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“Não quero abdicar da minha felicidade para construir um império”
Saul Baptista, advogado, 36 anos, Santarém
Fui contratado por uma sociedade de advogados da avenida 5 de Outubro, em Lisboa, mas só lá estive uma manhã. Percebi que não era lá o meu lugar. Em Santarém tinha mais oportunidade de singrar. Depois de algumas horas a pensar liguei ao meu pai, que tinha um escritório de solicitadores, e perguntei-lhe se me aceitava lá. Queria começar do zero, conquistar os meus clientes e fazer os meus horários. Foi também pretexto para acompanhar o meu pai que estava doente e faleceu dois anos depois. Vim para advocacia um pouco por influência do meu pai, mas hoje gosto daquilo que faço. Muito do que sou devo-o ao meu pai, ao resto da família e ao meu patrono. Orgulho-me de ter estudado numa das melhores faculdades de Direito. Tenho saudades do tempo de estudante. Preocupei-me em estudar mas também em viver a vida académica. Fiz parte da associação de estudantes. Resolvo cada um dos casos dos meus clientes como se fosse um problema meu. Costumo dizer que tenho os meus problemas e mais mil problemas de todos os clientes. Gosto de trabalhar em qualquer área. Esforço-me para que o cliente fique satisfeito. Defendo-o até às últimas instâncias. Tenho um leque de clientes aceitável. É claro que poderia ter mais e seriam bem vindos e é por isso que trabalho todos os dias. Faço os meus próprios horários. Começo às 08h30 e normalmente não acabo antes das 20h00. Não levo trabalho para casa a não ser que seja uma coisa muito urgente. Não gosto de misturar o trabalho com lazer embora por vezes estejamos em casa a pensar nos problemas dos clientes. Deixei o projecto de casar e constituir família um pouco para trás. Dei prioridades a coisas que achei mais importantes. Gosto de andar de mota. Tenho uma Honda 600. É uma das minhas paixões pelo espírito de liberdade que proporciona. Gosto de velocidade. Já tive alguns sustos mas não me serviram de emenda. Se estiver a pensar nisso não vivo. Fiz natação e cheguei a ser campeão do distrito de Santarém mas agora só pratico esporadicamente. Gosto de ler e fazer surf. Gosto de jogar à bola com os amigos. Tenho um outro grupo com quem me junto uma sexta-feira por mês para jantar e beber uns copos. Sei passar a ferro e limpar a casa mas não tenho paciência. Foi por isso que contratei uma empregada. Muitas vezes só vou a casa para dormir. A única coisa que faço é cozinhar. Gosto de fazer lombinho no forno com cebolas e batatas. Leva-se ao forno e dá pouco trabalho. Tornei-me uma pessoa mais religiosa depois da morte do meu pai. Na altura perdi-me um pouco e acreditar deu-me forças para retomar o caminho. Acho que se deve ter fé. É importante acreditar em alguma coisa. Acredito que Deus existe e que olha por nós. Tudo o que nós fazemos tem consequências e por isso tento ser a melhor pessoa possível. Tenho 36 anos mas sempre que posso sou um pouco rebelde. Sempre fui uma pessoa aventureira. A viagem mais marcante que fiz foi a Cuba. Não só pela história do país mas pela cultura, que é totalmente diferente. Revejo-me nesse espírito de liberdade e rebeldia. Foi um país que me fascinou pelo modo de vida mas também pelas dificuldades que passam devido ao regime. Isso deu-me outra visão da vida. Se alguma vez entrar a sério na política será para lutar por ideais e princípios. Em política passam-se por vezes coisas que vão além disto. Funcionam os acordos e palmadinhas nas costas. Não prevalece a lei mas os interesses partidários. Já tive uma experiência nas últimas eleições autárquicas. Integro a Assembleia de Freguesia de Azóia de Cima. A política por enquanto são os amigos, a família e o trabalho. Não quero abdicar da minha felicidade para construir um império. É preciso contrariar as dificuldades para se conseguir o que se quer, mas nunca nos podemos esquecer de sermos felizes. As pessoas às vezes esquecem-se delas próprias. Espero nunca me esquecer de ir tentando ser feliz.Ana Santiago
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