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Sempre quis criar os meus filhos numa aldeia com qualidade de vida

Sempre quis criar os meus filhos numa aldeia com qualidade de vida

Filipe Baptista, 42 anos, presidente da Junta de Freguesia de Espite, Ourém

Nasceu em Espite, no concelho de Ourém em 1969. Entre os dois e os sete anos viveu em França, país para onde os pais emigraram. Licenciou-se em Engenharia Química, em Coimbra. Em 2009 foi eleito presidente da junta pelo PSD. Diz que tem pena de não poder fazer mais pela freguesia e lamenta a desertificação que esta enfrenta. É casado e tem dois filhos gémeos.

Em criança dizia que queria ser padre e bombeiro mas não fui um nem outro. Licenciei-me em Coimbra em Engenharia Química e pensei em ficar a dar aulas na Faculdade mas desisti da ideia e depois de concorrer fui colocado numa escola em Caxarias, onde dou aulas de Físico-Química e onde sou subdirector. Sou presidente da Junta de Freguesia de Espite, eleito pelo PSD, desde 2009. De Lisboa só gosto da placa a dizer A1 Norte. Sempre tive o sonho de poder criar os meus filhos numa aldeia, com bastante qualidade de vida. Viver numa cidade para mim é atrofiante. Aqui posso abrir a janela, ouvir pássaros, ver coelhos no meu quintal, fazer barulho sem incomodar os vizinhos. São estes pequenos prazeres que dão sal à vida e superam todos os outros das grandes cidades. E depois, se quero ir ao cinema ou ao teatro faço vinte quilómetros e estou lá. Tenho dois filhos gémeos, um rapaz e uma rapariga. A minha esposa também é professora como eu. Somos casados há 14 anos e namorámos nove. Ainda ponderámos ir viver para Leiria mas por causa de querermos ter filhos optámos por vir viver para Espite, a minha terra natal. O principal problema de Espite é a desertificação. É das freguesias do concelho que tem o maior índice de envelhecimento. A maioria das pessoas que aqui vive são ou foram emigrantes. Quem tirou um curso superior trabalha fora. A crise levou muitas empresas ligadas à construção civil a falir e nota-se um aumento do fluxo de emigração. A taxa de natalidade piorou. O ano passado nasceram nove crianças e faleceram trinta e tal pessoas. A única hipótese passa pela criação de empregos ou pela agricultura. Desde que passei a viver cá sempre gostei de participar na vida cívica. Fui membro da assembleia de freguesia durante oito anos. O anterior presidente da junta, que esteve cá 24 anos, achou que não se devia recandidatar e o Dr. Vítor Frazão, que era o candidato à câmara pelo PSD, convidou-me. Achava que não tinha perfil mas recebi o incentivo de amigos e da família. Quando ganhei, foi um misto de felicidade com tristeza porque o PSD perdeu na câmara mas acho que tem corrido bem. Há quatro anos concordava plenamente com a reforma administrativa mas agora tenho algumas reservas. Há freguesias, especialmente as mais rurais, que são o pilar da comunidade que ali vive e que se forem extintas vão penalizar muito as pessoas. O presidente de junta é visto como alguém que tem poder mas desconhecem que este é muito limitado. Podemos decidir mas temos que ter sempre o apoio da autarquia. Acho que devíamos ter mais competências. Francamente, sinto-me de mãos atadas. Sou uma pessoa fria no primeiro contacto que estabeleço com os outros. É um dos meus defeitos porque acabo por deixar uma primeira impressão errada. Um presidente de junta não pode ser encarado como uma pessoa distante porque tem um papel conciliador. Tento vir à junta todos os dias, ao fim do dia. Faço atendimento à quinta-feira e ao domingo de manhã trato de assuntos burocráticos. À noite desligo o telemóvel até porque tenho o sono pesado. Sou uma pessoa realista e tento sempre tirar algo bom das situações menos positivas. Ocupo os meus tempos livres a ler, ver televisão, ir ao cinema e a acompanhar os filhos nas suas actividades. Gosto de cozinhar mas é raro. Sou teimoso e dizem que tenho mau feitio. Em algumas situações, reajo a quente mas não guardo rancor a ninguém. O meu lema é ser feliz. Tento encontrar a felicidade em pequenas coisas.Elsa Ribeiro Gonçalves
Sempre quis criar os meus filhos numa aldeia com qualidade de vida

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