Comerciante e agente funerário com paixão pela carpintaria
Virgílio Eugénio, empresário da Carregueira, é pau para toda a obra
Virgílio Eugénio é aquilo a que se pode chamar o homem dos sete ofícios. Carpinteiro, comerciante e agente funerário. Natural da Carregueira, concelho da Chamusca, aos 69 anos mantém na terra natal dois negócios que herdou do pai, a drogaria e a agência funerária mas não esquece a carpintaria que foi o seu grande amor. Os dias de Virgílio Eugénio são passados na drogaria, o seu principal negócio, onde atende os clientes - com a ajuda dos filhos - e aproveita para por a conversa em dia. Em 2002 adquiriu um espaço maior, à beira da Estrada Nacional 118, para ter melhores condições de atendimento aos clientes.A esposa está responsável pela loja de loiças e artigos funerários, no piso inferior da sua casa. Quando morre alguém e os familiares pedem os seus serviços, a esposa e nora vão para a drogaria enquanto Virgílio Eugénio e o filho tratam de todas as formalidades inerentes ao funeral. Quantos funerais tem por mês? “Poucos. As pessoas estão a aguentar-se”, diz, em jeito de brincadeira, reforçando que não anda à procura de serviços funerários e que este oficio é apenas um complemento para dar continuidade ao negócio fundado pelo pai.Virgílio Eugénio fez a quarta classe e começou a trabalhar com o pai mas aos seis anos já andava na oficina do pai a vê-lo trabalhar. Ainda é do tempo em que se construíam caixões à mão e fazia-os em miniatura para praticar e aperfeiçoar a técnica. Participou no primeiro funeral aos 10 ou 12 anos, não se recorda com precisão, talvez por isso não tenha problemas em lidar com a morte. Foi o próprio que tratou do funeral da mãe, embora o do pai já não o tenha feito. Até hoje foram os mais difíceis. Também lhe custa muito sempre que tem que fazer funerais de crianças e jovens. “Não é a lei natural da vida por isso custa mais”, reflecte.O comerciante costuma dizer a brincar que sempre acompanhou os clientes desde o nascimento até ao momento da morte. “Fazia os berços quando nasciam, construía as mobílias para a casa quando casavam e fazia os caixões quando morriam”, afirma bem disposto acrescentando que naquela altura a mãe levava os caixões à cabeça porque ainda não havia carrinha de transportes.A sua primeira profissão foi na carpintaria do pai. Uma actividade que Virgílio gostava de ter dado continuidade mas o pai decidiu fechar a oficina após a revolução do 25 de Abril e “empurrou” o filho para a drogaria. “Eu era o único rapaz e ele pôs-me à frente do negócio. Não era o que eu mais gostava mas nessa altura não pensei se gostava ou não. É um negócio e dei sempre o meu melhor sobretudo na relação com os clientes”, explica a O MIRANTE depois de uma pequena pausa na conversa para atender um cliente.Virgílio Eugénio confessa que nunca teve férias e se estiver mais de três dias sem fazer nada fica inquieto. Quando os filhos eram pequenos, no Verão, aproveitava quando um feriado calhava à segunda ou sexta-feira e ia de férias com a família. “Não sei estar parado”, admite. Confessa, no entanto, que as suas férias são o Benfica e é frequente ir ver os jogos ao estádio. Este ano não foi tantas vezes porque as coisas não correram bem ao “glorioso” mas gosta de ver os jogos dos encarnados ao vivo. O comerciante conta que já aconteceu combinar ir ver um jogo ao estádio e ter que cancelar os planos porque à última hora surgiu um funeral. “O trabalho é sempre prioritário”, afirma.Virgílio Eugénio considera que o segredo do sucesso dos seus negócios é muito trabalho. O comerciante da Carregueira está sempre disponível mesmo quando tem as lojas fechadas. “Se os clientes precisam de alguma coisa vão lá a casa e eu venho desenrascá-los. Estou sempre ao dispor”, sublinha.
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