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António Cardoso

António Cardoso

54 anos, Engenheiro Civil, Samora Correia (Benavente)

O meu rendimento anual teve uma quebra de 70 a 80 por cento. Tive de reorganizar a minha vida e cortar em muita coisa. Deixei de ir comer fora ou de encher o depósito do carro de gasolina.

É capaz de cozinhar só para si?Não, não tenho paciência. Quando estou sozinho preparo qualquer coisa rápida só para matar a fome. Não gosto de cozinhar, mas sei pelo menos estrelar um ovo (risos). Em Portugal ainda se vive muito da cunha?Se no tempo da outra senhora era preciso uma cunha, agora é preciso uma carrada delas (risos). Já ouvi muita gente dizer que não se tratava de uma “cunha” mas de “tráfico de influências”. Não só se vive muito da cunha, como está cada vez pior. Num momento em que o desemprego é grande, só se consegue arranjar alguma coisa através da cunha. Penso que a maior parte das pessoas olha para os políticos e pensa logo em cunhas. O dinheiro traz muita felicidade?O dinheiro não traz felicidade, mas ajuda... Se tivermos alguma segurança económica estamos mais tranquilos e isso até melhora a nossa relação com os outros. Portugal é considerado um dos países mais tristes da Europa. Somos um povo deprimido?Já percorri Portugal de norte a sul e constato que somos um povo lamechas por natureza e também subserviente. Falta-nos atitude. Somos bons em muitas coisas, mas depois não somos capazes de assumir que somos bons. No entanto, se aparecer aqui um mafarrico qualquer, de outro país, passa logo a trabalhar muito bem mesmo que ele seja incompetente. Se for um de nós aplicamos a lei do bota abaixo. Existem colectividades a mais no concelho de Benavente?Sim, o nosso concelho tem cerca de 40 colectividades. Temos várias equipas de futebol sénior e ranchos folclóricos, por exemplo. Para quê? Há pessoas com mais jeito e com menos, mas acabam por se dispersar no meio de tantos grupos. Se todos se unissem, conseguiríamos melhores resultados em termos desportivos. Em termos culturais já concordo que existam mais colectividades. A queda no sector da construção civil também o atingiu?O meu rendimento anual teve uma quebra de 70 a 80 por cento. Tive de reorganizar a minha vida e cortar em muita coisa. Deixei de ir comer fora ou de encher o depósito do carro de gasolina. Penso que esta crise também terá um efeito positivo. Vivíamos numa sociedade com uma atitude muito consumista e pode ser que isto nos ajude a moderar o consumo. Os jovens estão preparados para enfrentar as adversidades do futuro?Não sei, é algo que me preocupa. A geração dos meus pais sempre se preocupou em criar ferramentas para que os filhos tivessem uma boa vida, mas agora vejo os jovens a terem quase tudo de mão beijada. Não se preocupam muito com o futuro deles ou dos seus filhos, porque nunca tiveram de lutar para conseguirem ter as coisas. Penso que as coisas vão piorar não na próxima geração, mas na seguinte.Samora Correia ainda é uma boa terra para quem quer comprar uma casa?É uma boa zona para se comprar casa. Estamos rodeados de campos agrícolas e de uma grande área de charneca. Temos a zona industrial separada da zona habitacional. Estamos entre o rural e o urbano.
António Cardoso

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