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Nem os toiros nem o futebol travaram aspirantes a actores

Centro Cultural do Cartaxo inicia novo projecto de teatro comunitário
É dia de jogo de Portugal no Europeu de Futebol. As ruas do Cartaxo nessa tarde de sol têm menos movimento que o habitual. A rua frente ao edifício do Centro Cultural está transformada numa arena. Indiferentes aos toiros, que saem mais logo na manga, e ao futebol, estão os aspirantes a actores que aguardam no hall do Centro Cultural a audição para mais um projecto de teatro comunitário. Isabel Coelho, 52 anos, residente no Cartaxo, deixou por uma tarde as malas e chapéus em trapilho e decidiu dar corpo a outra paixão. Integrou o elenco da primeira peça de teatro comunitário “Um Marido Ideal”, de Oscar Wilde, apresentada em Abril, e tem esperança de voltar a ser seleccionada para “O Crime de Aldeia Velha” de Bernardo Santareno. “Estou desempregada. Para não apanhar uma ‘depré’ [depressão] decidi vir. Sempre fui muito virada para as artes”, confessa debruçada sobre o banco de madeira na entrada do Centro Cultural ao lado de Daniel Santos, que participou igualmente no anterior espectáculo. A filha de Isabel Coelho apoia-a a “600 por cento”. O marido não podia estar mais em desacordo mas não é por isso que a artesã deixa de sair de casa. Enquanto Isabel Coelho ensaia um monólogo, falando ininterruptamente, Daniel Santos refugia-se no telemóvel. Manda mensagens e espreita o que se passa nas redes sociais. Veio sozinho. A namorada está em exames e por isso não o acompanhou mas apoia-o à distância. O voluntário dos Bombeiros de Azambuja, 21 anos, futuro marinheiro, calçou sapatilhas e apresentou-se de calcões e piercings. Acredita que mais do que o aspecto visual conta o mérito. Mora em Casais Penedos (Cartaxo). Gosta de futebol e de toiros mas hoje estabeleceu de maneira diferente a sua lista de prioridades. “Mesmo se a audição me tivesse tomado toda a tarde não teria importância. Deixaria de ver o jogo se fosse preciso”, garante já depois de avaliado.Na sala do piso inferior, no Centro Cultural do Cartaxo, o encenador Frederico Corado, filho de Lauro António, acompanhado de Susana e João, reconhece e cumprimenta Isabel. Na hora de escolher uma personagem Isabel hesita. Frederico simplifica com a frontalidade: “Está a convencer-me a escolhê-la para participar no espectáculo. Faça o que entender”, avisa. Os resultados da audição só serão conhecidos daí a duas semanas para mal dos pecados de Isabel que queria sair dali a saber se iria alinhar no elenco. Frederico tranquiliza-a. Isabel rouba-lhe mais dois beijos na face, promete sandes de porco preto e faz soltar outras quantas gargalhadas. A hora do jogo aproxima-se e entra em cena Sónia Mendão, 34 anos, técnica de animação cultural, desinteressada sobre o que se passará dali a poucos minutos no campo. Escolheu a hora para fugir à enchente. No ano passado uma gripe deixou-a de quarentena, longe do palco, e este ano não quis deixar a oportunidade escapar. Não tem pretensões a actriz. Quer divertir-se. Gostou do resultado do espectáculo anterior. “Foi interessante ver amigos e vizinhos em palco num espectáculo de qualidade”. Frederico está encantado com as cartaxeiras e não tem dúvidas de que o próximo espectáculo terá muita qualidade. Durante os dois dias de audição, 20 e 21 de Junho, responderam ao desafio 120 pessoas. Frederico recebe mais três mulheres para a audição. Homens precisam-se, queixa-se. Elas estão em maior número. Sinal dos tempos, também há homens que têm dificuldade em participar porque as mulheres controlam a hora de chegar a casa. Um dos candidatos a actor aproveitou uma saída da mulher para fazer a audição mas terá que pedir autorização para participar no espectáculo. Um espectáculo com a prata da casa Nos dias 9, 10 e 11 de Novembro o Centro Cultural do Cartaxo vai receber o espectáculo de teatro “O Crime de Aldeia Velha”, de Bernardo Santareno. Em palco estarão apenas actores amadores. Trata-se da segunda experiência de teatro comunitário que se iniciou este ano em Abril com a apresentação da peça de Oscar Wilde, “Um marido ideal”. O encenador Frederico Corado, filho de Lauro António, trabalhou com Filipe La Féria e é o responsável por montar de raíz um espectáculo apenas com pessoas da comunidade e sem profissionais à mistura. Para o director do Centro Cultural do Cartaxo, Marco Guerra, o espectáculo de teatro comunitário, mais do que possibilitar o acesso a um palco a pessoas que não estão ligadas à arte, é também a oportunidade para formar novos públicos. “Se fosse uma companhia de Lisboa a apresentar “Um Marido Ideal” provavelmente muita gente não teria vindo. Ressalvo que este foi um espectáculo de muita qualidade”.

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