Em criança pensou ser hospedeira de bordo para alimentar a paixão que ainda hoje possui por viagens. Mas quando foi preciso escolher um caminho a seguir Graça Ferreira da Silva não hesitou: medicina, especialidade em cardiologia. Filha do conhecido médico de Pernes (concelho de Santarém), Manuel Ferreira da Silva, a médica teve no pai o grande inspirador na carreira que construiu. Já lá vão cerca de quatro décadas.Graça Ferreira da Silva nasceu em Lisboa, cidade natal da mãe, mas viveu em Pernes até iniciar os estudos universitários na capital. Dois anos depois casou e foi viver para Coimbra, onde concluiu o curso. Iniciada a especialidade na cidade dos estudantes, dois anos depois, surge o convite para trabalhar em Macau. A jovem estudante de medicina acabou por permanecer durante ano e meio nos hospitais ingleses da Universidade de Hong Kong. “Foi uma experiência muito enriquecedora trabalhar com médicos ingleses e asiáticos. Nessa altura, aproveitei para conhecer todo o extremo oriente. Foi inesquecível”, recorda a O MIRANTE.Regressou a Coimbra onde terminou o internato e realizou o exame da especialidade. Nunca teve dúvidas em seguir cardiologia pois sempre foi a área que lhe despertou maior interesse. Quando teve que escolher uma cidade para trabalhar optou por voltar às origens, Santarém. A médica cardiologista nunca quis trabalhar em grandes centros urbanos. “Sempre considerei que podia ter um papel mais importante num meio mais pequeno e acho que consegui fazê-lo. Não me arrependo da decisão que tomei”, sublinha.Começou a trabalhar no Hospital Distrital de Santarém em 1981 e na mesma altura abriu o seu próprio consultório. O seu dia-a-dia é agitado. Todas as manhãs e durante uma tarde por semana está no hospital onde é directora do serviço de cardiologia desde 1994. Depois de almoço está na Clinica de Cardiologia – GFS - Serviços Médicos do Coração - onde trabalham seis cardiologistas, um especialista em medicina interna e um penumologista e seis tecnicos cardiopneumologistas e de onde nunca sai antes das oito da noite. Um trabalho cansativo e desgastante mas que Graça Ferreira da Silva adora e não trocaria por nada. “Todo o esforço vale a pena quando se faz o que se gosta”, afirma.A cardiologista diz que aprendeu com o pai a ter uma preocupação cívica com os pacientes. E foi por isso que criou a GFS - Serviços Medicos do Coração , um centro de diagnóstico cardiológico, que inclui cardiologia pediátrica e permite realizar todos os exames ao coração e detectar problemas nos doentes e conseguir evitar as doenças que possam surgir. “Ainda hoje me orgulho de ter criado o centro de diagnóstico cardiológico porque é uma mais valia para os pacientes da região”, realça.As doenças mais comuns relacionadas com o coração são angina de peito e enfarte do miocárdio. Quem sofre de diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto e obesidade deve ter cuidado porque são doentes de risco acrescido de doença cardiovascular. Também os doentes com apneia do sono - normalmente os homens - devem ter cuidado uma vez que têm maior propensão para desenvolver doenças cardíacas.O ataque cardíaco continua a ser uma das principais causas de morte em Portugal. Para prevenir é necessário fazer uma avaliação do risco cardíaco, ter cuidado com a alimentação, manter a tensão arterial equilibrada, não fumar e fazer exercício físico. A médica explica que não é necessário inscreverem-se num ginásio. Basta caminhar durante meia hora por dia.Graça Ferreira da Silva explica que existem famílias mais propensas a desenvolver doenças cardíacas. A médica aconselha a que cada pessoa tenha em atenção o historial médico da família. Se existem muitos casos de ataques cardíacos na família, a pessoa deve estar atenta e procurar o cardiologista, pelo menos, uma vez por ano para fazer um check-up.A cardiologista alerta ainda para o risco “enorme” que é consumir o chamado ‘lixo alimentar’ (junk food). “Hoje em dia as pessoas procuram muito esse tipo de comida porque é mais fácil e rápido mas não têm noção de que é comida altamente calórica, gorda, com muito colesterol e é isso que devem evitar se pretendem prevenir problemas cardíacos”, refere.