulga a música portuguesa. Mandou-me um poema da sua autoria com indicação para que eu o musicasse. Chama-se ‘Canção do Ribatejo’. Num dos últimos ensaios, eu e o Bruno Mira estivemos a trabalhar na música e irei cantar esse novo fado no dia 4 de Maio”. Para além do espectáculo, as bodas de prata artísticas do cantor e músico da Chamusca serão também assinaladas com a edição de um CD com o título “Fados 25 anos” que inclui uma selecção de 25 fados dos muitos que o artista gravou ao longo do tempo. São fados compostos por grandes nomes da música portuguesa como Jorge Fernando, Nuno Nazareth Fernandes, José Cid, Pedro Barroso, Custódio Castelo ou Fontes Rocha onde não faltam títulos que remetem para o universo do Ribatejo como “Quinta Feira de Ascensão” de João José Samouco da Fonseca e António Lourenço Arrenega; “Fado do Forcado” de Manuel d’Andrade e Francisco Viana; “O Homem do Ribatejo” de Rosa Lobato Faria e José Luís N. Costa ou “Fado do Ribatejo” de Pedro Barroso.Os bilhetes para o espectáculo dos 25 anos de carreira de João Chora estão à venda no posto de turismo da Chamusca. As reservas podem ser feitas pelo telefone 249769100.“Acho que já ganhei o direito a cantar no auditório do Museu do Fado”A classificação do fado como património imaterial da humanidade, pela UNESCO, mudou alguma coisa na tua carreira de fadista?Senti-me bem, como todas as pessoas ligadas ao fado. Algo orgulhoso de fazer parte deste universo. Tirando isso não mudou mais nada. Não notei diferença quase nenhuma, para não dizer nenhuma. Essa distinção beneficia quem tem carreiras a nível internacional porque pode ter despertado uma maior curiosidade no público consumidor da chamada “world music”. E deverá ajudar o fado a chegar onde ainda não chegava. A Mariza costuma dizer que já tem saudades de cantar em casas de fado. No teu caso a conversa deve ser outra.A maior parte dos espectáculos em que participei ao longo destes 25 anos foram em casas de fado, tertúlias, festas populares, colectividades, associações, ou seja, nos ambientes naturais do fado. Também já fiz concertos, nomeadamente no estrangeiro onde não há casas de fados e ainda recentemente estive no Casino da Figueira da Foz, mas raramente.Onde gostavas de cantar e ainda não cantaste?Nas principais salas de todo o Mundo (risos). Que artista não gostaria de lá actuar?! Mas ainda não perdi a esperança de fazer um espectáculo no Museu do Fado. Espero que isso venha a ser possível muito em breve. O Museu de Fado deve estar ao serviço do fado e dos fadistas e não apenas de algum fado e de alguns fadistas. Eu acho que já ganhei o direito a cantar lá. A seguir ao 25 de Abril de 1974 o fado foi bastante hostilizado. Era associado ao antigo regime pelos partidos de esquerda. Ainda viveste esse tempo?Não. Na altura em que começou a minha ligação ao fado esse clima já se tinha dissipado. Em 1989 cheguei a fazer um espectáculo na Festa do Avante, a convite do Ruben de Carvalho (Director do jornal Avante e organizador da festa). Foi na sequência da apresentação no ano anterior do “Ribatejo Fadista - Fado, fandango e poesia”, que tínhamos feito na Expo/98, com duas apresentações diárias durante seis noites consecutivas.A tua ligação ao fado começa primeiro como instrumentista (viola).É verdade. Era instrumentista e de vez em quando também cantava. O grande reconhecimento público acontece em 1996 quando sai o primeiro CD, “Fados e Baladas”. Até essa altura, embora tivesse andado com todos os grandes nomes do fado da altura, tinha um papel discreto. És humilde mas ninguém poderá dizer que não és vaidoso.É uma vaidade comedida. É bom termos a nossa pontinha de vaidade. Não gosto de me chegar à frente mas também não gosto de passar despercebido. Nesta altura conheço o meu real valor.Arrependes-te de nunca teres largado a tua actividade como bancário para te dedicares exclusivamente à tua carreira artística?Pensei muitas vezes nisso ao longo dos anos mas foi assim que aconteceu e sinto-me bem com isso. Quantos fados tens gravados? E quantos sabes de cor?Acho que até hoje gravei 45 fados. Sei-os todos de cor e mais alguns. Algum dos que gravaste tem letra tua?Não. E há só um para o qual fiz a música. A letra é do José Pinhal e chama-se “Sou do Fruto a Raiz”. Faz parte do meu segundo CD e aparece agora nesta colectânea. É uma balada com acompanhamento de viola, baixo e oboé. Não sou um compositor.Do coro da igreja para o mundo do fado João Chora nasceu na Chamusca a 26 de Março de 1959 e é nesta vila ribatejana que reside. Em criança queria ser cavaleiro tauromáquico e ainda há quem se lembre da sua alcunha de “cavaleiro” mas acabou por formar-se em contabilidade. Concilia a actividade de bancário na Caixa de Crédito Agrícola da Chamusca com actuações em espectáculos de fado muitos dos quais concebidos e produzidos por ele próprio. O músico e amigo José Cid, seu conterrâneo, disse uma vez dele que é o fadista amador mais profissional que conhece. Conta que foi a maestrina do coro da igreja quem primeiro percebeu que ele tinha jeito para a música. Tinha na altura dez anos de idade. Começou por aprender a tocar piano e posteriormente viola. Tocou primeiro em conjuntos e só depois encontrou o fado. Bem-humorado, gosta de fazer trocadilhos com as palavras e tenta viver a vida com uma atitude positiva. Quando calha serem os amigos a brincar com ele, relata essas “distinções” com orgulho. “Certa vez, num espectáculo estava constipado e cantei um bocadinho à defesa. A forma como o fiz deu um efeito engraçado à voz . No final o Custódio Castelo, guitarrista e amigo, disse-me que devia estar mais vezes constipado porque cantei muito bem”. Os testemunhos de Ana Moura, José Cid, Vicente da Câmara e Joel PinaAo fim de vinte e cinco anos a trilhar os caminhos do fado não faltariam amigos, companheiros, admiradores que se dispusessem a falar do artista. No disco que assinala as bodas de prata ficam registadas as palavras de quatro pessoas importantes não só para João Chora como para muitos milhares de apreciadores de música.A fadista Ana Moura lembra os palcos partilhados e o que daí resultou para a sua formação. “João Chora é uma das mais importantes vozes do Fado do Ribatejo, região de onde eu também sou natural e onde o fado é vivido com muita intensidade e verdade. Tive o prazer de partilhar várias tertúlias fadistas com o João que foram muito valiosas na minha formação enquanto fadista. Espero que este disco tenha o reconhecimento que a sua voz merece.”José Cid, que tantos jovens ajudou ao longo da sua carreira e que, com a humildade de grande artista que sempre foi, aceitou tocar acordeão no primeiro CD de João Chora, quando este dava os primeiros passos a caminho de um maior reconhecimento público, não faltou à chamada e escreveu para a capa do disco. “De João Chora tudo começa nas mãos e na forma como dedilha e bate o fado. O resto vem a seguir: alma fadista, a voz que segue o poema numa dicção perfeita, respeitando o poeta num espírito tão português que lhe devolve a universalidade. Músico? Intérprete? Personalizado? Único? Fado na tradição? Em João Chora a tradição é o futuro para bem de todos nós. Não mudes tu meu amigo e conterrâneo que eu não mudo.” Vicente da Câmara chama-lhe “artista sério” e diz da satisfação que tem sido actuar em conjunto com ele. O baixista Joel Pina que também participou em gravações e espectáculos de João Chora exalta-lhe “A excelente intuição musical” e “um estilo muito próprio”.
João Chora assinala vinte e cinco anos de fados dia 4 de Maio na Chamusca

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