O 25 de Abril visto pelos seus participantes
Monárquico e admirador de Salazar na comemoração dos 38 anos do 25 de Abril
O Coronel José Henriques foi um dos militares que esteve na preparação do 25 de Abril e depois na rua na frente da Revolução dos Cravos ao lado de Otelo e Salgueiro Maia, entre outros. Curiosamente ele não está nas fotos oficiais nem tem ainda a medalha da Ordem da Liberdade. Relato breve de uma conferência, realizada na segunda-feira, de um homem que é um excelente orador mas que acabou a conferência sobre o 25 de Abril a perguntar porque razão os portugueses não foram ouvidos sobre se queriam continuar a viver e a trabalhar nos países africanos.
A Câmara de Vila Franca de Xira organizou uma conferência com o antigo membro do exército português subordinado ao tema “o 25 de Abril visto pelos seus participantes”. Sala de sessões cheia, com muitos militares de Abril que, tal como José Henriques, estiveram no centro dos acontecimentos mas não figuram nas fotos oficiais nem receberam até hoje a Ordem da Liberdade.José Henriques pertencia à Infantaria de Mafra e, segundo a sua opinião, os militares de Mafra nunca foram reconhecidos até hoje pelo papel que tiveram na preparação do 25 de Abril. José Henriques é filho de pai republicano e de mãe monárquica miguelista, o que fez dele um militante monárquico patuleia; José Henriques era casado com a filha de um latifundiário; José Henriques considera que Salazar era um homem inteligente e esperto e que foi o último estadista português; e que, depois dele, houve muitos políticos mas nenhum lhe chegou aos calcanhares. Para José Henriques “Marcelo Caetano era o Salazar que ri”. Todas estas considerações foram roubadas da boca do orador nas cerca de duas horas de conferência. O resto, que é o mais importante, resume-se ao seguinte: o golpe militar foi a defesa corporativa dos militares que depois da humilhação na Índia, em 1961, estavam na iminência de voltarem a ser enxovalhados pela perda da guerra nas antigas províncias do Ultramar. Marcelo Caetano já tinha dito que “o Governo português podia suportar uma derrota militar mas não podia suportar uma derrota política”. Estava o caldo entornado. “Marcelo Caetano preparava-se para acabar com o prestígio dos militares portugueses que já tinha ficado bastante abalado com o golpe na Índia onde Salazar cometeu o primeiro grande erro na sua governação ao mandar chouriços para os militares em vez de munições. Os militares portugueses acabaram mortos, ou envergonhados e humilhados no regresso a Lisboa, com a população a apelidá-los de maricas e cobardolas”. Uma humilhação que ainda não estará bem contada e que Salazar nunca terá reconhecido como uma derrota a confiar no prestígio de estadista que ainda resiste na memória de José Henriques.“Estes gajos vão acabar connosco; está portanto na hora de acabarmos com eles, terá dito um militar de cabeça rapada, que poderia ter sido José Henriques, alguns meses antes do 25 de Abril na Tapada de Mafra. E não demorou a cumprir-se o que parecia uma evidência para quem queria fazer dos militares os bobos da corte.O Coronel José Henriques proporcionou a quem o foi ouvir, na sala de sessões da Câmara de Vila Franca de Xira, duas horas de excelente comunicação com a colaboração de vários amigos e ex-companheiros de profissão que, sentados nas primeiras filas, e sempre calados, proporcionaram uma conferência com alguma originalidade, já que o orador usou e abusou do nome dos presentes para dar consistência aos seus relatos, à sua fé, às suas convicções e à sua forma “politicamente incorrecta”, como fez questão de afirmar que gosta de se assumir. Foi uma conferência sobre a poesia do 25 de Abril sem poesia mas com a vantagem de ser um relato “visto pelos seus participantes”.Uma última nota curiosa: a conferência não incluía considerações sobre o pós 25 de Abril. Mas o Coronel José Henriques, já com as luzes da sala a tremelicarem devido à pressa com que alguns assistentes desciam as escadas, ainda disse em jeito de desabafo: “Quem fez o 25 de Abril recebeu ordem para regressar aos quartéis. Quem estava na sombra saltou para a ribalta e para a fama. Depois foi tudo o que já se sabe. Perguntaram, por exemplo, ao povo português se queria continuar em África? Não perguntaram!!”Pois não. Também ainda hoje não perguntam ao povo português quando é o caso de congelarem e as reformas antecipadas. JAE
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