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Como em tudo na vida também no sector automóvel o barato sai caro

Se antes já havia quem desse mais atenção ao preço que à qualidade a situação tem vindo a acentuar-se. O prejuízo é sempre para os clientes, garantem os profissionais que O MIRANTE ouviu, ligados ao ramo automóvel. O que é mais barato geralmente dura menos tempo. E se for alguma coisa comprada em segunda mão há o problema da falta de uma garantia alargada. Apesar da crise há muitos automobilistas que não descuram a segurança. Isso vê-se por exemplo na escolha dos pneus. Mas também há quem ande com o carro até à última. E a última é a inspecção. Aí não há nada a fazer e há que abrir os cordões à bolsa. Ficam algumas histórias, muitas opiniões e os conselhos de quem sabe do que fala.

Tomás Leiria, 61 anos, proprietário bomba gasolina, Alcanhões“Um negócio assim-assim com menos pessoas a abastecer”Na bomba de gasolina de Tomás Leiria, em Alcanhões, o negócio vai “assim-assim”. Há menos carros a abastecer e a concorrência é grande. Além disso, as pessoas perderam poder de compra e não têm possibilidade de pagar os preços elevados da gasolina e gasóleo. “Tive uma quebra de 30 por cento no abastecimento. As pessoas não têm dinheiro que possa comportar uma subida tão elevada no preço dos combustíveis “, refere.Além de combustíveis Tomás Leiria também vende material ligado à manutenção automóvel como lubrificantes, água destilada, óleo para travões entre outras. É a venda de bilhas de gás que vai ajudando a equilibrar o negócio. O empresário defende que mais vale comprar produtos um pouco mais caros porque normalmente duram mais tempo que os baratos. “O barato às vezes sai caro”, justifica utilizando o conhecido provérbio popular.Júlio Bento, 63 anos, Gerente Vermoto, Santarém“A qualidade tem preço mas de vez em quando temos que fazer uma promoção”No dia em que O MIRANTE falou com Júlio Bento, o proprietário da Vermoto - comércio e reparação de motos e motosserras - tinha explicado a um cliente que o barato às vezes sai caro. A qualidade tem preço e mais vale dar mais dinheiro e comprar uma coisa boa do que optar pelo mais barato e depois andar sempre com problemas. “Mais vale comprar os produtos e os equipamentos nas lojas especializadas porque têm garantia e assistência técnica o que torna tudo mais fácil”, diz.O negócio está mais fraco do que há dois anos e, para Júlio Bento, a crise está a dar cabo dos pequenos empresários. Para combater a malfadada crise, a Vermoto aposta em campanhas regulares com preços mais baixos. “A aposta nas campanhas tem resultado e sempre ajuda a vender um pouco mais”, explica.João Carlos, 56 anos, Gerente Pneusol, Santarém“Quem se veste de ruim pano, veste várias vezes ao ano”João Carlos utiliza o provérbio popular “Quem se veste de ruim pano, veste várias vezes ao ano” para explicar que mais vale gastar um pouco mais de dinheiro e ter produtos de maior qualidade do que preferir material mais barato mas menos bom. “Os clientes acabam por gastar mais quando pedem o mais barato. Já se sabe que o barato não tem tanta qualidade”, refere.O gerente da Pneusol, em Santarém, explica que, apesar da “grave” crise financeira que o país atravessa, a maioria dos condutores portugueses estão conscientes que têm que circular em segurança. “Não vejo pessoas desleixadas”, sublinha. A diminuição do volume de negócio da sua empresa é justificada com o facto de existirem menos carros a circular nas estradas portuguesas. Fernando Rodrigues, 36 anos, Rodripneus, Coruche“Inspecções automóvel têm salvo o negócio”Com a crise financeira, os clientes da Rodripneus já nem perguntam por produtos de marca optando por preços mais em conta. Fernando Rodrigues explica que existem produtos com qualidade e sem qualidade e que essa qualidade tem que se pagar. “Já há produtos com qualidade que têm preços mais acessíveis mas na grande maioria dos casos o que tem maior qualidade é ligeiramente mais caro”, explica.O gerente da Rodripneus confirma que tem havido uma quebra no número de clientes e o que tem salvo o negócio são as inspecções automóveis. “Antigamente vinham à oficina várias vezes para verificar a manutenção do veículo. Agora andam mesmo até às últimas. Há dois ou três anos quando os clientes vinham trocar pneus, alguns ainda podiam ser aproveitos para vender como usados. Hoje é impossível, os pneus vêm completamente inutilizados”, conta o empresário.Jorge Nunes, 46 anos, Casa de Escapes, Santarém“É preferível pagar mais e ter produtos e serviços com qualidade”Situada na Estrada Nacional 3, em São Pedro, Santarém, a Casa de Escapes já existe há mais de duas décadas. Como o nome indica a Casa de Escapes dedica-se à reparação e montagem de escapes. O gerente da empresa, Jorge Nunes, também concorda que mais vale pagar mais e ter serviço de qualidade do que pagar menos sem garantias de durabilidade. “Acabamos sempre por gastar mais dinheiro com os problemas que os materiais de má qualidade nos dão”, afirma.Jorge Nunes procura ter sempre a melhor relação qualidade/preço. O facto de não terem parcerias com nenhum fornecedor dá-lhes liberdade para comprarem aqueles que consideram ser os melhores produtos. Quando perguntamos como está a correr o negócio responde: “vai escapando”, diz entre risos. Na sua opinião, todo o mercado automóvel está muito parado e o que vai ajudando são as inspecções automóveis que obrigam a que os condutores tenham os carros em condições.João Oliveira, 51, anos, Abrantes“A qualidade está acima de tudo”“Se tiver que fazer mais barato do que faço nem vale a pena” , diz João Maria Pereira Oliveira que tem uma oficina de bate chapas e pintura, em nome individual, na Quinta do Cabrito, em Abrantes, há mais de 30 anos. “Por vezes as pessoas escolhem o mais barato e depois as coisas não correm bem e tem que se fazer o trabalho novamente. Ouvem-se reclamações mas não temos culpa. O barato sai caro”, opina o empresário do ramo automóvel. João Oliveira recorda que, antigamente, o trabalho chegava e sobrava mas actualmente tem trabalho para dois e são quatro funcionários. “As pessoas só mandam arranjar o carro quando o têm que levar à inspecção e muitas vezes vão lá primeiro e se chumbar vêm arranjar o necessário”, atesta. Consciente de que tem que deixar sempre o cliente satisfeito, para que volte no futuro, o empresário considera que a “a qualidade está acima de tudo mas tudo depende da carteira das pessoas”. João Oliveira aconselha que não deixem os carros chegar ao desmazelo total.Sérgio Sarabando, 37 anos, Travão a Fundo, Alpiarça“Clientes olham apenas para o mais barato e indispensável”À frente de uma empresa que efectua todo o tipo de reparações mecânicas e ainda tem uma secção de lavagens de automóveis, Sérgio Sarabando concorda com o ditado “o barato sai caro”. Na sua opinião, muitas vezes compra-se barato mas o preço baixo não é sinónimo de qualidade o que faz com que se vá remediando a situação. “Acaba-se por gastar mais dinheiro”, diz. Actualmente os clientes olham apenas para o mais barato e indispensável. Só se preocupam com o que vai ser alvo de visionamento na inspecção automóvel. “Se houver uma porta que não está a fechar tão bem não arranjam, preferem deixar andar. Não há dinheiro para esses arranjos por isso tratam só do essencial”, sublinha.Há cerca de ano e meio tinha clientes que faziam a lavagem completa das suas viaturas todas as semanas. Agora aparecem duas vezes por mês e não utilizam todas as opções de lavagem. “São os sinais dos tempos e da crise. Agora temos que olhar para todas as despesas que fazemos”, refere.Fernando Neves, 48 anos, Gerente comercial Somecânica, Póvoa de Santa Iria“Existem cada vez soluções mais baratas e boas no ramo automóvel”Há 25 anos que Fernando Neves, de 48 anos, está no negócio da reparação e venda de automóveis. Diz que de um modo geral, as pessoas procuram sempre o mais barato, quer na compra de um novo carro, quer numa reparação. “Hoje em dia as pessoas olham muito para o preço, vão ao mais barato, e a verdade é que depois ainda pode sair realmente mais caro”, repara. No passado as pessoas tinham receio de ir às oficinas das marcas para as reparações porque achavam sempre que seria mais caro, mas segundo Fernando Neves actualmente já não é tanto assim. Por outro lado, existem cada vez soluções mais baratas e boas. O gerente dá como exemplo a Dacia, uma linha que integra a Renault, mas que tem um custo mais baixo e apresenta uma fiabilidade muito boa. “Hoje em dia também é possível comprar mais barato e bom. A Dacia apresenta, por exemplo, a mesma qualidade de construção da Renault”, assegura. O gerente da Somecânica, agente Renault, confirma que actualmente o sector automóvel está a passar por uma crise muito grande, mas não desanima e tenta remar contra a maré.João Simões, 69 anos, Moto Reparadora de Marinhais“Quando produtos não prestam recuso-me a vendê-los”A Moto Reparadora de Marinhais é uma empresa familiar fundada por João Simões, em 1987, e que funciona actualmente com a ajuda dos dois filhos a quem o mecânico passou o “bichinho” das motas. Situada à beira da Estrada Nacional 118, em Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos, funciona num espaço contíguo à habitação de João Simões, o que leva o mecânico de motorizadas a afirmar que a oficina está aberta 24 horas por dia, sete dias por semana.João Simões afirma que vende bom e barato e garante que quando sabe que os produtos não prestam recusa-se a vender. Nem sequer compra aos fornecedores. “Há que ter qualidade naquilo que vendemos senão os clientes não confiam em nós e no nosso trabalho e não voltam. Esse é o segredo de qualquer negócio”, afirma.Actualmente o trabalho é pouco e o empresário afirma que se não fosse uma empresa familiar, provavelmente, já tinha encerrado portas. “Se tivesse que pagar ordenados a empregados não me aguentava. Como são os meus filhos que trabalham comigo o dinheiro que entra fica todo em casa”, justifica.

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