“Somos todos mais racistas e xenófobos do que aquilo que pensamos”
Investigador Francisco Lima Costa diz que empresas da região não souberam aproveitar qualificações dos imigrantes
Estudar a importância das migrações e dos seus contributos culturais é o trabalho de Francisco Lima Costa, investigador da Universidade Nova de Lisboa que vive em Vila Franca de Xira desde a juventude. Diz que a região não soube aproveitar a vaga de imigrantes altamente qualificados que acolheu na última década. Antevê que a crise económica vai levar a um aumento da discriminação para com os estrangeiros e lamenta que Vila Franca seja uma “cidade fantasma”.
O agravar da crise económica vai levar a um aumento dos casos de discriminação racial para com os imigrantes, antevê Francisco Lima Costa, sociólogo e investigador de Vila Franca de Xira. “Somos mais racistas e xenófobos do que aquilo que pensamos. Temos a ideia de que somos um povo muito acolhedor mas isso é mentira. Hoje em dia somos frios, brutos e, infelizmente, vamos ficar menos tolerantes”, lamenta a O MIRANTE o investigador do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa.Francisco Lima estuda as migrações e a importância do contributo cultural que estas trazem para as cidades. “Os imigrantes têm um peso muito importante para cidades como Vila Franca ou Santarém. Infelizmente as nossas empresas não souberam aproveitar as elevadas qualificações destas pessoas, sobretudo da população do Leste europeu. O equilíbrio da Segurança Social assenta nos imigrantes porque estamos a caminhar para sermos os mais envelhecidos da Europa, a par com a Alemanha. Se todos os imigrantes fizessem greve o país parava”, vaticina.Para o investigador, “estarem a mandar os jovens portugueses emigrarem é um retrocesso social”. “Andamos a gastar imenso dinheiro a formar engenheiros e doutores para depois as empresas estrangeiras virem buscá-los a baixo preço. Temos uma visão limitada”, critica. Devido à sua proximidade com Lisboa o concelho de Vila Franca de Xira é hoje um dos principais fornecedores de mão-de-obra da capital. O crescimento do concelho deveu-se às indústrias e aos bons campos para agricultura que, nos anos 50 e 60, ajudaram a fixar população vinda do interior rumo a novas perspectivas de emprego. Mas hoje, “infelizmente Vila Franca é a maior cidade fantasma de toda a área metropolitana de Lisboa”. Para Francisco Lima a eventual instalação de um aeroporto de baixo custo em Alverca não vai mudar os fluxos migratórios. “As dificuldades continuarão e penso que não vai criar qualquer interferência”, defende.Projecto “A pé para a escola” falhou por desinteresse dos paisO investigador foi também responsável do projecto “A pé para a escola”, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, onde um grupo de pais acompanhava grupos de alunos a pé até à escola e de volta a casa. O projecto-piloto foi lançado nos concelhos de Loures e do Barreiro, em 2010. A Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira, ainda sob a gestão de José Fidalgo (PS), tentou também implementar o projecto na cidade mas a exemplo do que aconteceu nas outras duas localidades foi cancelado por falta de interesse dos pais. “Fico triste porque era um projecto muito interessante, socialmente aceite, sustentável e amigo do ambiente”, diz Francisco Lima.Para desenvolver Vila Franca não basta haver largadas de toirosVila Franca de Xira só poderá desenvolver-se com maior dinamismo comercial e envolvimento das forças vivas da cidade, defende Francisco Lima. “São precisos eventos nas ruas que façam as pessoas sociabilizar, interagir e criarem modelos de inovação entre si. Não basta ter largadas de touros, é preciso criar outros eventos que estimulem as pessoas a vir para a rua”, defende. O investigador acredita que a nova biblioteca da cidade pode ser importante para estimular a população. “Mas é preciso criar espaços de atracção senão vai ficar às moscas”, vaticina.O homem que sonha ir à lua e escrever um livroFrancisco Lima Costa tem 51 anos, nasceu em Valença do Minho. Foi muito novo para Vila Franca de Xira com os pais e irmão. Divide os seus dias entre a pacata localidade de Badalinho e Lisboa, onde trabalha. Tem um filho e uma neta, vai sempre de carro para o emprego e a sua área nuclear de trabalho são as migrações. Está envolvido no projecto de candidatura da cultura avieira a património nacional, a convite do Politécnico de Santarém. Com os elementos que recolheu acredita que a migração dos pescadores de Vieira de Leiria se deveu a variações climáticas. Costuma dar esmolacompra no comércio local em Cotovios, Alhandra e Alverca. Não é fã da festa brava, apesar de às vezes ser convidado para aparecer em algumas tertúlias. De futebol só gosta da selecção nacional. Só lê livros relacionados com o trabalho. Gosta de agricultura e antes de morrer quer escrever um livro de ficção histórica. A viagem de sonho seria à Lua.
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