Há 38 anos que José Duarte Salgueiro está ligado à Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão
José Duarte Salgueiro, 57 anos, reformado, Santo Estêvão
José Duarte Salgueiro, 57 anos, começou a trabalhar aos 12 anos em oficinas de Santo Estêvão, concelho de Benavente. Três anos depois mudou-se para uma empresa em Vendas Novas, onde trabalhou como soldador e mais tarde como chefe de secção. O desgaste da profissão obrigou-o a colocar duas próteses na anca e a aposentar-se por invalidez. É um dos músicos responsáveis pela reactivação da Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão em 1974 e criar a Sociedade Filarmónica que nunca mais deixou. Desde a década de 90 que ocupa o cargo de presidente da direcção.
O meu primeiro brinquedo chegou aos nove anos. O meu pai era padeiro e a minha mãe trabalhadora rural. Nunca tivemos uma vida desafogada, mas também nunca passámos fome. Brincava com as outras crianças nas ruas de Santo Estêvão. Um dia fui com a minha madrinha à feira de Vila Franca de Xira e ela ofereceu-me uma pistola e uma camioneta em madeira. Foram os meus primeiros brinquedos. Quando um primo veio passar uma temporada à minha casa, destruiu-me a camioneta. Fartei-me de chorar, mas de nada serviu.Larguei os estudos quando deixei de ter os meus pais a supervisionarem. Terminei a quarta classe em Santo Estêvão, debaixo da alçada dos meus pais. Depois mudei-me para a casa de um familiar em Vila Franca de Xira, para estudar na escola industrial e comercial. O meu pai dava-me por semana 25 tostões para as minhas despesas. Sozinho, sem os meus pais em cima, andava mais a passear do que a estudar. O meu pai apercebeu-se e voltei para a terra para trabalhar. Entregava sempre o meu ordenado à minha mãe. Tinha 12 anos quando comecei a trabalhar numa oficina de serralharia e mais tarde de motos em Santo Estêvão. Era aprendiz e de vez em quando o patrão lá se lembrava e dava-me uma nota. Fui depois para uma oficina em Vendas Novas, no distrito de Évora, e lá é que comecei a ganhar o meu primeiro ordenado como soldador. Até ter carro, morava na casa de uns amigos e só vinha aos fins-de-semana a Santo Estêvão. O meu vencimento era para entregar à minha mãe. Quase saí da empresa quando o director me apanhou a observar as colegas. Era uma sexta-feira e só a minha secção é que estava a trabalhar. Eu estava sozinho no meu posto e estava a observar as colegas da linha de montagem. De repente apareceu o director e veio dizer-me que eu estava ali parado e que na segunda já não ia trabalhar. Depois veio o meu chefe confrontar-me com a situação e eu respondi que estava realmente a olhar para as colegas. O director voltou atrás e a partir dali foi o melhor amigo que tive na empresa. Penso que apreciou o facto de eu ter dito a verdade.Reformei-me por invalidez aos 50 anos. Tenho duas próteses na anca. Tinha de andar sempre de cócoras no trabalho e o corpo sofreu um enorme desgaste. As dores tornaram-se insuportáveis e tive de ser operado. Perto dos 40 anos deixei a parte da oficina e passei a chefiar uma secção e a estar mais tempo no escritório. Resolvi reformar-me porque a saúde não era muita e apesar de passar a ganhar menos, também poupava no combustível que gastava diariamente entre Santo Estêvão e Vendas Novas. Foi através da música que conheci a minha esposa. Fui com a banda filarmónica de Santo Estêvão a uma festa em Pegões Velhos. Estávamos a almoçar num pinhal quando reparei num casal com uma menina. Disse aos meus colegas a brincar que se continuassem a tocar eu ia buscá-la, mas eles achavam que eu não tinha coragem. Ela não queria, mas o meu futuro sogro só dizia “ó filha vai lá dançar com o senhor”. Mais tarde fui à casa dela com os meus pais. Foi a partir dali que começámos a escrever umas cartas e casei aos 27 anos. Há 38 anos que estou ligado à Sociedade Filarmónica de Santo Estêvão. Em 1974 um grupo de amigos juntou-se para reactivar a banda que já tinha existido. Depois criamos a colectividade. Integrei sempre a banda como músico. Toquei clarinete e agora toco contrabaixo. Sempre fiz parte da direcção e ocupo o cargo de presidente desde a década de 90. Já estou um pouco cansado e gostaria de dar lugar a outro, mas não tem aparecido gente com vontade. O resto do meu tempo é passado na junta de freguesia, onde ocupo o cargo de tesoureiro, e com a família. Eduarda Sousa
Mais Notícias
A carregar...